sexta-feira, fevereiro 07, 2025

UMA BREVE HISTÓRIA DO NÓ CEGO ( DE 1975 A 1983 )

Minha inspiração para colocar o nome NÓ CEGO em nosso bloco carnavalesco, veio de um episódio singular e curioso.
Em janeiro de 1973, eu iniciava o 4° período do Curso de Medicina na UFPB. Fui convidado por Dr. Aglair da Silva, para frequentar as dependências do Hospital São Vicente de Paulo em Itabaiana.Iria começar a observar a rotina hospitalar, os atendimentos ambulatoriais, as pequenas cirurgias, enfim, iniciar os primeiros passos na futura profissão de médico.


A primeira recomendação de Dr. Aglair, foi no sentido do estudante observar muito, perguntar mais ainda e nunca atrever-se a fazer o que não sabia. Em uma emergência, usar o bom senso e a prudência, enquanto alguém capacitado chegasse para resolver a situação.


Segundo Dr. Aglair, o estudante de tanto observar e perguntar, sendo uma pessoa observadora, dentro de 6 meses, já estaria capacitado a participar de pequenos procedimentos ambulatoriais, sob a supervisão de um profissional médico.
Segui esse primeiro conselho à risca !
Após uns 6 meses de Olha - Pergunta, Olha - Pergunta, Olha - Pergunta, me achava capacitado de pelo menos, " dar uns três pontinhos " em um ferimento não complicado.
As parteiras e enfermeiras do Hospital, faziam partos, suturas e pequenos procedimentos ambulatoriais. As vezes quando necessário, auxiliavam os médicos em cirurgias de maior porte. Aprendi muito com elas.


Certo dia, chegou um jovem com um pequeno ferimento no antebraço medindo cerca de 4 a 5 cm. Pelos meus cálculos, levaria uns 3 ou 4 pontos.
Dr. Aglair estava operando com outro médico, e pedi a enfermeira que fosse comunicar - lhe o fato.
Dr . Aglair disse : - Chame Dedé, que ele já tem condições de fazer uma pequena sutura !
A enfermeira voltou, e comunicou - me o ocorrido.
Argumentei com a enfermeira, pensando no primeiro conselho que Dr. Aglair tinha dado :
- Olhe, olhe, olhe. Pergunte, pergunte, pergunte !
- É melhor você fazer ! Respondi a enfermeira.
- Dr. Aglair disse que você já sabe fazer uma pequena sutura ! Respondeu a enfermeira.
Pelo que eu tinha observado, era um pequeno ferimento de bordos regulares e nenhum vaso calibroso tinha sido atingido. Naquele momento, me julguei capaz de realizar o procedimento, pelo que eu tinha aprendido nos últimos 6 meses. Encarei o desafio !
Iniciei o procedimento limpando bem o ferimento, infiltrando o anestésico local e fazendo a sutura propriamente dita.


O nervosismo de " toda primeira vez ", me inibiu um pouco.Tive dificuldade em dar o Nó Cirúrgico tradicional. Não consegui após várias tentativas. No improviso, dei um NÓ CEGO em cada um dos 4 pontos necessários.


Posteriormente, a cicatrização da ferida , mostrou que o tipo de Nó dado, não teve influência negativa no resultado da sutura.
Meia hora depois, chega Dr. Aglair no ambulatório perguntando como foi minha
" primeira vez ". Rapidamente relatei o ocorrido e o improviso do Nó Cego. Ele riu muito e disse que no futuro, eu ia ver, que em uma Sala de Cirurgia, às vezes o IMPROVISO, é a maior arma do cirurgião. Foi a segunda grande lição que recebi do Mestre Aglair que passou o resto da tarde me ensinando os diversos tipos de Nós Cirúrgicos que existem. Recebi ainda nessa tarde, a terceira grande lição de meu aprendizado.


