domingo, maio 15, 2011

CAFÉ COM PLÁSTICO: QUEM NÃO PAGA, NÃO PODE COBRAR.

As guerras, além de vítimas, são pródigas em revelar escândalos. Neste final de semana, a disputa entre duas empresas de Comunicação, com o governo Ricardo Coutinho no meio, revelou mais um: o Grupo São Braz, ligado à Rede Paraíba de Comunicação, sonegou o pagamento de mais de R$ 2 milhões em ICMS durante quatro anos.

A informação, se não for contestada, arranha a capa de lisura que inspira a atuação do grupo há anos no Estado. A notícia foi veiculada, claro, pelo Sistema Correio da Paraíba, cujo dono, ex-senador Roberto Cavalcanti, também é envolvido em processo de sonegação de imposto.

Na briga entre os sistemas de comunicação, o jogo, por assim dizer, estaria empatado. Um a um. A diferença, claro, é de que o processo de Cavalcanti já chegou às barras da Justiça e, portanto, já está mais avançado.

Agora, na briga com o governo Ricardo Coutinho, a Rede Paraíba de Comunicação perde um ponto. Um ponto importante, inclusive. Um ponto na moral.

Um grupo que esvazia os cofres públicos por não pagar impostos tem pouca moral pra cobrar boa aplicação das verbas públicas. Toda vez que a Cabo Branco filmar agora um hospital precário, uma delegacia fechada ou uma escola deteriorada, alguém vai dizer: “E vocês que não pagam os impostos pra que o Estado possa melhorar o hospital, reabrir a delegacia e reformar a escola?!”.

Claro que é romantismo achar que o motivo da defasagem no serviço público é fruto da sonegação de imposto. Claro que não é. Corrupção e má gestão são as maiores causas. Mas no caso em tela vale a tese: Só pode reclamar quem paga.

Além disso, o caso exposto pelo Sistema Correio, que ficou calado por dois anos quanto a eventuais falcatruas na gestão anterior, revela outra façanha do governo Maranhão III.

O governo usou as armas que tinha para arregimentar poderosos aliados para o processo de reeleição. Estamos diante de um caso típico, portanto, de tráfico de influência, cujo benefício ao Grupo São Braz se estendeu anos após anos, vindo desde o governo Cássio, que, digamos assim, não endureceu na cobrança nos anos em que a dívida foi se alastrando.

Estamos diante de um caso semelhante ao do Moinho Dias Branco, com potência cem vezes mais elevada.

A grande pergunta é apenas uma: caso haja um armistício na guerra entre a Globo na PB e o governo Ricardo Coutinho, a Paraíba verá mais uma vez a dívida perdoada mesmo num período de propalada crise financeira?

Em outras palavras, a sociedade verá, mais uma vez, seu dinheiro surrupiado em razão de um acordo de cavalheiros do governo com homens da imprensa?

Outra: mais próximo ao Sistema Correio, o governo RC irá amolecer na cobrança de dívidas das empresas ligadas ao grupo de Cavalcanti?

Ora, um aliado sonegador é amigo do governo e inimigo do povo.

Depois dessa denúncia, o governo Ricardo Coutinho tem a obrigação de recolher, administrativa ou judicialmente, todos esses impostos oriundos da produção do café. Esses e os demais que andam por aí se esquivando da Receita Estadual em troca de apoio e adesão ao novo projeto.

Além de procurar responsabilizar os envolvidos pela mágica contra os cofres públicos, a exemplo do ex-secretário Nailton Ramalho, que já serviu ao projeto do PSB.

Isso seria uma prova de respeito ao povo da Paraíba. Que sofre o dia inteiro em busca de uma vida digna e que, à noite, vê imagens do próprio sofrimento nos telejornais daqueles que se dizem defensores da sociedade, mas que a privam de mais recursos públicos.

Luís Tôrres
(imagem blog Itabaiana hoje)