sábado, julho 22, 2017

Eleitor vai à urna por obrigação.

O fim da obrigatoriedade do voto é um dos pontos em discussão na proposta de reforma política que tramita fatiada no Congresso Nacional. Segundo 80% das pessoas ouvidas pela reportagem do Jornal Correio da Paraíba, elas não compareceriam às urnas para exercer o direito caso pudessem. Apenas 20% delas responderam que se fariam presentes para garantir a vitória do seu candidato. Os especialistas acreditam que entre os motivos que levam o povo a não querer votar está a criminalização da política no país.

A descrença na classe política é uma das principais razões apresentadas pelas pessoas.

O cientista político Ítalo Fittipaldi acredita que o desgaste apresentando diariamente na imprensa, que tem mostrado casos de corrupção constantes, é uma das causas que leva a crise política que dificulta a representação.

O professor alegou que atualmente há uma campanha de criminalização da política, pois o tema é geralmente tratado como algo negativo. “Quando você apenas mostra esse lado, termina criminalizando a política e faz com que as pessoas entendam que a via política não é o melhor caminho para você resolver os conflitos com a sociedade”, explicou Ítalo Fittipaldi.

O especialista defende o voto facultativo, mas acredita que talvez a ausência da obrigatoriedade não fosse suficiente para realizar um pleito mais consciente, pois não se sabem se só os mais entendidos do tema votariam. “O fato é que se você tira a política, esses problemas não serão resolvidos. Esse é o grande perigo. Esse lado negativo faz com que as pessoas tenham esse sentimento de afastamento e as pessoas terminam querendo despolitizar o poder público, o Executivo, em função de uma política pública. Políticos corruptos não são todos. Também temos médicos, advogados, engenheiros, entre outros que são corruptos, justificou o professor. Ítalo Fittipaldi explicou que a falta de interesse alimentada pela crise política atual é bastante apreensiva, pois a abstenção de votos pode atrair a necessidade de regimes como o da ditadura.
Distanciamento da política

A falta de envolvimento político é outra opção que pode levar muita gente a não querer comparecer às urnas durante o pleito, disse o cientista político. “Essa falta de interesse compromete também o surgimento de novas lideranças. Você não tem que alegar que não confia nos políticos, você tem que saber em que está votando. Isso sim que é o mais importante. Eu acho que o voto não deveria ser obrigatório, pois quero acreditar que hoje já há uma maturidade mínima necessária para conseguir tirar essa obrigatoriedade”, comentou Fittipaldi.

Para convencer o brasileiro a ir às urnas, de acordo com Ítalo Fittipaldi, as campanhas eleitorais devem ser educativas, mostrando as diferenças entre os trabalhos do Executivo e do Legislativo, além de explicar a importância do voto. “Informar é preciso para mudar a mente da maioria. Qual o papel da política na sociedade? O cidadão precisa entender isso para mudar o pensamento. A democracia é quem faz o papel de resolução temporária de conflito”, comentou.

Ele entende e consegue enxergar pontos positivos nos dois sistemas eleitorais (o obrigatório e não obrigatório), Mas acha que ainda é preciso insistir que as pessoas votem.

MESMO OBRIGADO, ABSTENÇÃO JÁ É ALTA
Apesar de o voto ainda ser obrigatório no Brasil, nas últimas quatro eleições a abstenção na Paraíba tem ficado acima dos 12%. Sendo que nos pleitos gerais (estaduais e federais) tiveram os maiores índices, acima de 17,5%. Mesmo sendo nas eleições municipais os menores índices de ausência dos eleitores às urnas, registrou-se no ano passado que em 19 municípios, mais de 20% não compareceram. Em quatro cidades 25% do eleitorado faltou às eleições. A enquete realizada pelo Correio também oportunizou descobrir que algumas pessoas acreditam que não tem mesmo a capacidade de provocar as mudanças que consideram necessárias para o desenvolvimento político da sociedade. “Eu não votaria de jeito nenhum. Hoje em dia não vale nem a pena sair de casa para tentar mudar qualquer coisa que seja. O congresso está cheio de sujeira e nós não conseguimos mudar exatamente nada, pois todo o poder fica apenas nas mãos deles”, desabafou Jorge Genuíno da Silva. Ainda assim, a minoria esperançosa considerou que a presença na urna é a única garantia de caminhar para melhorar a administração do País. “Eu vou continuar votando porque o meu maior desejo é trocar todos esses que atualmente estão no poder. Nós merecemos uma mudança completa”, disse Lenilson Linhares. Outra solução apontada pelo cientista Ítalo Fittipaldi é a de que os partidos precisam voltar a ser ideológicos. “Isso contribuiria para diminuir a descrença”, destacou.

Jornal Correio da Paraíba