sábado, setembro 01, 2018

Escalada de violência na PB alcança não só a população...

As últimas ocorrências policiais demonstram que o paraibano não tem mais garantia de que vá sair de dentro casa e não sofra algum tipo de violência. Não há mais situação, horário, local ou pessoa que intimide os bandidos. Somente nessa semana dois secretários da Prefeitura de João Pessoa, uma candidata ao Governo e o vice-prefeito de Campina Grande foram vítimas de assalto. Sem falar no caso mais grave, ocorrido na Capital, onde um bandido invadiu um quartel dos Bombeiros e matou um sargento para roubar a pistola que o militar usava, na segurança da portaria. O clima é de medo entre os paraibanos, inclusive entre os servidores das forças de segurança.

O sargento Josélio de Souza Leite, de 52 anos, estava de serviço na guarita do portão principal, do quartel dos Bombeiros que fica no bairro de Mangabeira, Zona Sul da Capital, quando um homem armado invadiu o local para roubar a arma do militar. Houve uma rápida luta corporal e o sargento foi baleado no rosto, morrendo ainda no local. Mesmo depois de atirar e ver que o militar tinha caído agonizando, o homem se abaixou, pegou a arma e fugiu, de carona na moto de outro homem, que dava apoio ao assalto. Três suspeitos foram presos no fim do dia e apresentados como autores do assalto.

No mesmo dia, o vice-prefeito de Campina Grande, Enivaldo Ribeiro (PP), teve o carro e um celular roubados, no bairro Bodocongó, Zona Oeste da cidade. O político estava jantando na casa de um eleitor, enquanto o motorista e um assessor o aguardavam dentro do veículo, na frente da residência. Dois homens armados se aproximaram e roubaram a caminhonete do vice-prefeito, onde também estavam guardados os objetos pessoais de Enivaldo, a exemplo dos telefones celulares.

Também na quinta-feira, só que na Capital, a candidata ao Governo do Estado, Rama Dantas (PSTU), foi assaltada quando chegava à residência, no bairro dos Bancários. Ela estava a cerca de 200 metros de casa, quando foi abordada por dois bandidos, que tomaram a bolsa e o celular da candidata.

Na terça-feira (28), dois secretários da Prefeitura de João Pessoa foram assaltados no bairro de Cruz das Armas, ao saírem de uma atividade política. "Foi algo que não desejo para ninguém. Depois que passa a tensão do momento e que a gente bota a cabeça no travesseiro é que percebemos que nossa vida não está valendo nada. Que estivemos muito perto da morte. A Paraíba vive uma insegurança que vai da orla até Cajazeiras. Não há um lugar sequer que esteja a salvo", disse Graco Parente, uma das vítimas, secretário adjunto de Turismo. Ele e o secretário José Gadelha, adjunto da pasta de Trabalho e Renda, foram abordados por dois homens armados, quando entravam no carro para voltar para casa. Tiveram carteiras e celulares roubados.

Sociedade e até integrantes das forças de segurança estão com medo

Durante o velório do sargento Josélio, medo era a palavra mais usada pelas pessoas que quiseram falar sobre o ocorrido. "Além de medo, o sentimento é de muita indignação. Como se imaginar uma situação dessas, ele sendo militar, estava dentro de uma área de segurança e acontece isso. Imagina um de nós, simples cidadãos. Nós estamos perdidos. Eu mesma já fui assaltada, mas Deus me livrou porque, na hora, um colega milita ia passando, conseguiu intervir e deter o bandido, que estavam armado", contou a técnica de enfermagem Leide Nery Moura, amiga do militar assassinado.

"O povo não aguenta mais tanta insegurança, onde os bandidos invadem quartéis e tiram a vida de um servidor público, que trabalhava para salvar vidas", gritou um amigo do sargento, enquanto o caixão descia ao túmulo.

Um bombeiro que não quis se identificar, temendo represálias do Governo, disse que está trabalhando com medo e que a vulnerabilidade dos militares nos quartéis da corporação é muito grande. "Nossas unidades são diferentes dos quartéis da polícia, porque fazemos um atendimento à população e temos que ficar de portões abertos. O que eu estou vendo é os colegas comprando armas particulares, aqueles que conseguem o porte de arma, porque tá todo mundo com medo", disse.

Especialista culpa poderes Executivo e Legislativo

Para o professor José Maria Nóbrega, coordenador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), a onda de violência tem vários motivos, que incluem baixo investimento do Governo do Estado em inteligência policial. Mas o problema mas grave, segundo ele, é a atual Lei de Execuções Penais (LEP). "É uma Lei que dá tanto direito ao criminoso que acaba encorajando bandidos a praticar crimes. Vivemos um momento de um garantismo pena exacerbado. O cara que matou o sargento, por exemplo, tinha sido preso com droga no final de semana anterior e já responde a outro processo na Justiça. Mas estava nas ruas praticando crimes. A sociedade precisa pressionar seus legisladores para que reformem a LEP. Esses caras agora estão presos e no primeiro feriado que vier, vão para a saída temporária e praticar novos crimes. Isso não é justo", afirmou.

O professor também defendeu a idéia de que o suspeito poderia ter sido morto, antes de matar o sargento. "Ele invadiu um quartel com arma na mão. Pela doutrina militar, em uma situação como essa o suspeito poderia ter sido abatido. Mas se isso tivesse ocorrido no quartel dos Bombeiros, o mundo viria a baixo, por conta da ação dos militares. Mas como foi o sargento que morreu, então parece está tudo certo. Bandidos não podem ter tantos direitos como estão tendo no Brasil. O acusado deve ter sua defesa, até o último recurso. Mas uma vez condenado, tem que pagar pelo que fez. Não é mais hora de dar direitos a eles", acrescentou.

Acusados dizem que mataram sargento para roubar arma

A prisão de três acusados de participar da morte do sargento Josélio revelou que o plano era roubar a arma do militar, para ser vendida pelo valor de R$ 6 mil e o dinheiro dividido entre os envolvidos. O primeiro a ser preso foi Natan Afonso de Carvalho, de 18 anos, localizado no bairro do Valentina. Ele teria sido o condutor da moto. Após confessar participação no crime, ele apontou Jonas Ribeiro Sobrinho, de 20 anos, que teria atirado no sargento. Natan receberia R$ 1 mil de Jonas pelo serviço do transporte.

Preso no bairro de Quadramares, ainda de posse da arma do crime, Jonas estava no regime semiaberto, de um processo por roubo. Ele tinha sido preso no final de semana anterior, com duas porções de maconha, mas foi liberado após assinar o termo circunstanciando de ocorrência (TCO). O último preso foi Thiago Ribeiro da Cunha, de 32 anos, que também responde a processo e cumpre pena de prestação de serviço comunitário, no quartel onde ocorreu o crime. Ele que teria dado informações sobre a rotina do sargento Josélio na guarda da recepção, indicando o melhor horário para o assalto, em que o militar estaria sozinho. Os três passaram pela audiência de custódia ainda ontem e foram enviados para o presídio PB1, na Capital. jornal correio