Foi-se o tempo em que os paraibanos viam apenas pela TV bandidos armados
de fuzis e metralhadoras, andando pelas ruas das favelas no Sudeste do
País. Foi-se o tempo em que os assaltos que aconteciam por aqui eram com
uso de facas ou, no máximo, revólveres. Na Paraíba, os bandidos estão
cada vez mais armados e os fuzis já estão sendo vistos em assaltos nas
ruas das grandes cidades, a exemplo de João Pessoa, em plena luz do dia.
A metralhadora anti-aérea calibre ponto 50, antes vista só em filmes,
também já virou rotina nas ações criminosas no Estado. E ao contrário de
muita gente imagina, não são bandidos de fora que estão vindo para cá.
São os criminosos paraibanos que estão se armando, com ajuda de facções
do Sudeste, a exemplo do Comando Vermelho e do PCC.
O ataque contra o presídio de “segurança máxima” Romeu Gonçalves Abrantes (PB1), na Capital, foi uma demonstração do poder de fogo que está nas mãos dos bandidos. Algo que já tinha sido visto em alguns ataques contra carros-fortes, mas não com o poder que se registrou no resgate e fuga dos 92 presos. Armados com uma ou duas metralhadoras ponto 50 (as autoridades não souberam dizer exatamente quantas), além de mais de uma dezena de fuzis automáticos, os criminosos deram rajadas de tiros contra a fachada do PB1, durante cerca de 25 minutos. Tempo em que, alguns dos criminosos explodiram o portão principal e o portão de um dos pavilhões e foram nas celas buscar os homens que tinham sido presos há cerca de um mês, depois de atacarem um carro-forte e trocar tiros com a Polícia Militar (PM), na cidade de Lucena, Litoral Norte do Estado.
Em João Pessoa, quem acompanha o noticiário policial deve lembrar, por exemplo, do modo que os bandidos agiam no assalto conhecido como ‘saidinha de banco’, quando a vítima é monitorada por bandidos e assaltada após sacar dinheiro em uma agência bancária ou enquanto está indo para o banco, depositar alguma grande quantia. Geralmente era uma dupla de moto, com o carona armado de revólver calibre 380, que seguia a vítima e abordava em um local ermo.
Na última ‘saidinha de banco’ registrada na Capital, cinco homens em um Corola, quatro armados com pistolas e um armado com fuzil, abordaram um empresário que chegava para depositar dinheiro em um banco, em um dos locais mais movimentados do bairro da Torre. Os assaltantes dispararam mais de 30 tiros contra o carro da vítima, inclusive na direção da rua, onde havia uma fila de carros parados por conta do tiroteio.
Criminosos não são de fora
No único caso de ataque criminoso com armamento de grosso calibre, em que a polícia paraibana conseguiu prender os bandidos (a prisão em Lucena dos assaltantes que foram resgatados do PB1), ficou constatado que nem sempre os ataques cinematográficos são fruto da invasão de bandidos de fora, na Paraíba. Pela forma de agir, o poder de fogo com usando fuzis e uma metralhadora anti-aérea para forçar a parada do veículo, além da quantidade de pistolas importadas e mais de duas mil munições, a polícia sabia que se tratava de uma quadrilha que agia em todo País, explodindo bancos e carros-fortes. Só não sabia que a quadrilha era daqui.
Com a prisão de parte do bando, que foi cercado em uma casa na cidade de Lucena, Litoral Norte, e a identificação dos presos, veio a surpresa: a gangue era mesmo de ação nacional, porém composta por paraibanos. Ivaci Muniz da Silva, de 34 anos, o “Galeguinho” é da cidade de Pombal, Antônio Arcênio de Andrade Neto, de 24, é de Bom Sucesso, Vanilson Pereira de Macedo, de 31, é de Boqueirão e Romário Gomes da Silveira, de 29, de Campina Grande.
Reforço nacional. Uma das explicações para o aumento do poder bélico dos bandidos na Paraíba pode estar na aliança das facções criminosas locais com algumas de atuações nacionais, a exemplo do grupo carioca Comando Vermelho (CV) e do paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). Investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Capital (DRE-JP) apontam uma aliança da facção pessoense EUA com o PCC e da Okaida como CV.
