domingo, outubro 23, 2016

Jornal Correio da Paraíba - Derrotados abandonam governos.


Em ITABAIANA, escolas fechadas, postos de saúde sem médicos, lixo nas ruas. Sem pagamento, os profissionais pararam de atender a população. O Samu parou de funcionar, a maioria dos atendentes foram demitidos. Médicos da policlínica foram dispensados, sendo seis especialistas... 

CAOS. Municípios paraibanos enfrentam dificuldades com o ‘sumiço’ de prefeitos das administrações públicas ... 

Diante da derrota nas urnas prefeitos de alguns municípios paraibanos estão abandonando as administrações municipais. São salários de servidores atrasados, Postos de Saúde da Família (PSFs) fechados ou sem médicos e até mesmo lixo acumulado pelas ruas. A população acusa os gestores de descaso e reclamam da situação de caos. 

O advogado especialista em Direito Administrativo e Gestão Pública, Marco Villar, que compõe Comissões de Transição em alguns municípios, disse que a situação preocupante acontece em cidades como Alhandra, Curral de Cima e Riachão do Poço. Segundo ele, a sensação é de que os prefeitos estão tomando todas as medidas para prejudicar os sucessores eleitos. 

“Estão adotando posturas não republicanas a exemplo de incorporação de gratificações, aumento na folha de pessoal e realizando parcelamento da previdência, o que vai onerar o próximo prefeito de forma substancial. Além dos concursos públicos que tinham sido realizados há dois anos e que agora os aprovados estão sendo convocados”, revelou o advogado. 

Marco Villar disse ainda que em Juazeirinho o atual prefeito pretende convocar cerca de 240 aprovados no último concurso públ ico, realizado há quatro anos. “Só agora o atual prefeito quer fazer a convocação justamente para que o prefeito eleito já assuma com essa responsabilidade do pagamento. Então são esses tipos de posturas que estão prejudicando os prefeitos eleitos. E não existe nenhuma medida que esteja sendo tomada para coibir essas práticas por parte do Tribunal de Contas ou dos órgãos judiciários, porque o Tribunal se preocupa em que haja a transição, mas quanto essas atitudes que estão sendo tomadas, não existe qualquer ação”, disse.

PSFs E ESCOLAS SEM FUNCIONAR... Outras situações de descaso com a coisa pública também acontecem em mais municípios do Estado. Em Desterro, por exemplo, a prefeita Rosângela Leite (PSB) teria determinado o fechamento do Hospital Maternidade e postos de PSFs, além de estar atrasando o salário de servidores. O secretário de saúde, Rubens Marques, disse que vai investigar o que aconteceu para o fechamento do Hospital e dos Postos, mas adiantou que o Hospital não é municipal e que os postos estão funcionando normalmente. 

Em Itabaiana, escolas fechadas, postos de saúde sem médicos, lixo nas ruas. Sem pagamento, os profissionais pararam de atender a população. O Samu parou de funcionar, a maioria dos atendentes foram demitidos. Médicos da policlínica foram dispensados, sendo seis especialistas. Na cidade de Carrapateira, no alto Sertão, a população está sem água. Desde que perdeu as eleições por 28 votos, o atual prefeito André Pedrosa, não se preocupou mais em abastecer a população. A denúncia foi feita pela prefeita Eleita, Marineide. “Desde que perdeu as eleições o prefeito abandonou a cidade, hoje Carrapateira está sem médico, sem remédio e sem água”, disse. A reportagem entrou em contato com as prefeituras citadas, mas não obteve resposta da maioria delas.

MPPB DE OLHO NAS GESTÕES... 
A coordenadora do Centro de Apoio Operacional às Promotorias do Patrimônio Público e promotora do Patrimônio Público em Santa Rita, Anita Bethania Silva, reconheceu a situação de dificuldade de alguns municípios paraibanos causada pelo descaso de alguns prefeitos. Ela revelou que alguns promotores já ingressaram com ações civis públicas para evitar que a população seja penalizada. A promotora também destacou a situação vivida pelo município de Santa Rita. “Ingressamos com uma ação para que o pagamento dos funcionários fosse executado. São diversos servidores que estão parados por não receberem seus salários e a população está sendo a maior prejudica da, sem atendimento nos Postos de Saúde e sem aulas nas escolas”, afi rmou. Em Araruna, a Promotoria de Justiça ingressou com uma ação civil pública com pedido liminar contra o Município de Araruna para obrigá-lo a pagar integralmente os salários em atraso de todos os servidores, contratados e agentes políticos municipais. A ação requereu ainda que o Município seja obrigado a efetuar mensalmente o pagamento do funcionalismo para depois quitar as demais dívidas. Para garantir a decisão liminar, o Ministério Público indicou a possibilidade de bloqueio de valores depositados em contas bancárias do Município para pagamento via judicial, o afastamento do gestor municipal quanto à administração da folha de pagamento e a designação de um administrador judicial específi co para a gestão do pagamento de pessoal da prefeitura. De acordo com a promotora Anita Bethania, os prefeitos que estiverem abandonando as administrações podem ser enquadrados e punidos nas esferas cível e criminal. Ela disse que o ato de abandono gera prejuízo a população e se enquadra em improbidade administrativa. “se condenado na esfera cível, o prefeito pode perder o cargo, ter suspenso os direitos políticos, ser multado ou pagar indenizações”, destacou.

TCE FAZ ALERTA SOBRE PENALIDADES... 
O vice-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), André Carlo Torres, disse que o órgão está atento a esse tipo de conduta por parte de muitos prefeitos paraibanos. Segundo ele, o exemplo disso é a vigilância permanente que o Tribunal está tendo com o município de Santa Rita. “Casos assim devem ser denunciados ao Tribunal de forma objetiva para que ele possa instaurar um processo para apurar e aplicar as sanções que a legislação estabelece”, explicou o conselheiro. De acordo com ele, o TCEPB tem orientado os gestores através de carti lha transição de fi nal de gestão e início de gestão, para os que deixam o mandato naturalmente procurem quitar as suas obrigações no município para não deixá-las para a próxima gestão. “Esse tipo de conduta pode levar a reprovação das contas com emissão de parecer contrário. À Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) foi adicionada uma lei penal 10.028 que qualifica esse tipo de conduta, de deixar obrigações para o mandato seguinte, como crime. Isso também pode gerar repercussão negativa também para o gestor na esfera judicial”, alertou o vice-presidente do TCE-PB.

JORNAL CORREI... domingo, 23 de outubro