(mapa com números de eleitores por cidades)
Mislene Santos
Com 467.970 mil eleitores, a cidade de João Pessoa é o maior colégio eleitoral da Paraíba. Coxixola é o menor, com 1.570 eleitores distribuídos em cinco secções eleitorais. Na Capital, o vereador mais votado, Edmilson Soares (PSB), foi eleito com 8.936 votos.
Com os votos de Edmilson, seria possível eleger 59 vereadores em Coxixola, levando em conta que o parlamentar mais votado da cidade recebeu apenas 151 votos.
Os votos de Edmilson também dariam para eleger 146 vereadores, em Coxixola, tendo como base os 61 votos obtidos pelo parlamentar que ficou em último lugar, na última eleição, naquela cidade.
Embora a eleição para vereador em uma cidade de pequeno porte demonstre ser mais fácil, devido ao baixo número de votos necessários para conquistar uma vaga na Câmara Municipal, todos os parlamentares da Capital, ouvidos pela reportagem do Correio, afirmaram que não têm pretensão de disputar cargos eletivos em outros municípios.
Santa Rita e Bayeux
“Eu não teria condições de me eleger em cidades como Cabedelo, Santa Rita ou Bayeux” garantiu Benilton Lucena (PT), o segundo vereador mais votado de João Pessoa na eleição de 2008. Ele obteve 7.472 votos.
Segundo o petista, o conhecimento que tem na Capital faz a grande diferença em uma eleição.
“Sou professor do Estado e do município há 30 anos, fui presidente do Sindicato dos Professores e isto facilita muito em uma eleição”, afirmou o parlamentar.
De acordo com o vereador de primeiro mandato e o menos votado (3.018 votos), Bruno Farias (PPS), por menor que seja a cidade “não existe facilidade para se eleger em nenhum lugar”. Segundo ele, o segredo da disputa não é o fato de se candidatar em uma cidade grande ou pequena.
Diferença superior a 6.000%
O segundo vereador mais votado de João Pessoa, Benilton Lucena, afirmou que gastou cerca de R$ 60 mil em sua última campanha, o que lhe rendeu 7.472 votos. O Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) aponta que o vereador mais votado de Coxiola, Robério Gonçalves (PSDB), eleito com 151 votos, gastou R$ 996,00. Uma diferença de mais de 6.000%.
Na Capital, Benilton afirmou que utilizou o montante “com combustível para visitar os bairros, com material gráfico, com pagamento do pessoal das bandeiras, alimentação entres outras despesas”.
Segundo consta no TRE, o vereador de Coxixola gastou R$ 600,00 (dos quase R$ 1 mil de sua campanha) com locação de veículos. O restante foi usado com produção de jingles, vinhetas e slogans, além de material impresso e combustível.
Segundo os dados do TRE, da segunda parcial da prestação de contas dos candidatos, o vereador Bruno Farias declarou que gastou pouco mais de R$ 33 mil e João dos Santos R$ 4,2 mil.
Maiores famílias são alvos eleitorais
DANIEL MOTTA
Com apenas 1.570 eleitores, o município de Coxixola, no Cariri paraibano, é o menor colégio eleitoral do Estado. Na ‘pequena notável’, como a cidade é conhecida na região, para um candidato vencer uma campanha eleitoral não é preciso gastar muito dinheiro, nem tampouco investir em propaganda.
Na época eleitoral, os candidatos aos cargos de vereador e de prefeito fazem peregrinação pelas residências dos eleitores para conquistar os votos necessários à vitória. A maioria dos candidatos tem como alvo as maiores famílias, por concentrarem um maior número de votos.
Dos 9 vereadores que atualmente compõem a Câmara do município, a maioria é parente. As facilidades de se ganhar uma eleição em Coxixola acabam atraindo pessoas de outras cidades para concorrer a uma vaga. Na última eleição municipal realizada em 2008, 19 candidatos concorreram às nove vagas, dos quais, três eram de outros municípios. O vereador mais votado, Robério Gonçalves Ribeiro (PSDB) obteve 151 votos e o menos votado foi Manoel José Alves (PMDB), que alcançou 61. Já o prefeito Nelson Honorato, foi eleito com 679 votos, apenas 26 a mais do que o adversário, que obteve 653.
