
Minha geração lia uma revistinha americana chamada “Seleções do Reader’s Digest”, uma compilação de matérias publicadas pela imprensa ianque, geralmente promovendo o estilo de vida americano e combatendo o comunismo, na época da guerra fria. Nela havia uma sessão chamada “Meu tipo inesquecível”, onde se enfocava uma personalidade que marcou a vida de alguém.
Pois meu tipo inesquecível morava em Itabaiana, um distinto senhor chamado Estevão, comerciante de grãos, pessoa bondosa que muito ajudou minha família em tempos difíceis. Meu pai adoecera gravemente, passou muitos meses no hospital. Quando saiu de lá, teve a ajuda do senhor Estevão para reerguer-se. Esse senhor foi padrinho de minha irmã Vasti, batizada na fé católica apesar de nossas origens protestantes, tudo em deferência ao nosso benfeitor, católico fervoroso.
Morávamos em frente ao coreto, nos fundos de uma antiga mansão com paredes cobertas de azulejos portugueses. Pertencia a dona Joana, uma matriarca do lugar. O passado é desfile que passa e não volta. Mas os abalos afetivos ou morais continuam refletindo em nossas vidas, para sempre. Naquela época tive um momento inesquecível aos olhos de um garoto de 12 anos. Nosso bom Estevão ofereceu-se para comprar uma roupa nova para o Fabinho, que andava meio jogado fora, com as calças curtas já gastas e ralas pelo uso constante, camisa imprestável para ir à escola.
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