Dr. Aglair, dentro das muitas qualidades que tinha, uma era ser brincalhão ! Por conta desse episódio, colocou - me o apelido de NÓ CEGO !
Pensei comigo : - Se eu for me encabular, esse apelido pega !
A partir daí, no início de 1974, eu no 5° período de medicina, Dr. Aglair começou a me chamar para auxilia - lo nas cirurgias que fazia tanto no Hospital São Vicente de Paulo em Itabaiana, como em João Pessoa no antigo Pronto Socorro Municipal aos domingos. Ainda não existia o Hospital de Trauma.
Qualquer assunto que Aglair quisesse comigo, dizia à enfermeira : - Menina , chama Dedé Nó Cego aí !
Feito esse preâmbulo, para caracterizar bem o termo NÓ CEGO, vamos agora à História da Fundação do BLOCO DO NÓ CEGO !


O Carnaval de Itabaiana nos anos 50 e 60, sempre foi o melhor das cidades do Vale do Rio Paraíba. Era frequentado, por pessoas dessas cidades e de outras oriundas do vizinho estado de Pernambuco como Timbaúba, Goiana, Ferreiros, Camutanga, Itambé e Nazaré da Mata. Esse pessoal participava tanto do carnaval de rua, como do de Clube.


O auge desses grandes Carnavais, foi o Carnaval de 1970, O SETENTÃO, quando o período carnavalesco, foi de 8 dias seguidos, de uma quarta feira à outra que era a quarta feira de Cinzas. Esse Carnaval, foi promovido pelo Prefeito Dr. Josué Dias de Oliveira, irmão do músico SIVUCA, e que governou Itabaiana no período compreendido entre janeiro de 1969 a janeiro de 1973.
Após o CARNAVAL SETENTÃO, houve um arrefecimento nos festejos Momescos em nossa Cidade. Um declínio grande, que a população sentiu ! Várias Agremiações Carnavalescas deixaram de existir, à exemplo da escola de samba, IMPERADORA DO SAMBA.


O Carnaval de Clube sentiu menos. A lapada grande, foi no Carnaval de Rua.
Nosso carnaval, passou a viver, uma espécie de " PERÍODO SABÁTICO " ! Não aparecia NADA DE NOVO NO FRONT MOMESCO !


Em 1975, eu estava no 8° período de Medicina, e juntamente com um grupo de cerca de 25 pessoas, começamos a pensar em um Bloco Carnavalesco, que sacudisse a apatia e letargia que desmotivava os foliões da Cidade. Era preciso ressuscitar os Grandiosos Carnavais de Rua, das décadas de 50 e 60.
As reuniões, eram na Rua Meira de Vasconcelos, na Oficina de Zé de Nana, vizinha à casa do meu avô. Na oficina, fabricava - se Selas e Arreios de Couro.


Nessas reuniões, começamos a estabelecer as bases e fundamentos do Bloco. A começar pelo nome.
Sugeri o nome " NÓ CEGO, contando a história do apelido que Dr. Aglair tinha colocado em mim.
A Faixa Estandarte do Bloco, seria sustentada nos dois lados, por hastes de madeira ( Caibros ). O desenho de um Nó com as pontas viradas para um lado e para outro seria pintado nessa faixa de mais ou menos 1 metro de largura por 3 ou 4 metros de extensão. Nas pontas das cordas do desenho posteriormente, seria desenhado um Pitu ou Caranguejo em cada lado, com as patinhas puxando para cada lado, arrochando o nó. Em 1975, não teve patrocínio e consequentemente, não teve Crustáceos arrochando às pontas do Nó Cego.Os Pitus ou Caranguejos, só seriam desenhados na Faixa Estandarte, a partir de 1976, dependendo de quem fornecesse nossa Cachaça para transformarmos em Batida e que durasse os três dias de Carnaval. Era muita Cachaça !
Não sou desenhista, mas fiz um esboço do NÓ em cartolina, e pedi a Lucinha de Rangel para pintar o NÓ na Faixa Estandarte e nas 24 ou 25 camisetas do Bloco.


Fomos procurar a Orquestra de Zezé de Dr. Olívio para acertar as saídas nas manhãs do domingo e da segunda feira de Carnaval.