“Vencer uma eleição em Coxixola não é muito difícil, basta você estar sempre presente, visitar os amigos e cultivar a amizade, além de sua família, que se torna um dos principais fatores para sua vitória”.
É o que afirma o vereador Manoel José Alves, que foi eleito com o menor número de votos. Com 70 anos de idade, Manoel de Duda como é conhecido na cidade, disse que desde a emancipação da cidade em 1994, que se candidata ao cargo de vereador, tendo vencido duas vezes, em 1996 e 2008.
O vereador destaca que, além da relação de amizade que possui com os moradores, os dois principais fatores que refletiram em sua vitória foram o apoio do eleitorado da zona rural, que é maior do que o da zona urbana, e os votos de sua família que chega a mais de 40 pessoas.
“Graças a Deus eu tenho uma família muito grande e isso é muito importante para um político em Coxixola. A família Alves Neves é sempre responsável por eleger mais de um vereador e eu sempre conto com o apoio de todos os meus parentes para chegar a uma das cadeiras do legislativo”, argumentou o vereador.
O poder da união de famílias de candidatos em Coxixola consegue barrar até candidatos de prestigio na cidade, como é o caso de médicos, engenheiros e professores que prestam serviços no município.
“Eu sou analfabeto e concorri com doutores e mesmo assim, eu consegui vencer e eles não. Isso é muito importante para mim, porque eles têm mais conhecimentos do que eu e acharam que por conta disso, iriam se eleger, mas o que importa para a população coxixolense é a amizade e eles preferiram a mim”, alegou o vereador.
Para esse ano, o vereador pretende dobrar a votação que teve na última campanha e espera atingir pelo menos 100 votos. Para alcançar a votação esperada, ele realizando visitas aos eleitores e divulgando as ações que poderá desenvolver caso seja eleito em outubro.
“Nossa campanha aqui é no corpo a corpo, de casa em casa, visitando os amigos, pedindo um votinho. Não deixamos somente para quando está perto das eleições, fazemos o possível para estar sempre próximo aos nossos eleitores, afinal a cidade é pequena e permite isso. Com as chances que tenho aqui, nunca teria coragem de mudar de domicilio eleitoral”, disse.
Mais votado já se elegeu três vezes
O vereador mais votado no último pleito, Robério Gonçalves, 33, já conseguiu se eleger três vezes e assim como os demais parlamentares da cidade, ele aponta que o apoio da família foi o fator crucial para as vitórias. Robério ressalta que somente de sua família, são mais de 40 votos. “Fiquei até preocupado na eleição passada, porque um primo meu também se candidatou, aí os votos da família tiveram que ser divididos entre eu ele e mesmo assim nós dois conseguimos nos eleger”, frisou.
Professor pelo Estado e município, Robério também acredita que a população de Coxixola preza pelos ‘filhos da terra’ e tenta manter o clima de paz da pacata cidade, evitando maiores conflitos. “Desde a primeira eleição, Coxixola sempre foi muito tranquila e nunca tivemos registro de violência por conta de acirramento político. Na cidade, tanto a oposição quanto a situação preferem viver em harmonia, mesmo com as divergências que sempre ocorrem”, revelou.
Assim como os moradores, os candidatos a prefeito também são beneficiados com o apoio das famílias e com a estreita relação com os moradores. O atual prefeito do município, Nelson Honorato (DEM) venceu as eleições de 2008 com 679 votos, o que representou 50, 98% dos votos válidos. O adversário Nanan (PSDB), que obteve 653. Apesar de a diferença ter sido de apenas 26 votos, o prefeito conta que para uma cidade do tamanho de Coxixola, esse total significa muito.
Ele disse que a briga por votos na cidade é constante, porque um eleitor é o suficiente para decidir uma campanha. “Por isso, é preciso está sempre fazendo o possível para agradar aos eleitores, investir em coisa que os beneficie, em ações sociais, além de estar sempre ao lado deles. Temos a vantagem de ser uma cidade pequena e por isso é mais fácil partir para um corpo a corpo, visitas sempre que possível, uma relação além de campanha. Existem coisas que a justiça não nos permite fazer como comícios, mas é possível outras formas de interagir com os eleitores, como eventos no comitê e carreatas”, disse Honorato.
Jornal Correio da Paraíba - 05/02/2012