sábado, agosto 05, 2017

A Capital completa 432 anos.


Eventos religiosos, culturais e serviços públicos fazem parte da programação deste sábado, quando se comemora os 432 anos de João Pessoa. Tanto Prefeitura Municipal quanto Governo do Estado têm atividades gratuitas durante todo o dia de hoje.

A programação religiosa deste sábado começa às 9h na Catedral Basílica de Nossa Senhora das Neves, ocasião em que o arcebispo Dom Delson receberá a imposição do Pálio Arquiepiscopal das mãos do Núncio Apostólico no Brasil, Dom Giovanni d’Aniello. Às 15h tem a recitação do Santo Terço, organizado pelo Terço dos Homens, e a partir das 16h a Santa Missa de encerramento da Festa das Neves, seguida de Procissão.

Na programação cultural, a partir das 17h, o grupo Cavalo Marinho Infantil se apresenta no Ponto de Cem Réis, seguido por Mulheres do Cangaço (17h40), Nau Catarineta (18h30), Nelson Roberto (19h10) e Fernando Sombra (20h30). A grande apresentação da noite fica por conta do “Príncipe dos Teclados”, Zezo.

Às 20h30, Cátia de França e Nathalia Bellar, juntas aos 96 músicos da Orquestra Sinfônica da Paraíba e da Orquestra Sinfônica da Paraíba Jovem, se apresentam no Teatro Pedra do Reino, no Centro de Convenções. A entrada é gratuita.

No repertório do oitavo concerto oficial da Orquestra Sinfônica da Paraíba, clássicos da música popular brasileira, a exemplo de Meu Sublime Torrão, de Genival Macêdo; À Primeira Vista, de Chico César; Admirável Gado Novo, de Zé Ramalho; e A Lua e Eu, de Cassiano.

O maestro Luiz Carlos Durier, regente, falou das expectativas para o concerto. “É um repertório que irá emocionar o público que comparecer ao Teatro Pedra do Reino, já que terá músicas muito representativas da nossa Capital, que chega aos 432 anos. Este ano, temos como convidadas Cátia de França e Nathalia Bellar, com músicas muito presentes na memória coletiva”, disse.

Serviços. A partir das 9h, no Parque Sólon de Lucena, a Superintendência de Mobilidade Urbana de João Pessoa (Semob) vai emitir credenciais para idosos que desejam estacionar em vagas exclusivas. O requerente precisa levar uma foto 3X4 recente e colorida, Carteira Nacional de Habilitação (CNH) ou RG e comprovante de residência atual, mostrando que mora em João Pessoa.

Trânsito. Agentes de mobilidade urbana estarão no entorno do Parque da Lagoa, a partir das 6h, orientando o trânsito nas imediações. Um trecho da Av. Camilo de Holanda será bloqueado (faixa da esquerda entre a Princesa Isabel e o Parque Sólon de Lucena). Ressalta-se que a faixa da direita estará liberada para o tráfego de acesso ao Parque da Lagoa, incluindo os transportes públicos.

Adelson Barbosa dos Santos

Entre agosto de 1585 (século XVI)- quando foi criada oficialmente- e meados dos anos de 1950 do século XX, a Cidade Real de Nossa Senhora das Neves (depois batizada de Filipeia de Nossa Senhora das Neves, Frederica, Cidade da Parahyba e João Pessoa), a Capital paraibana teve três grandes momentos de expansão. A construção da cidade começou às margens do rio Sanhauá, importante afluente do Rio Paraíba do Norte.

Durante quase 350 anos, a Capital da Paraíba manteve seu centro financeiro, comercial e social em função do Porto do Varadouro, localidade conhecida hoje como Porto do Capim. A construção da cidade foi lenta e gradual. Era pequena e pobre, com uma elite opulenta que ostentava riqueza emanada da produção de açúcar e algodão, bem como da pecuária bovina.