Acertado o preço da orquestra, ficou estabelecido,que uma Fôrma de barro fornecida por BABÁ, seria o " VASILHAME " da Batida feita com Cachaça, Gelo, Limão e Açúcar. A Cachaça foi doada por amigos de Areia, o Gelo por Mário da Sorveteria, o Açúcar por Seu Geraldo Fonseca e o Limão por amigos que tinham sítios. Diz a LENDA, que o Delicioso sabor da Batida do NÓ CEGO, se deve ao fato de algumas gotas do SUOR DO MEU SUVACO estarem presentes no momento que eu preparava a BEBERAGEM !


A Fôrma de Barro com a Batida, seria conduzida por um Carro de Madeira com 4 rodas e Direção Manual e que funcionaria além de Armazenamento Etílico, também como Carro Abre Alas do Bloco.
Pensou - se também, em um CARROÇÃO puxado por PEDÃO, JÚLIO GABRIEL E OUTRAS PESSOAS FORTES, que aguentassem bem, o " Tranco " que era puxar ou empurrar um CARROÇÃO carregando os músicos, bebidas, água, gelo e algumas " Personalidades " que se embriagavam logo cedo ! Não conseguimos CARROÇÃO em 1975. Só conseguimos a partir de 1976, após muita reclamação dos músicos que se misturavam na multidão e levavam muita pancada, principalmente nos lábios.
Faltava ainda, dinheiro para outras despesas e resolvemos fazer comissões para pedir ajuda para o Bloco, no Comércio e na Feira Livre da terça feira. No comércio, sempre " pingava " alguma coisa, Na feira de carne, os marchantes sabendo que teria farra depois da comissão, doavam o tira - gosto. Existia sempre uma sacolinha para levar fígado, rins, rabada de boi ou de porco.
Nosso tesoureiro, desde o início, sempre foi o Professor Luis Paraíba, que era muito seguro, no trato com dinheiro.


Ficou estabelecido ainda, que no domingo pela manhã, visitariamos o Professor Emir Nunes em sua residência, onde nos esperava bebidas e petiscos. Na segunda-feira pela manhã, visitariamos a residência do Sr. Adônis Gomes de França, onde nos esperava também, bebidas e petiscos. Na saída, Seu Adônis presenteou o Bloco, com uma caixa de Rum Montilla e uma grade de Coca-Cola, para continuarmos a farra.
Segundo nossos cálculos, faltavam 8 dias para o Carnaval, e estava tudo pronto e pago. Só que NÃO ! Onde foi que já se viu um Bloco que queria tornar - se referência no Carnaval de uma Cidade sem ter um Hino a representa - lo ?
FALTAVA O HINO DO NÓ CEGO !


Em uma reunião emergencial, decidimos compôr um Hino para o Bloco.
O estúdio para a composição da música, foi a mesa do Bar da Minha Mãe, Dona Tilinha na Rua Fernando Pessoa, n° 63. Estavam presentes NESSE HISTÓRICO MOMENTO :
DR . VILINHO COM O SEU VIOLÃO, EU METIDO A COMPOSITOR COM LÁPIS E PAPEL NAS MÃOS, LUIZINHO PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA COM UM PEDAÇO DE MADEIRA PARA TAMBORILHAR NA MESA FAZENDO A PERCUSSÃO, PROFESSOR ELIAS COMO OBSERVADOR E PROFESSOR LUIS PARAIBA COMO TESOUREIRO PARA PAGAR AS DESPESAS COM O " ESTÚDIO " DE GRAVAÇÃO.
Iniciamos os trabalhos, esquentando às orelhas e às mentes. Depois começamos a elaborar uma Trilha Melódica muito simples, mas bastante animada e chamativa, no ESTILO FREVO PERNAMBUCANO. O Dr. VILINHO, elaborou a música. Eu ia escrevendo os versos no ritmo da música ...


De repente, Dr. VILINHO parava o violão e dizia : - DEDÉ , TEM MUITA PALAVRA PRÁ POUCA MUSICA ! ENCURTE UM POUCO A FRASE !