Em entrevista recente ao CORREIO, sobre a atuação das facções de João Pessoa, o delegado Braz Morrone disse que o PCC e o CV oferecem armamentos e munição aos EUA e Okaida, respectivamente, como contrapartida pelo espaço cedido na Paraíba, pelas facções locais.
“Temos visto um incremento no armamento dos bandidos por aqui, pistolas muito novas, de calibres mais potentes, justamente fruto dessas parcerias. Os membros dos EUA perderam espaço na cidade e, para se reforçar, firmaram essa parceria com o PCC. Em reação, a Okaida fechou com o rival do PCC e com outras facções de estados vizinhos, a exemplo do Sindicato do Crime, do Rio Grande do Norte. A partir daí eles fazem trocas, para reforçar a fragilidade de cada um. No caso das facções de João Pessoa são os armamentos, que antes não eram acessíveis por aqui”, explicou.
Facções mais organizadas
Para o especialista em Segurança Pública, José Maria Nóbrega, Coordenador do Núcleo de Violência da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), o surgimento de armamento pesado nas ruas da Paraíba ainda é um fenômeno muito recente, que carece de dados e estudos para que se possa atestar com embasamento científico se está mesmo havendo essa mudança ou se são casos pontuais. No entanto, ele acredita que facções como a Okaida estão mais organizadas, com mais dinheiro e podendo comprar armas mais caras.
“Tudo que falamos é com base em dados. Seria necessário fazer um levantamento dos assaltos que ocorreram de janeiro até agora, por exemplo e verificar os meios que os bandidos empregaram. Mas é notório que há uma maior organização da Okaida e que, com o aumento dos crimes patrimoniais no Estado, eles estão com mais dinheiro. Com isso podem estar adquirindo armamentos pesados. Como já estão com um fuzil na mão e a oportunidade do assalto está à frente, ele use esse armamento para cometer o crime. Mas ainda não temos base científica para atestar essa mudança do armamento deles, por ser algo muito recente”, disse José Maria.
Aumentam as apreensões de fuzis
O aumento do poder de fogo dos bandidos também está refletido nas apreensões feitas pela polícia. Segundo o comandante da PM, coronel Euller Chaves, aumentaram as apreensões de fuzis e duas metralhadoras calibre 50 fora tomadas dos bandidos, em menos de um ano. O oficial disse que a média atual de apreensões de fuzis no Brasil é de um por dia, o que dá uma médica de 365 armas desse tipo, todos os anos.
“Existem vários fatores que contribuem para esse aumento do poder de fogo dos bandidos. O principal deles é a total falta de fiscalização nas fronteiras, por onde acontece um forte contrabando de drogas e armas. Os bandidos também se utilizam do transporte aéreo, o que temos visto nas apreensões feitas no Rio de Janeiro. Ou seja, recorrem ao que a criatividade permitir, para trazer essas armas. Como a Paraíba não é uma ilha, acaba que esse armamento também chega por aqui, mas estamos trabalhando e apreendendo cada vez mais”, disse o comandante.
Sobre a formação de quadrilhas com paraibanos, usando armamento de guerra, o comandante disse que a globalização e as ferramentas modernas de comunicação servem de ferramenta para o crime, da mesma forma que facilita a comunicação das pessoas no mundo.
Legislação limita atuação da Polícia
Euller Chaves também apontou a legislação brasileira pelo incremento do poder de fogo do crime e a limitação das polícias em fazer frente ao arsenal.
“Além das fronteiras abertas e a globalização, a Lei penal brasileira invalida as ações da polícia em prender e apreender, ao mesmo tempo que favorece o bandido. No Chile, por exemplo, o uso de artefato explosivo em qualquer ação faz com que o crime seja classificado como ato terrorista e a pena é de prisão perpétua. Aqui no Brasil os ataques a bancos com fuzis e explosivos são considerados furto qualificado e, quando muito, o bando preso é enquadrado em formação de quadrilha, crimes pelos quais estão na rua em pouco tempo”, explicou.