Em 1928, a cidade já dispunha de ferrovia, bondes, iluminação pública. E ganhou um hotel de luxo. O Hotel Globo, cujo prédio está situado no largo da Igreja de São Frei Pedro Gonçalves. O hotel foi construído pelo empresário Henriques Siqueira, conhecido como Marinheiro, segundo o historiador Humberto Nóbrega. Atraía os coronéis do açucar e do algodão que vinham do interior de trem. A presença do trem na Paraíba remonta a 1880, segundo o historiador Horácio Almeida.  Em 1881, foi inaugurado um trecho de 30 quilômetrosentre a Capital e a localidade Entroncamento, na zona rural de Sapé. Era, segundo Almeida, a Companhia Estrada de Ferro Conde D’Eu.

Segundo a Comissão Permanente de Desenvolvimento do Centro Histórico de João Pessoa, durante 15 anos, o Hotel Globo foi ponto de encontro da sociedade. Era lá onde se realizavam festas, bailes e banquetes oferecidos pelo Governo e pela sociedade da época. Hospedou personalidades nacionais (Procópio Ferreira, Bibi Ferreira, Tônia Carreiro, Ernesto Geisel, Gratuliano de Brito), usineiros, fazendeiros,comerciantes e visitantes estrangeiros.

De acordo com  a Comissão, o auge do Hotel Globo teria se dado entre 1929 a 1938. Mas o historiador José Octávio da Arruda Melo tem outro entendimento. Segundo ele, ao assumir a presidência do Estado, em 1928, ano da construção do Hotel Globo, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque tratou de modificar as feições da Cidade da Parahyba.

Naquele período, a Capital da Paraíba viveu dias de intensa agitação social. As obras do hotel foram paralisadas. Só foram reiniciadas no governo de Antenor Navarro, nomeado interventor federal. Navarro ficou no governo entre 26 de novembro de 1930 e 26 de abril de 1932. As obras foram concluídas e o hotel inaugurado em 1932 pelo interventor que morreu no dia 26 de abril daquele ano e foi substituído no Governo do Estado por Gratuliano da Costa Brito, antigo hóspede do Hotel Globo.

“Antenor Navarro concluiu o hotel, que passou a ser o point da sociedade pessoense. Antes do Paraíba Palace, o point era o Hotel Globo, localizado bem próximo à Igreja de São Frei Pedro Gonçalves, a poucos minutos da Estação Ferroviária e do Porto do Varadouro. O Hotel Globo recebia com muita frequência os “coronéis” do algodão e da cana, culturas que dominavam o cenário econômico da época”, disse José Octávio. A partir da construção do Paraíba Palace, a cidade de João Pessoa passou a ter novo visual. O local tornou-se o point da alta sociedade, segundo o historiador.

A verdade é que o Paraíba Palace transformou-se no ponto de encontro da elite paraibana entre as décadas de 1930 e 1960. Hospedou personalidades políticas, artísticas e esportivas nacionais, a exemplo de Jânio Quadros, Plínio Salgado, Marechal Teixeira Lott (políticos), Linda Batista, Vicente Celestino, Elizete Cardoso (artistas) e Edson Arantes do Nascimento, mundialmente conhecido como Pelé (esportes), entre outras.  Os deputados estaduais Jacó Franca e Ageu de Castro adotaram o Paraíba Palace como residência.

De acordo com José Octávio de Arruda Melo, o presidente João Pessoa tinha uma visão de modernidade e achava que a Cidade da Parahyba, restritamente localizada na parte baixa, precisava crescer e subir as ladeiras em busca da parte alta, onde já estavam as igrejas e conventos. Para tanto, segundo José Octávio, seria preciso um diferencial, que foi o Paraíba Palace, no Ponto de Cem Réis.