DAQUI À POUCO, NOVAMENTE O DR. VILINHO PARAVA O VIOLÃO E DIZIA : - DEDÉ, AGORA TEM POUCAS PALAVRAS PARA MUITA MÚSICA ! ESTIQUE UM POUCO A FRASE !
E nesse chamego de ESTIQUE - ENCURTE e ENCURTE - ESTIQUE, após umas 6 horas de boa farra, e " Trabalho Criativo ", o HINO DO NÓ CEGO FICOU PRONTO !


No dia seguinte, nosso trabalho foi cantar exaustivamente às estrofes do HINO DO NÓ CEGO para Zezé de Dr. Olívio aprender e transmitir aos outros componentes da orquestra.


No domingo de Carnaval pela manhã com a presença de 90% dos componentes do Bloco ( alguns estavam de ressaca da " Carraspana " do sábado a noite ) e lamentam até hoje , não estarem na PRIMEIRA FOTO HISTÓRICA DO BLOCO ), a ORQUESTRA, o CARRO DE MADEIRA com a BATIDA DO NÓ CEGO em cima e a FAIXA ESTANDARTE DO NÓ CEGO estendida nos Portais da Igreja por cima da Entrada Principal, tiramos a FOTO HISTÓRICA DO 1° ANO DO NÓ CEGO.
Padre Antônio Kemps quase processa a gente, pela ousadia da foto em frente a Igreja com aquela PRESEPADA toda ! Tive posteriormente uma boa conversa com o Vigário me desculpando e nos tornamos amigos !


A partir de 1975 , o Carnaval de Itabaiana foi sacudido em sua apatia e letargia e novamente despertou a vocação da Cidade para promover Grandes Carnavais .


Uma nova era carnavalesca começou a tomar corpo já em 1976 ! Novos blocos e Troças foram surgindo. Todos queriam um lugar ao sol, ou na avenida, como queiram!
Como Bloco de Arrasto , o NÓ CEGO consolidou - se como o maior e mais animado bloco até então.
No NÓ CEGO, existiam algumas regras NÃO ESCRITAS, que no início caracterizaram o Bloco.
A Segurança por exemplo, era feita pelos membros maiores e mais fortes do Bloco. Qualquer tentativa de bagunça, o elemento estranho era " aconselhado " por essa TROPA DE CHOQUE a se comportar direito ou deixar o Bloco.


As esposas, noivas, namoradas, irmãs ou filhas de componentes do Bloco, eram aconselhadas a não seguirem o bloco, nem usarem a fantasia, pois pensávamos que muita confusão poderia ser evitada com essa medida. Alguns anos depois, após muita insistência, as mulheres começaram a sair no Bloco. Isso após a BAGACEIRA lançar um BLOCO MISTO !


Alguns queriam cordão de isolamento. Nunca permiti. Era para todos brincarem !
Os Carnavais de 1976 e 1977, foram como Céu de Brigadeiro para o NÓ CEGO.
Em 1976 a PITU ofereceu patrocínio através do Comunicador Ivo Severo e seu Carro de Som. Forneceu a cachaça para os três dias de Carnaval e nós colocamos o desenho dos 2 PITUS com às patinhas puxando a corda do NÓ de um lado e do outro, ARROCHANDO O NÓ. Um outro ano, foi a vez de 2 Carangueijos serem desenhados na Faixa Estandarte do NÓ.
Em 1975 eram 25 componentes. Em 1976 passaram de 100 componentes. Em 1977 esse número passou de 300 componentes !


Em 3 anos de vida, o NÓ CEGO já tinha algumas tradições formadas e que todos conheciam . Vejamos :
01 ) Existiam 4 símbolos imutáveis
a) FAIXA ESTANDARTE com o NÓ CEGO
pintado.
b) CARRO DE MADEIRA carregando a Batida do NÓ e funcionando como ABRE ALAS do Bloco.
c) O HINO DO NÓ CEGO que todos conheciam.
d) O CARROÇÃO puxado por pessoas para carregarem os músicos.
02 ) LOCAL DE SAÍDA E TRAJETO
a) DOMINGO - SEDE DOS TRABALHADORES.
b) SEGUNDA FEIRA - POSTO FISCAL.
c) TERÇA FEIRA - CASA DA MÃE POBRE.
03 ) ÀS TRÊS PRIMEIRAS MÚSICAS, ERAM TOCADAS NESSA ORDEM TODOS OS TRÊS DIAS :
BRASIL - ESPANHA, ÚLTIMO DIA, E O HINO DO NÓ CEGO QUANDO O BLOCO ENTRAVA NA RUA GRANDE. DURANTE O TRAJETO OUTRAS MÚSICAS ERAM TOCADAS E REPETIDAS.
DE UMA COISA NÃO ABRIAMOS MÃO:
SÓ SE TOCAVA FREVO PERNAMBUCANO, SAMBAS CARNAVALESCOS E MARCHINHAS.
OUTRO TIPO DE MUSICA, NEM PENSAR !


