domingo, abril 12, 2015

Escolas públicas da Paraíba: dois lados de uma mesma moeda


Paredes pichadas, prédios sem muros, vazamento de esgoto, reformas abandonadas, insegurança, falta de funcionários e vários outros problemas de infraestrutura. Tudo isso foi encontrado em escolas públicas estaduais de Campina Grande. O JORNAL DA PARAÍBA visitou instituições nos últimos 15 dias e chegou a encontrar um caso onde 1.015 meninos e meninas dividem o mesmo banheiro na escola. Apesar do cenário negativo, é possível encontrar nessas instituições casos de professores, alunos e gestores que superam esses obstáculos, tomam iniciativas inovadoras, conquistam prêmios e rompem com o paradigma de que o ensino público está completamente defasado.
 
As situações mais graves de infraestrutura foram encontradas na escola Professor Anésio Leão, no bairro da Palmeira. A entrada da instituição já é precária, pois em 30 anos de história, o muro principal nunca foi aos menos pintado e parte dele está quebrado. O estacionamento já foi tomado por mato e entulhos, assim como as áreas que ficam entre os blocos das salas de aula. Os banheiros da escola começaram a passar por reforma em novembro de 2013, mas só o masculino ficou pronto, enquanto o feminino está completamente abandonado.
 
Por conta disso, até a semana passada meninos e meninas precisavam dividir o mesmo sanitário e um funcionário, que é porteiro da escola, foi deslocado do cargo para ficar em frente ao banheiro controlando a entrada de garotos e garotas.
 
Após a visita da reportagem, a direção da escola disponibilizou o banheiro dos funcionários para que as meninas usassem e deixou o banheiro coletivo apenas para os meninos. As obras nesta escola foram paralisadas em setembro do ano passado. De acordo com a direção, o serviço ficou pela metade e o que foi reparado ficou mal feito, já apresentando problemas. A reforma na biblioteca não foi concluída e faltam telhas e revestimento na laje, quando chove alaga tudo. Alguns livros que deveriam levar conhecimento aos alunos ficaram empilhados no chão da biblioteca, enquanto outros estão em uma sala menor, bagunçados.
 
Outro detalhe curioso na escola é que foram instaladas tomadas com terminais de três pontos em todas as salas, seguindo o novo padrão nacional, no entanto, não foi feita a instalação elétrica dos fios, deixando as tomadas sem energia. O colégio estadual da Palmeira está aberto para que qualquer pessoa entre, a qualquer hora do dia. Isso porque a construtora deixou o muro da escola com uma abertura e possibilita que diariamente pessoas da comunidade tenham acesso ao local, sem nenhuma restrição. A quadra poliesportiva está em situação precária e as aulas de educação física, as vezes não acontecem, pois os vândalos da invadem o espaço.
 
A diretora Maria Elza Moreira Franco, que responde pelos três turnos de aulas e passa o dia na escola, desabafou dizendo que “essa situação de menino e menina ter que dividir banheiro, não existe em nenhum lugar público. Já fizemos protestos e iremos continuar. Outro grave problema que temos aqui é a falta de funcionários para o apoio. Só temos um vigilante que fica na porta do banheiro e nós mesmo contratamos um segurança para ficar na frente da escola. Pagamos o salário dele com realização de brechós”, disse. (Especial para o JP)
 
Cenário de abandono e falta de cuidados
 
Quem passa em frente ao Caic José Jofilly, no bairro Malvinas, pode jurar que trata-se de uma escola abandonada ou fora de funcionamento. Isso porque as paredes foram ocupadas por pichações, as grades que cercavam a escola foram arrancadas e o mato está a sua volta. Entulhos de obras e até lixo que são jogados no local por moradores da comunidade também compõe esse cenário. Qualquer um têm livre acesso às dependências da escola. A prova disso é que diariamente jovens da comunidade invadem a quadra da escola para jogar futsal. A ausência de proteção gera insegurança e no início deste mês um aluno foi esfaqueado dentro da instituição.
 
Segundo a diretora Joene Alves de Macedo, desde que o Caic foi construído, há cerca de 20 anos, nunca passou por reformas, tendo apenas alguns reparos simples, apenas no bloco onde ficam as salas da aula. A quadra esportiva, estacionamento, demais dependências foram deteriorados por vândalos e também pelo tempo, sem restauração. “A escola era cercada por grades e os vândalos sempre arrancavam. Nós ajeitávamos em um dia e no outro já estavam tirando. Chegou um momento em que nós desistimos”, disse ela.
 
Para evitar problemas entre os alunos e invasores que ficam na escola, a direção orienta que os estudantes não saiam do bloco durante os intervalos de aula. No último dia 12 de março, um aluno de 16 anos sofreu uma facada no braço, após brigar com outro adolescente que invadiu o estabelecimento de ensino. O ferimento foi superficial e o aluno já se recuperou.
 
A diretora do Caic afirma que grande parte dos problemas seriam resolvidos se o muro fosse construído. Questionada sobre o porquê de não chamar a polícia para retirar os invasores, a diretoria disse que os funcionários têm medo represálias. (Especial para o JP)
 
Sem resposta da Secretaria de Educação
 
Durante os últimos 15 dias de produção desta reportagem, o JORNAL DA PARAÍBA questionou a Secretaria de Estadual da Educação (SEE) sobre os problemas de infraestrutura nas escolas e sobre as obras que não foram concluídas, mas nossas solicitações não foram respondidas. De acordo com a assessoria de imprensa, a secretaria solicitou respostas por parte da 3ª Região de Ensino, mas até o fechamento desta edição não houve retorno. Em Campina Grande existem 59 escolas públicas estaduais e cerca de 35 mil alunos matriculados.
 
Gestores, professores e alunos se unem e superam dificuldades
 
Apesar da falta de segurança e de infraestrutura ser uma realidade que atinge boa parte das escolas da rede estadual de Campina Grande, ainda há casos onde de gestores, professores e alunos não se limitam aos problemas do ambiente escolar. Eles superam os obstáculos, tomam iniciativas inovadoras, conquistam prêmios e rompem com o paradigma de que o ensino público está completamente defasado. Exemplos como esses são perceptíveis nas escolas Ademar Veloso Silveira, no bairro de Bodocongó; Caic José Jofilly e Escritor Alceu Amoroso Lima, ambas nas Malvinas.  Mesmo enfrentado dificuldades, elas e algumas outras se empenham para ter bons resultados. Os gestores concordam que se houvesse uma infraestrutura melhor, os rendimentos seriam maiores.
 
Prova disso é o caso do estudante Jonathan Bernardo de Oliveira, 15 anos. Ele estuda o 3º ano do ensino médio na escola Ademar Veloso Silveira, pretende ingressar em um curso de exatas na universidade e se destaca como o aluno que possui um dos melhores rendimentos da escola. Desde o 7º ano participando de campeonatos de matemática, em 2010 ele recebeu medalha de bronze por ter ficado em 3º lugar na Olimpíada Campinense de Matemática (OCM). Já em 2012 e 2013 ganhou menção honrosa nas Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). “Procuro me esforçar porque penso no meu futuro. Quero ter uma vida melhor do que a que eu tenho e sei que estudar é o melhor caminho”, destacou.
 
Para que o interesse pelos estudos seja despertado nos alunos, as escolas têm investido em projetos interdisciplinares.