Quando João Pessoa decidiu construir o Hotel Paraíba Palace, o cenário daquela área da cidade era formado pela Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Igreja das Mercês, pelo prédio do Jornal Correio da Manhã, pela parada do bonde, que deu nome ao local- Ponto de Cem Réis-, pela Praça Vidal de Negreiro, com um relógio no centro, por becos e casarões. Cem Réis era o valor da tarifa do bonde.

Naquele contexto e cenário urbanístico, João Pessoa, segundo José Octávio, resolveu impulsionar mudanças na paisagem da cidade, cuja sociedade concentrava-se na região chamada Varadouro, hoje uma importante área do Centro Histórico, completamente abandonada.

Nesse contexto, João Pessoa fez a cidade subir do Varadouro para a parte mais alta. “O hotel Paraíba Palace tornou-se o ponto de encontro dos intelectuais e funcionários públicos, que se reuniam no fim da tarde para conversar. Era uma espécie de centro artístico e social. Havia uma intensa movimentação de pessoas pobres e trabalhadores que esperavam o bonde nas proximidades do hotel”, disse José Octávio.
Em 1950, segundo o historiador, o Paraíba Palace foi repassado pelo Estado à Prefeitura de João Pessoa, que, posteriormente, o entregou ao empresário João Minervino. O prefeito da época era Luiz de Oliveira Lima (1951-1955). Nos anos 60, o hotel foi modernizado. Ganhou mezanino e um bar (Hawai), além de uma sorveteria (Canadá). Na administração do prefeito Osvaldo Pessoa (1948-1951), houve uma reforma no Ponto de Cem Reis.

O terceiro grande momento de expansão teveinício nas décadas de 1940 e 1950, quando a elite começou a descobrir as praias para veraneio, que tinha data certa para começar e terminar. “Era um veraneio curto que começava no Natal e se estendia até o dia 5 de fevereiro do ano seguinte”, disse José Octávio. Terminava no dia 5 de fevereiro para coincidir com o início do ano letivo.

Mas a moda de morar na praia foi inventada pelo agrônomo Afonso Macedo e pelo governador José Américo de Almeida. “Depois que José Américo passou a morar na praia (Cabo Branco), em 1956, a elite começou a ir também e passou a ocupar os terrenos de frente para o mar”, frisou o historiador.

Esse terceiro grande momento de expansão foi coroado em 1971, com a inauguração do Hotel Tambaú, construído por determinação do governador João Agripino nas areias da Praia de Tambaú, antigo bairro de Santo Antônio. A inauguração aconteceu na noite do dia 11 de setembro de 1971 pelo governador Ernani Sátyro, sedgundo o jornalista Rui Leitão.

“A inauguração aconteceu na noite do dia onze de setembro de 1971, com uma festa em que só participaram personalidades convidadas. O povo não teve acesso, o que se entendia como conveniente para preservar a sua estrutura física. Não era um evento adequado à participação popular. Presentes o Governador que concluiu a obra, Ernani Sátyro, e o governador, que deu início e teve a idéia da sua construção, João Agripino. O hotel conta, por isso, com duas placas comemorativas de inauguração. Nessa noite o cinema, também inaugurado, exibiu o filme O Aeroporto”, lembra Rui Leitão em seu blog.

Em sintese, os três grandes momentos de expansão da cidade que hoje comemora 432 anos ocorreram também em função de três hotéis: Globo, Paraíba Palace e Hotel Tambaú. Antes do Hotel Tambaú ser construído, a elite já estava se estabelecendo na Orla, o que motivou a ida do bonde entre o Ponto de Cém Reis e as imediações do antigo Elite Bar, onde hoje funciona uma agência do Banco do Brasil. O Elite, lembra José Octávio, era famoso por servir, diariamente, sopa de cabeça de peixe. Com a elite na Orla, os nomes das praias substituíram os nomes dos bairros que se formaram. Santo Antônio virou Tambaú. Cabo Branco permaneceu com o mesmo nome. A localidade Maceió, a partir do Elite Bar, se transformou em Manaíra. E a localidade Gonçalo virou Bessa.