Em 1978, surgiu uma coisa nova, bem estruturada e organizada.Tinha Samba Enredo muito bem elaborado e que homenageava a Professora Dona Marieta. Várias Alas e muita inovação, trazidas por Dr. Breno, seus parentes e amigos. Uma fantasia muito bonita com um macacão amarelo e preto. Escola de Samba própria. Era a BAGACEIRA estreando no Carnaval Itabaianense. Em 1978, a BAGACEIRA, foi um espetáculo à parte no Cenário Carnavalesco de Itabaiana.
Acendeu um " PISCA - ALERTA " na Diretoria do NÓ CEGO.
- A BAGACEIRA , CHEGOU PRÁ DESATAR O NÓ do NÓ CEGO ! Vamos tomar as devidas providências, no bom sentido, é claro !


A primeira providência, foi mandar confeccionar macacões com tecido de qualidade no Recife. Colocar a logomarca do bloco ( Nó Cego desenhado ) nas costas do macacão, sem patrocínios estampados, para que o usuário vestisse o ano inteiro, como uma vestimenta qualquer.
Uma contabilidade mínima seria necessário, com Receitas e Despesas, onde o lucro obtido com a venda dos macacões, cobrisse as despesas com a confecção dos mesmos, preço da Orquestra e eventuais despesas com viagens ou outros gastos extraordinários. O bloco não visava lucro algum.
O NÓ CEGO, em 1979, saiu à altura de rivalizar com a BAGACEIRA. Nesse ano, talvez Itabaiana tenha presenciado o maior Carnaval de Clube e de Rua de todos os tempos.


A " Rivalidade Amistosa " entre os dirigentes do NÓ CEGO E BAGACEIRA, incentivava essa " SALUTAR COMPETIÇÃO "Ao povão dizíamos que éramos rivais. Na realidade, éramos amigos estimulavamos a competição, visando o crescimento do Carnaval da Cidade.
Em 1980, aconteceu um fato curioso. Desde a fundação do NÓ CEGO, existia uma parceria entre o nosso bloco e a UNIÃO DE ARTISTAS E OPERÁRIOS no contrato das Orquestras. Nós pagavamos 40% do valor da orquestra, e a UNIÃO pagava os 60% restantes. Seu BERTO, assinava pela União e Luis Paraíba pelo NÓ CEGO.


Segundo o tesoureiro do NÓ, os 40% nosso já estava guardado, esperando apenas a assinatura do contrato. Segundo Seu Berto, 50% da parte que cabia à UNIÃO, já estava em caixa, com a venda antecipada de mesas. O restante seria arrecadado durante os bailes com a venda de mesas e ingressos individuais na bilheteria.


Ocorre que o Carnaval de 1980, foi muito bom e concorrido. Houve falta de Músicos e Orquestras no mercado. Seu BERTO nos procurou, e expôs o problema. Faltando 10 dias para o Carnaval, tínhamos tudo pronto e pago. Só faltava, a ORQUESTRA !


