Um crime premeditado,
motivado por ciúmes, e que
chocou parentes e amigos das
vítimas ocorreu na manhã de
ontem, no bairro do Grotão, em
João Pessoa. Cláudia Bernardino
dos Santos, de 44 anos, e a filha
mais nova, Vitória Querem Oliveira Sousa, 15, foram mortas a
facadas dentro de casa. Segundo
informações policiais, o principal suspeito é o companheiro
de Cláudia e padrasto de Vitória, o auxiliar de serviços gerais
Juvanildo Marcolino dos Santos,
de 49 anos. Ele teria ligado para
a filha legítima confessando o
crime, que teria sido motivado
pelo ciúme excessivo que ele
sentia pela adolescente. Com
base nas primeiras informações,
a polícia trabalha com hipótese
de crime passional.
Na frente da casa em que
antes morava um casal religioso e que tinha uma convivência
harmoniosa conforme vizinhos, o cenário era de lágrimas
e revolta de parentes e amigos
das vítimas. O acesso à casa de
Cláudia e Juvanildo foi impedido
pela polícia. Lá dentro, conforme a delegada que atendeu ao
caso, Adriana Guedes, percebia-
-se uma cena que ela definiu
como “desoladora” e que há
algumas horas tinha presencia-
do uma luta corporal, uma luta
pela vida. No chão de toda a
casa, muito sangue e quatro facas de cozinha ensanguentadas
delineavam como o crime teria
acontecido. As duas receberam
pelo menos dez golpes de faca
espalhados pelo rosto, pescoço
e tórax, morrendo no quarto da
menina.
Uma semana antes do crime, Juvanildo foi à casa da sua
irmã, onde pegou todos os documentos que ainda estavam
na casa dela. No dia do crime,
era por volta das 18h quando
Juvanildo foi à casa de sua filha
mais velha, que está grávida de
oito meses, deixar um cartão
de crédito. Por volta da meia-noite ele teria ligado para essa
mesma filha informando que tinha dinheiro no banco e que ela
podia usar como quisesse. Uma
hora depois, a ligação teve um
teor diferente: Juvanildo teria
confessado que matou Cláudia
e Vitória. Depois disso, ele desapareceu.
De acordo com uma das
vizinhas das vítimas, Josilene
Almeida, por volta da 1h foram
ouvidos gritos, mas esses pareciam vir da rua, não da casa de
ninguém. “Eu ouvi barulho de
portão. Alguém abriu a porta e
foi até o portão. Pensei que tinha sido o 'irmão Dinho' (como
o suspeito era conhecido) porque só tinha ele de homem em
casa e eu nem coloco minha
cara para fora de casa quando
tem essas coisas. Quando foi
de manhã, soube da notícia. Eu
fiquei e ainda estou espantada.
Os dois eram da igreja, viviam
bem, ele era um bom pai de família, mas tinha ciúme da me-
nina, e a mãe não gostava que
ele se metesse na vida da filha”,
revelou.
Conforme a delegada que
atendeu ao caso, Adriana Guedes, esse ciúme a respeito do qual a vizinha comentou chega-
va a ser doentio. “Segundo informações, ele perseguia a enteada
porque tinha intenção na me-
nina. Todos diziam que ele era
muito ignorante com a mulher
e perseguia a menina por conta
desse interesse. A mãe, descontente, estaria inclusive com vontade de se separar”, comentou
a delegada, que ainda detalhou
que a polícia ainda não tem
informações sobre o paradeiro
do suspeito. “Soubemos de um
possível sítio em Santa Rita e
estamos averiguando”, afirmou.
POR CAUSA DO PADRASTO, GAROTA FOI MORAR COM TIA...
O delegado Reinaldo Nó-
brega, que assumiu o caso,
informou que Juvanildo Marcolino nutria uma paixão não
correspondida por Vitória e,
por perceber isso, a menina
teria se mudado para a casa
de uma tia, onde ficou até a
noite da última quarta-feira.
“Ela foi para casa dormir com
a mãe, então o acusado, como
não a tinha ao seu lado, resolveu matá-la. Ao escutar o grito, a mãe foi para o quarto da
filha e também foi morta. Ele
premeditou. Sabia bem o que
pretendia fazer”, comentou,
revelando que, além de ir a
possíveis locais onde ele possa
estar e colher depoimentos de
conhecidos, a polícia também
foi à rodoviária para ver se ele
tomou algum destino pelo
local, mas, até o fechamento
desta edição, ainda não tinha
informações sobre seu paradeiro.
LEI MARIA DA PENHA
Conforme a cunhada de
Cláudia, uma das vítimas,
Cleide Monteiro, Juvanildo era
considerado alguém calmo
pela maioria das pessoas que o
conheciam, mas pessoas mais
próximas sabiam que ele não
era bem assim. “Eles brigavam
e Cláudia tinha medo porque
ele respondia a processo por
Maria da Penha, porque ele já
tinha tentado matar a ex-mulher, agrediu ela parece. Separou e faz 10 anos que vivia com
ela e agora acontece uma coisa
dessas. Foi uma barbaridade”,
2 perguntas
Para
Kailane Raquel de Oliveira,
filha mais velha de Cláudia
JP:
Como você ficou sabendo do crime?
Eu vim deixar meu filho na escola, mas antes passei na
casa da minha mãe. Bati na porta, mas ninguém atendeu,
então fui deixar ele e voltei pra casa. Depois disso, veio o
marido da filha de Juvanildo me dizer que ele tinha ligado
dizendo que tinha matado minha mãe e minha irmã. Eu saí
e fui à igreja para ver se elas estavam lá, mas não estavam.
Então eu corri para a casa da minha mãe com ele. Chegando
lá, quebrei o vidro da porta, minha avó mandou eu não fazer
isso, mas eu vi sangue na sala. Pedi para ele arrombar a porta.
Entramos e as portas dos quartos estavam fechadas. Então
arrombamos o da minha mãe e eu vi o sangue. Quando arrombei o da minha irmã, vi os corpos das duas. Mexi em Vitória e pedi para ela falar comigo, ela não falou. Minha mãe
já estava gelada.
JP:
A convivência deles era boa, segundo vizinhos.
Isso é verdade? Ele tinha mesmo interesse na sua irmã?
Eles viviam brigando, mas ela era da igreja e até as brigas
eram em silêncio. Minha mãe já tinha feito as malas dele,
mas ele não ia embora. Essa semana mesmo cheguei e eles
estavam brigando. O negócio dele era Vitória, ele era doente
por ela. Ele acabou com a minha vida. Eu quero justiça!