Após uma semana de negociações com o PSDB, a candidata derrotada à
Presidência pelo PSB, Marina Silva, anunciou neste domingo (12) que
apoiará o candidato tucano Aécio Neves no segundo turno. A decisão foi
divulgada, em São Paulo, um dia depois de o presidenciável do PSDB
assumir, por meio de uma carta aberta,
uma série de compromissos para a área social, entre os quais parte das
condições impostas pela ex-senadora para apoiá-lo na reta final da
corrida pelo Palácio do Planalto.
"Tendo em vista os compromissos assumidos por Aécio Neves, declaro meu
voto e o meu apoio a sua candidatura. Votarei em Aécio e o apoiarei.
Votando nesses compromissos, dando um crédito de confiança à sinceridade
de propósitos do candidato e de seu partido e, principalmente,
entregando à sociedade brasileira a tarefa de exigir que sejam
cumpridos", disse Marina, ao final de um pronunciamento de cerca de meia
hora, ao lado de seu candidato a vice na eleição presidencial, deputado
Beto Albuquerque (PSB-RS).
"Não estou com isso fazendo nenhum acordo ou aliança para governar. O
que me move é a minha consciência, e assumo a responsabilidade pelas
minhas escolhas", complementou.
Entre as promessas assumidas pelo tucano no sábado, em resposta às
condições apresentadas pela ex-senadora, está, caso seja eleito, a
adoção de uma política ambiental sustentável, a priorização do ensino
integral no país e a criação de um fundo para tentar solucionar os
conflitos entre índios e produtores rurais, além do compromisso de que
irá trabalhar para que o Congresso Nacional aprove o fim da reeleição
para cargos executivos.
Marina substituiu Eduardo Campos - que morreu em um acidente aéreo, em agosto, durante a campanha eleitoral -, na corrida presidencial. Ela se filiou ao PSB, em outubro de 2013, em razão de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter negado registro partidário à Rede Sustentabilidade, o grupo político da ex-senadora.
Em meio à disputa pela Presidência, Marina chegou a ser apontada pelas
pesquisas eleitorais em empate técnico com a candidata do PT à
reeleição, Dilma Rousseff, deixando Aécio na terceira posição nas
simulações.
No entanto, na votação do último domingo (5),
Marina Silva obteve 22.176.619 votos (21,32%) e ficou em terceiro
lugar, mesma colocação da eleição de 2010. A petista recebeu 43.267.668
votos (41,59%) e o tucano, 34.897.211 (33,55%).
Na quarta-feira (8), três dias depois do primeiro turno, a executiva nacional do PSB anunciou, em Brasília, apoio ao presidenciável tucano. Marina, entretanto, não participou da reunião e decidiu condicionar seu apoio à inclusão
no programa de governo do PSDB de uma lista de pontos que ela
considerava "fundamentais" que fossem adotados pelo candidato tucano
para que ela abrisse o voto na candidatura dele.
Ela solicitou, por exemplo, que ele se comprometesse a acelerar a
reforma agrária no país, manter os direitos dos trabalhadores, dar
continuidade às demarcações de terras indígenas e de unidades de
conservação, além de adotar uma política “progressista” em relação ao
clima.
Marina também pediu que Aécio incluísse em seu programa de governo os
compromissos de implantar escolas em tempo integral, oferecer passe
livre a estudantes de escolas públicas e revisar a regra do fator
previdenciário.
O texto divulgado pelo tucano no sábado, que ele disse que foi
inspirado nas propostas divulgadas pela Rede – o grupo político da
candidata derrotada do PSB
–, contemplou parte das exigências de Marina. Não foram incluídas no
programa tucano, por exemplo, as propostas envolvendo a gratuidade do
transporte público e a reforma na regra previdenciária que inibe as
aposentadorias precoces.
Ao final do evento na capital de Pernambuco, o deputado federal Beto
Albuquerque (RS), que concorreu a vice na chapa de Marina, afirmou que o
documento divulgado por Aécio contemplava as reivindicações
apresentadas pela ex-senadora e abria caminho para ela declarar apoio ao
tucano. "Esse documento responde as contribuições que o PSB, a Rede,
eu, Marina e todos nós encaminhamos", enfatizou.