Colocamos os pés na estrada à procura de orquestras. Seu BERTO foi para um lado e Eu, Biu Caiau, Rangel e Trajano fomos para Cidades de Pernambuco onde sabíamos ter Bandas de música. Fomos à Timbaúba, Goiana, Itambé, um Distrito sei lá de onde , chamado MACUGÊ onde o carro de Biu Caiau quase fica atolado dentro dos canaviais e Nazaré da Mata ... NADA !
A turma da BAGACEIRA soube do fato e começou a espalhar o boato de quê o NÓ CEGO, não sairia por falta de Orquestra. E se saísse, seria com o Carro de Som de Ivo Severo tocando minhas Seleções de Frevos, Sambas e Marchinhas que eu tinha gravado em várias Fitas Cassetes. Ainda não existia CDs.
Passamos a semana toda procurando Orquestra, e...NADA !
Passei a pensar seriamente, na possibilidade de contratar Ivo Severo para conduzir o NÓ CEGO, pelas ruas, ao som de minhas Fitas Cassetes. O HINO DO NÓ CEGO ainda não tinha sido gravado. Não existia CDs !


Meu carro, uma Belina, quebrou e estava em uma oficina.
Na sexta-feira que antecedia o sábado de Carnaval, quase em desespero, lembrei que em Areia, tinha uma Banda de Música onde tocavam vários amigos e Colegas de Estudo. Fui nessa mesma noite na casa de Nicó Petronilo expus a situação e pedi emprestado o Opala Verde placa 0415 juntamente com o Motorista DAGA para na manhã seguinte, sábado de Carnaval, às 5 horas da manhã ir a Areia, fazer a última tentativa de contratar uma Orquestra. Contei prá ele toda a história. NICÓ chamou DAGA, mandou encher o tanque do Opala e disse que era sua contribuição ao NÓ CEGO. Quando saí da casa de NICÓ, fui direto a casa de Seu Berto e contei o ocorrido.
Seu BERTO já em desespero, topou na hora.


Às 5 horas da manhã em ponto, partimos para Areia, DAGA dirigindo o Opala, EU e Seu BERTO.
Chegando em Areia, procurei Antônio Ribeiro, músico, amigo e Colega de estudo em Areia, para ver a possibilidade de contratar uma Orquestra. Fui informado que ele e quase todos os componentes da Banda de Música, tinham sido contratados para tocar em Pilar e outras Cidades adjacentes.
Nossa última esperança estava indo embora !


Resolvi antes de voltar à Itabaiana, visitar o Bar de meu amigo TERCINO para beber, comer alguma coisa e rever o amigo.


Chegando ao Bar, contei minha Odisseia a TERCINO. Ele olhou prá mim e disse :
- Nem tudo está perdido CRIANÇA ! ( Criança ,era o meu apelido em Areia )
- Tem um Concluinte de Agronomia que toca Piston. Ontem ele esteve aqui com mais dois colegas de Curso, um toca Saxofone e o outro Trombone. Estavam revoltados, tomaram uma
" Cachaça de juntar menino atrás ", pois não tinham nenhum contrato ! Saíram se lamentando !
- Já é uma Orquestra ! A percussão, a gente arranja em Itabaiana. Onde eles moram, TERCINO ? Perguntei.


- Em uma República na Rua do Pirunga, a uns 100 metros da casa onde morasse. Pergunta aos vizinhos, que todo mundo ensina ! Respondeu TERCINO.
- TERCINO, daqui à pouco volto ! Vamos embora, seu Berto, procurar esses músicos ! Afirmei.
Saímos a procura do endereço e Seu BERTO disse : - Se sobraram, é porquê não tocam NADA !
- Vamos conferir, Seu Berto ! É nossa última oportunidade. Na situação que estamos, aparecendo um GATO TOCANDO TUBA ou o CÔCO DE PABULAGEM, eu contrato ! Respondi.
Logo achamos o endereço. Parecia uma cena de Guerra !


Três pessoas dormiam em esteiras espalhadas na sala. Roupas, restos de comidas, garrafas de bebidas vazias, uma Radiola Portátil e vários Discos de vinil de Frevos espalhados pelo chão da sala, completavam o cenário.


Bati palmas para acordar o trio. Acordaram assustados e meio " grogues " Me identifiquei dizendo que já tinha morado em Areia. Meu apelido era CRIANÇA. Era ex - aluno da Escola de Agronomia.Tinha muitos amigos em Areia e queríamos contrata-los para tocar em Itabaiana. E explicamos como seria o contrato. Toparam na hora, e o contrato foi de BOCA !


