Em café da manhã neste sábado, 15, o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva elogiou a atuação da presidente Dilma
Rousseff, durante a semana, para conter a crise. Lula e Dilma se
reuniram no Palácio da Alvorada, na véspera das manifestações contra o
governo, marcadas para o domingo, 16, para definir a estratégia de
enfrentamento das turbulências no cenário político e econômico.
Na avaliação do ex-presidente, o movimento pela desestabilização do
governo começa a arrefecer porque Dilma saiu do gabinete no Palácio do
Planalto, defendeu sua gestão e conseguiu mobilizar o Senado, movimentos
sociais e até empresários contra o impeachment.
Além disso, o governo ganhou tempo no Tribunal de Contas da União
(TCU), que analisa as contas de Dilma de 2014, e obteve vitórias no
Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Embora a crise não esteja superada, Lula fez uma análise mais otimista
do cenário e destacou a importância da parceria com o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB), na divulgação da "Agenda Brasil", que,
no seu diagnóstico, conseguiu desviar o foco da crise ao mirar na
reforma administrativa.
Observou, porém, que é preciso uma atenção redobrada à rebelião na
Câmara e às notícias negativas vindas do ajuste fiscal e da Operação
Lava Jato, que desvendou um esquema de corrupção na Petrobrás. Para
Lula, a presidente não deve deixar que a Lava Jato domine a "agenda" do
País. Além disso, ele acha que Dilma e a equipe econômica devem bater na
tecla do "pós-ajuste", destacando que tudo está sendo feito para
retomar o crescimento econômico.
Lula e Dilma definiram uma agenda de viagens a partir da próxima
semana. O roteiro começará por cidades do Nordeste. O ex-presidente irá a
Pernambuco e ela, ao Rio Grande do Norte. A debandada de eleitores do
Nordeste impressiona o governo porque a região sempre foi um celeiro de
votos do PT. Lula também irá a Minas Gerais, segundo maior colégio
eleitoral do País, onde o governador Fernando Pimentel (PT) enfrenta
dificuldades por causa de uma investigação da Polícia Federal contra
ele. (AE)
Para um presidente da República de qualquer país, é enaltecedor poder
contar que teve origem humilde. O americano Lyndon Johnson mostrava a
jornalistas um casebre no Texas onde, falsamente, dizia ter nascido. A
ideia era forçar um paralelo com a história, verdadeira, de Abraham
Lincoln, que ganhou a vida como lenhador no Kentucky. Lula teve origem
humilde em Garanhuns, no interior de Pernambuco, e se enalteceu com
isso. Como Johnson e Lincoln, Lula veio do povo e nunca mais voltou. É
natural que seja assim. Como é natural que ex-presidentes reforcem seu
orçamento com dinheiro ganho dando palestras pagas pelo mundo. Fernando
Henrique Cardoso faz isso com frequência. O ex-presidente americano Bill
Clinton, um campeão da modalidade, ganhou centenas de milhões de
dólares desde que deixou a Casa Branca, em 2001. Lula, por seu turno,
abriu uma empresa para gerenciar suas palestras, a LILS, iniciais de
Luiz Inácio Lula da Silva, que arrecadou em quatro anos 27 milhões de
reais. Isso se tornou relevante apenas porque 10 milhões dos 27 milhões
arrecadados pela LILS tiveram como origem empresas que estão sendo
investigadas por corrupção na Operação Lava-Jato.
Na semana passada, a relação íntima de Lula com uma dessas empresas, a
empreiteira Odebrecht, ficou novamente em evidência pela divulgação de
um diálogo entre ele e um executivo gravado legalmente por
investigadores da Lava-Jato. O alvo do grampo feito em 15 de junho deste
ano era Alexandrino Alencar, da Odebrecht, que está preso em Curitiba.
Alexandrino e Lula falam ao telefone sobre as repercussões da defesa que
o herdeiro e presidente da empresa, Marcelo Odebrecht, também preso,
havia feito das obras no exterior tocadas com dinheiro do BNDES. Os
investigadores da Polícia Federal reproduzem os diálogos e anotam que o
interesse deles está em constituir mais uma evidência da "considerável
relação" de Alexandrino com o Instituto Lula.
Fora do contexto da Lava-Jato, esse diálogo não teria nenhuma
relevância especial. Como também não teria a movimentação financeira da
LILS. De abril de 2011 até maio deste ano, a empresa de palestras de
Lula, entre créditos e débitos, teve uma movimentação de 52 milhões de
reais. Na conta-corrente que começa com o número 13 (referência ao
número do PT), a empresa recebeu 27 milhões, provenientes de companhias
de diferentes ramos de atividade. Encabeçam a lista a Odebrecht, a
Andrade Gutierrez, a OAS e a Camargo Corrêa, todas elas empreiteiras
investigadas por participação no esquema de corrupção da Petrobras.
Essas transações foram compiladas pelo Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda. O Coaf trabalha
com informações do sistema financeiro e seus técnicos conseguem
identificar movimentações bancárias atípicas, entre elas saques e
depósitos vultosos que podem vir a ser do interesse dos órgãos de
investigação. Neste ano, os analistas do Coaf fizeram cerca de 2 300
relatórios que foram encaminhados à Polícia Federal, à Receita Federal e
ao Ministério Público. O relatório sobre a LILS classifica a
movimentação financeira da empresa de Lula como incompatível com o
faturamento. Os analistas afirmam no documento que "aproximadamente 30%"
dos valores recebidos pela empresa de palestras do ex-presidente foram
provenientes das empreiteiras envolvidas no escândalo do petrolão.
O documento, ao qual VEJA teve acesso, está em poder dos
investigadores da Operação Lava-Jato. Da mesma forma que a conversa do
ex-presidente com Alexandrino Alencar foi parar em um grampo da Polícia
Federal, as movimentações bancárias da LILS entraram no radar das
autoridades porque parte dos créditos teve origem em empresas
investigadas por corrupção. Diz o relatório do Coaf: "Dos créditos
recebidos na citada conta, R$ 9 851 582,93 foram depositados por
empreiteiras envolvidas no esquema criminoso investigado pela Polícia
Federal no âmbito da Operação Lava-Jato". Seis das maiores empreiteiras
do petrolão aparecem como depositantes na conta da empresa de Lula
O ex-presidente tem uma longa folha de serviços prestados às
empreiteiras que agora aparecem como contratantes de seus serviços
privados. Com a Odebrecht e a Camargo Corrêa, por exemplo, ele viajava
pela América Latina e pela África em busca de novas frentes de negócios
junto aos governos locais. Outro ponto em comum que sobressai da lista
de pagadores da empresa do petista é o fato de que muitas das empresas
que recorreram a seus serviços foram aquinhoadas durante seu governo com
contratos e financiamentos concedidos por bancos públicos. Uma delas, o
estaleiro Quip, pagou a Lula 378 209 reais por uma "palestra
motivacional". Criada com o objetivo de construir plataformas de
petróleo para a Petrobras, a empresa nasceu de uma sociedade entre
Queiroz Galvão, UTC, Iesa e Camargo Corrêa - todas elas investigadas na
Lava-Jato. No poder, Lula foi o principal patrocinador do projeto, que
recebeu incentivos do governo. Em maio de 2013, ele falou para 5 000
operários durante 29 minutos. Ganhou 13 000 reais por minuto