O comandante da Polícia Militar também lembrou que a mesma legislação limita as ações da polícia, que não podem ter acesso ao mesmo tipo de armamento.
“Os bandidos conseguem metralhadoras ponto 50 pelas fronteias abertas, mas as polícias não podem comprar esse modelo de arma”, lembrou.
Para o coronel Euller Chaves, mudança na legislação é a base para que a polícia esteja em pé de igualdade com o crime. jornal correio
O ataque contra o presídio de “segurança máxima” Romeu Gonçalves Abrantes (PB1), na Capital, foi uma demonstração do poder de fogo que está nas mãos dos bandidos. Algo que já tinha sido visto em alguns ataques contra carros-fortes, mas não com o poder que se registrou no resgate e fuga dos 92 presos. Armados com uma ou duas metralhadoras ponto 50 (as autoridades não souberam dizer exatamente quantas), além de mais de uma dezena de fuzis automáticos, os criminosos deram rajadas de tiros contra a fachada do PB1, durante cerca de 25 minutos. Tempo em que, alguns dos criminosos explodiram o portão principal e o portão de um dos pavilhões e foram nas celas buscar os homens que tinham sido presos há cerca de um mês, depois de atacarem um carro-forte e trocar tiros com a Polícia Militar (PM), na cidade de Lucena, Litoral Norte do Estado.
Em João Pessoa, quem acompanha o noticiário policial deve lembrar, por exemplo, do modo que os bandidos agiam no assalto conhecido como ‘saidinha de banco’, quando a vítima é monitorada por bandidos e assaltada após sacar dinheiro em uma agência bancária ou enquanto está indo para o banco, depositar alguma grande quantia. Geralmente era uma dupla de moto, com o carona armado de revólver calibre 380, que seguia a vítima e abordava em um local ermo.
Na última ‘saidinha de banco’ registrada na Capital, cinco homens em um Corola, quatro armados com pistolas e um armado com fuzil, abordaram um empresário que chegava para depositar dinheiro em um banco, em um dos locais mais movimentados do bairro da Torre. Os assaltantes dispararam mais de 30 tiros contra o carro da vítima, inclusive na direção da rua, onde havia uma fila de carros parados por conta do tiroteio.
Criminosos não são de fora
No único caso de ataque criminoso com armamento de grosso calibre, em que a polícia paraibana conseguiu prender os bandidos (a prisão em Lucena dos assaltantes que foram resgatados do PB1), ficou constatado que nem sempre os ataques cinematográficos são fruto da invasão de bandidos de fora, na Paraíba. Pela forma de agir, o poder de fogo com usando fuzis e uma metralhadora anti-aérea para forçar a parada do veículo, além da quantidade de pistolas importadas e mais de duas mil munições, a polícia sabia que se tratava de uma quadrilha que agia em todo País, explodindo bancos e carros-fortes. Só não sabia que a quadrilha era daqui.
Com a prisão de parte do bando, que foi cercado em uma casa na cidade de Lucena, Litoral Norte, e a identificação dos presos, veio a surpresa: a gangue era mesmo de ação nacional, porém composta por paraibanos. Ivaci Muniz da Silva, de 34 anos, o “Galeguinho” é da cidade de Pombal, Antônio Arcênio de Andrade Neto, de 24, é de Bom Sucesso, Vanilson Pereira de Macedo, de 31, é de Boqueirão e Romário Gomes da Silveira, de 29, de Campina Grande.
Reforço nacional. Uma das explicações para o aumento do poder bélico dos bandidos na Paraíba pode estar na aliança das facções criminosas locais com algumas de atuações nacionais, a exemplo do grupo carioca Comando Vermelho (CV) e do paulista Primeiro Comando da Capital (PCC). Investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Capital (DRE-JP) apontam uma aliança da facção pessoense EUA com o PCC e da Okaida como CV.
Em entrevista recente ao CORREIO, sobre a atuação das facções de João Pessoa, o delegado Braz Morrone disse que o PCC e o CV oferecem armamentos e munição aos EUA e Okaida, respectivamente, como contrapartida pelo espaço cedido na Paraíba, pelas facções locais.