Os músicos tomaram banho, trocaram de roupas, arrumaram às bagagens e os Instrumentos, colocaram na mala do Opala.
Voltamos ao Bar de Tercino para comermos e bebermos alguma coisa, e fazer um pequeno ensaio de como era o HINO DO NÓ CEGO. Aprenderam na hora !
Seu Berto me chamou de lado e disse "


- Ainda bem que eu estava errado sobre o trio !
Tomamos mais algumas cervejas, pagamos a conta, agradecemos à Tercino e nos emprensamos os 6 no Opala de NICÓ e partimos para Itabaiana. Eram 4 horas da tarde. A BAGACEIRA, teria uma " SURPRESINHA " pelo boato que tinha criado e espalhado ao longo da semana Pré - Carnavalesca.
Durante todo o dia, não tivemos nenhuma comunicação com Itabaiana. Não havia celulares. Telefones residenciais, eram poucos e nem todo mundo, podia ter um em casa. O sábado inteiro, foi de ALTA TENSÃO em Itabaiana. A BAGACEIRA, confirmando o boato.


As evidências , eram claras. Os componentes do NÓ CEGO, ainda tinham vagas esperanças, de que um milagre acontecesse. Mas, estavam muito temerosos.


Chegamos em Itabaiana, às 17.30 horas da tarde. Paramos na casa de BRÃO. Mandei DAGA ir levar Seu BERTO em casa e recomendei aos dois, SIGILO ABSOLUTO sobre a Orquestra.
A casa de BRÃO, era o Quartel General do NÓ CEGO. Apresentamos os músicos a BRÃO e aos outros Componentes do Bloco, que já estavam em Polvorosa. Recomendei a todos, SIGILO ABSOLUTO sobre a ORQUESTRA. Chamei o meu Compadre Rangel e por conta do BOCÃO que ele tinha, mandei - o em uma MISSÃO SECRETA :


- Meu compadre, vá em frente a sinuca iniciar a preparação de uma SURPRESINHA para a BAGACEIRA !
- Chegue lá, avalie o ambiente e provoque dizendo que " VOCÊS PODEM TER UMA SURPRESINHA DE UMA HORA PRÁ OUTRA. VOCÊS JÁ VIRAM CARRAPETA DAR EM PIÃO ? NEM NINGUEM DESATAR O " NÓ " QUE O NÓ CEGO DEU ? " Querem apostar que o NÓ CEGO Sai ?
Rangel foi tão convincente em seu desafio, que ninguém quis apostar !
Eu contei a ele, o plano da sair da frente dos Correios com os músicos tocando o HINO DO NÓ CEGO, alguns componentes do bloco acompanhando, gritando e cantando a música do NÓ CEGO e a pirralhada fazendo zuada na frente. Eu todo melado de pó e confetes levando um litro de Rum Montilla na mão, abria o " DESFILE ". Ele ficasse na espectativa em frente à sinuca, pois quando eu soltasse as primeiras


" Pistoletas ", ele alarmasse, juntasse o povo e corresse para encontrar a PRESEPADA SURPRESA " para a BAGACEIRA. E assim foi feito.


Saíram gritando : - É O NÓ CEGO QUE VEM ALI, COM TODA " GOTA SERENA " !
O encontro se deu em frente à casa de Seu Zuquinha. Descemos juntos para frente da sinuca, sob os aplausos da multidão que estava nas calçadas. O relógio marcava 7 horas da noite quando a PRESEPADA chegou em frente à sinuca. A orquestra tocou o HINO DO NÓ CEGO por uns 15 minutos. A multidão gritava :


- NINGUÉM DESATA O NÓ ! NINGUÉM DESATA O NÓ ! NINGUÉM DESATA O NÓ ! Declaramos aberto o Carnaval de 1980 e os músicos foram tomar banho, jantar e se alojarem, para às 10 horas da noite iniciarem o Baile do União e na tarde do domingo saírem com o NÓ CEGO de frente da Sede dos Trabalhadores.


