O que para muitos é descartável e vai para o lixo, para outros pode significar esperança,
alimento na mesa e sono tranquilo. Vivendo em uma casa de
taipa e lona improvisada junto
com três filhas e uma neta, de
21, 15, 13 e 5 anos, dentro do lixão da cidade de São José dos
Ramos, Luiz Antônio de Souza,
de 64 anos, diz que é do lixo que
ele tira seu sustento. “Antes eu
catava lixo em várias cidades.
Quando achei esse lixão, dormi
dois dias embaixo de uma Ju-
rema, achei uns paus, montei
meu barraco e trouxe minha
família. A vida é difícil, mas não
falta pão na mesa”, declarou. A
cidade em que Luiz Antônio
vive faz parte do total de 204
que, segundo levantamento do
Ministério Público da Paraíba,
continuam depositando seus
resíduos em lixões sem planejamento para criação de aterros.
É com orgulho que Luiz Antônio relata como construiu sua
casa de três quartos, sala e cozinha, e como, dia a dia, trabalha para garantir o alimento na
mesa com o dinheiro da reciclagem. Ele veio de Pernambuco
para a Paraíba onde, por conta
de dificuldades, teve que passar
a catar lixo para sobreviver. Em
uma dessas andanças, encontrou no lixão do município de
São José dos Ramos a possibilidade de novamente ter um lar.
Lá, ele reside há seis anos. Sem
energia elétrica, água tratada
ou saneamento básico, e ainda
sem acesso a nenhum benefício
social, Luiz revela que chega a
se sentir esquecido.
“Eu luto, mas não posso dar
muito, lamento por não poder
dar uma vida melhor para as minhas filhas. Às vezes eu sinto que
a gente é esquecido. Aqui é esquisito, então eu não deixo elas
saírem muito de casa. Quando
dá 18h já estamos todos nas camas, quietinhos", ressaltou.
Para ter um pouco de iluminação, candeeiros improvisados fazem as vezes das lâmpadas. Um local improvisado
atrás da casa serve de banheiro e para ter água, um moinho
localizado nas redondezas é a
fonte que abastece baldes, estes são levados por Luiz com
a ajuda de suas filhas, tendo
em vista que seus braços não
o deixam trabalhar mais sozinho. No lixão as meninas também já têm que ajudar. Para
uma delas, Adriene Maria de Sousa, não há problema em
ajudar seu pai. “Às vezes é bom
porque a gente acha umas coisas, como brinquedo”, disse.
Um sorriso no rosto é inesperado, mas presente. É com
esse sorriso que as filhas de
Luiz encaram a vida, agradecendo por cada ursinho, roupa,
sapato e até celular encontra-
dos no lixo. E a alegria da noite
delas é justamente um celular.
Prefeitura garante
solucionar problema...
A reportagem tentou entrar em contato com o prefeito do município de São
José dos Ramos, Eduardo de
Lima, contudo não obteve
êxito. A assessoria do prefeito atendeu às ligações e se
pronunciou revelando que
a cidade existe há quase 20
anos e a prefeitura comprou
o terreno em que Luiz mora
com o objetivo de ter uma
destinação para o lixo. Face
à necessidade de solucionar
o problema, a prefeitura realizou um consórcio com outras 12 prefeituras para construção de aterro sanitário. A
assessoria revelou que esse
processo já está adiantado e
a previsão é de que seja dado
encaminhamento logo que as
cidades recebam verba por
parte do governo federal.
Com relação à situação
de Luiz Antônio, a assessoria
do prefeito disse que ele não
morava na cidade e assim que
se mudou para o local passou
a ser assistido pela prefeitura,
que o cadastrou em programas sociais, dentre os quais
o 'Minha Casa, Minha Vida'.
No ano passado, 11 casas foram entregues, mas Luiz não
foi beneficiado porque outras famílias estavam na sua
frente com documentações
inclusive já encaminhadas à
Companhia Estadual de Habitação Popular (Cehap).
Atualmente outras 20 famílias vivem em casas de taipa em uma comunidade do
município também à espera
de moradias, contudo, a assessoria do prefeito reconhece
que a situação mais preocupante é a de Luiz e sua família.
A assessoria destacou que
um terreno já foi comprado
pela prefeitura no Centro da
cidade para a construção de
outras casas, contudo, os recursos estão sem previsão de
serem recebidos. Assim que o
forem, eles serão destinados à
construção dessas casas que
terão dentre os beneficiários
Luiz. JORNAL DA PARAÍBA