“Temos visto um incremento no armamento dos bandidos por aqui, pistolas muito novas, de calibres mais potentes, justamente fruto dessas parcerias. Os membros dos EUA perderam espaço na cidade e, para se reforçar, firmaram essa parceria com o PCC. Em reação, a Okaida fechou com o rival do PCC e com outras facções de estados vizinhos, a exemplo do Sindicato do Crime, do Rio Grande do Norte. A partir daí eles fazem trocas, para reforçar a fragilidade de cada um. No caso das facções de João Pessoa são os armamentos, que antes não eram acessíveis por aqui”, explicou.
Facções mais organizadas
Para o especialista em Segurança Pública, José Maria Nóbrega, Coordenador do Núcleo de Violência da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), o surgimento de armamento pesado nas ruas da Paraíba ainda é um fenômeno muito recente, que carece de dados e estudos para que se possa atestar com embasamento científico se está mesmo havendo essa mudança ou se são casos pontuais. No entanto, ele acredita que facções como a Okaida estão mais organizadas, com mais dinheiro e podendo comprar armas mais caras.
“Tudo que falamos é com base em dados. Seria necessário fazer um levantamento dos assaltos que ocorreram de janeiro até agora, por exemplo e verificar os meios que os bandidos empregaram. Mas é notório que há uma maior organização da Okaida e que, com o aumento dos crimes patrimoniais no Estado, eles estão com mais dinheiro. Com isso podem estar adquirindo armamentos pesados. Como já estão com um fuzil na mão e a oportunidade do assalto está à frente, ele use esse armamento para cometer o crime. Mas ainda não temos base científica para atestar essa mudança do armamento deles, por ser algo muito recente”, disse José Maria.
Aumentam as apreensões de fuzis
O aumento do poder de fogo dos bandidos também está refletido nas apreensões feitas pela polícia. Segundo o comandante da PM, coronel Euller Chaves, aumentaram as apreensões de fuzis e duas metralhadoras calibre 50 fora tomadas dos bandidos, em menos de um ano. O oficial disse que a média atual de apreensões de fuzis no Brasil é de um por dia, o que dá uma médica de 365 armas desse tipo, todos os anos.
“Existem vários fatores que contribuem para esse aumento do poder de fogo dos bandidos. O principal deles é a total falta de fiscalização nas fronteiras, por onde acontece um forte contrabando de drogas e armas. Os bandidos também se utilizam do transporte aéreo, o que temos visto nas apreensões feitas no Rio de Janeiro. Ou seja, recorrem ao que a criatividade permitir, para trazer essas armas. Como a Paraíba não é uma ilha, acaba que esse armamento também chega por aqui, mas estamos trabalhando e apreendendo cada vez mais”, disse o comandante.
Sobre a formação de quadrilhas com paraibanos, usando armamento de guerra, o comandante disse que a globalização e as ferramentas modernas de comunicação servem de ferramenta para o crime, da mesma forma que facilita a comunicação das pessoas no mundo.
Legislação limita atuação da Polícia
Euller Chaves também apontou a legislação brasileira pelo incremento do poder de fogo do crime e a limitação das polícias em fazer frente ao arsenal.
“Além das fronteiras abertas e a globalização, a Lei penal brasileira invalida as ações da polícia em prender e apreender, ao mesmo tempo que favorece o bandido. No Chile, por exemplo, o uso de artefato explosivo em qualquer ação faz com que o crime seja classificado como ato terrorista e a pena é de prisão perpétua. Aqui no Brasil os ataques a bancos com fuzis e explosivos são considerados furto qualificado e, quando muito, o bando preso é enquadrado em formação de quadrilha, crimes pelos quais estão na rua em pouco tempo”, explicou.
O comandante da Polícia Militar também lembrou que a mesma legislação limita as ações da polícia, que não podem ter acesso ao mesmo tipo de armamento.
“Os bandidos conseguem metralhadoras ponto 50 pelas fronteias abertas, mas as polícias não podem comprar esse modelo de arma”, lembrou.
Para o coronel Euller Chaves, mudança na legislação é a base para que a polícia esteja em pé de igualdade com o crime. jornal correio