Eu e Breno, continuamos a " Competição Amistosa " entre nossos Blocos, por muito tempo. Nos intervalos dos Bailes, Breno e sua turma cantavam o Samba Enredo da Bagaceira. Nós do NÓ, cantávamos o Hino do Nó Cego. Isso, muito valorizou e tornou Grande, o Carnaval de Rua de Itabaiana.


O último ano que saí no NÓ CEGO, foi em 1983. Eu, ESTAVA Prefeito de Itabaiana de 31 de janeiro de 1983 à 09 de março de 1983. Exatos, 38 dias como Prefeito.
O Carnaval salvo engano, ocorreu em meados de fevereiro.
Convoquei os dirigentes das 4 maiores Agremiações Carnavalescas da Cidade à saber :
- NOSSO NÓ CEGO.
- A BAGACEIRA DE BRENO E AMIGOS.
- A ÚLTIMA HORA DE ZÉ DUDU.
- A ACADÊMICOS DO RITMO SE NÃO ME ENGANO DE EPITÁCIO.


Fiz uma modesta doação em dinheiro para essas Agremiações, uma quantia exatamente igual para todos.


Aos Blocos Menores, como Índios, bois, ursos, piranhas, piabas, etc, etc, etc, foi uma quantia menor, mas que contemplou a quase todos, de acordo com às possibilidades da Prefeitura.
Quase sou " Crucificado " nos PAUS DO NÓ CEGO, por alguns " Amigos Radicais " que entendiam, que BRIGA, é BRIGA e a BRIGA COM A BAGACEIRA, ERA PRÁ VALER !
A intenção da BRIGA, era na realidade, incentivar e promover o Carnaval de Itabaiana.
E nesse ano de 1983, segurando o PAU DA FAIXA ESTANDARTE DO NÓ CEGO, de um lado estava o DR. DEDÉ, Médico e Prefeito de Itabaiana. Do outro lado estava o nosso querido DR. VILINHO, Professor, Advogado e futuro Juiz de Direito e Desembargador.
Vou lembrar agora o nome de alguns FUNDADORES DO NÓ CEGO :


- Dr. Dedé, Dr, Vilinho, Dom-Dom sobrinho de Seu Adônis, Zé de Nana, Geraldo de Mário, Bau Marchante, Manoel Cezar, Rangel, Marcos e Cacá meus irmãos, Prof . Washington, Roberto Almeida, Jocemir, Orlando da Sucam, Lalá da Emater, Zé Marcos, Toinho da Viúva, Os Nicácios, Luiz Paraíba e irmãos, Pedrinho de Dona Laura, Fernando Petronilo, Biu Caiau e outros que agora me falha a memória.


Nesse final, faço uma Homenagem Especial, a uma pessoa que não foi Fundador do NÓ CEGO, mas , à partir do 2° ano do Bloco, em 1976, foi Corpo e Alma para o NÓ CEGO, durante 38 longos anos. Estou falando do Cidadão Ronaldo Silva Ramos, Nosso Estimado BRÃO, dono da Gráfica Beira - Rio.
A partir de 1976, BRÃO trouxe para si, o encargo de manter viva a Chama e às Tradições do NÓ CEGO. Tornou - se o " Faz Tudo ", a " Eminência Parda " do Bloco.
Enfrentou grandes dificuldades na condução do Bloco, praticamente,
sozinho .


O " Custo " NÓ CEGO, ao longo dos anos, ia tornando quase inacessível, a sobrevivência do Bloco. Arrebanhou parceiros e procurou tornar o Bloco Auto Suficiente. Zé Marinho e Biu Caiau, foram de grande importância para o Bloco, que um dia idealizei junto com umas duas dúzias de amigos no longínquo ano de 1975.


PARABÉNS, MEU AMIGO BRÃO !
Itabaiana, é muito rica em sua história, e na história de seus filhos. Está precisando de GENTE, para contar mais histórias suas ... e de seus filhos ...
Antes de encerrar , uma curiosidade :
AS MURIÇOCAS DO MIRAMAR FOI FUNDADA EM 1986.
O GALO DA MADRUGADA FOI FUNDADO EM 1978.
O NÓ CEGO FOI FUNDADO EM 1975.


JOSÉ BARBOSA DE LUCENA
( DR . DEDÉ )