É temeroso sempre que os movimentos sindicais são misturados com interesses político-partidários, pois eles tiram da mobilização o caráter puro da busca por melhorias salariais e de condições de trabalho. E esse perigo se torna ainda maior quando a categoria em questão é responsável pela segurança do estado e a sua paralisação significa risco de morte para a população. Mas como tudo o que é ruim encontra um jeito de ficar pior: a coisa beira o caos quando os líderes do movimento, no caso da greve dos policiais, notadamente torcem para que uma grande catástrofe azeite as negociações por melhores salários. A intenção pode nem ser essa, mas é isso o que tem transparecido nas mobilizações colocadas em prática até agora. A primeira ocorreu no jogo entre São Paulo e Treze, em Campina Grande, quando a maioria dos policiais escalados não compareceram. Na oportunidade, houve tiros e confusão, mas poderia ter ocorrido morte. As imagens foram transmitidas para todo o país.
O segundo fato ocorreu na última segunda-feira, no jogo entre Botafogo e Auto Esporte, em João Pessoa. Em greve, alguns policiais tentaram impedir os colegas escalados de permanecerem no campo. Novamente poderia ter ocorrido morte. Mas nada se compara com o risco de amanhã, quando acontece o desfile do bloco Muriçocas do Miramar, em João Pessoa. O que precisa ser notado nisso tudo é que todas as manifestações, até agora, miraram períodos de festa, quando há a reunião de grandes multidões e, consequentemente, o risco de uma onda de violência. Por trás dessa sucessão de fatos, como todo mundo sabe, estão políticos derrotados nas urnas em 2010, munidos do desejo de sucesso nas eleições do próximo ano – todos usando como massa de manobra os policiais, que foram presenteados no governo de José Maranhão (PMDB) com um reajuste ilegal. A categoria, por isso, precisa tirar os políticos da linha de frente nas negociações e, a partir daí, saindo do zero, negociar o reajuste.