quarta-feira, junho 15, 2016

“Thaís, minha filha, vencemos”

“É como se eu tivesse enterrado de novo a minha filha.”, disse Hipernestre Carneiro, mãe da estudante Aryane Thaís Carneiro de Azevedo, assassinada em abril de 2010. A declaração foi dada após a prisão do acusado da morte, o bacharel em Direito Luiz Paes de Araújo Neto, condenado a 17 anos e seis meses de reclusão pelos crimes de homicídio qualificado e aborto. Ele se entregou no final da tarde de segunda-feira, em João Pessoa. 

Quando soube da prisão do acusado, Hipernestre Carneiro comemorou e contou que só conseguia gritar o nome da filha. “Thaís, minha filha, vencemos”, dizia. Ela temia que houvesse brechas na Justiça que permitisse que Luiz Paes continuasse solto. Logo após a confirmação, a mãe da jovem se reuniu com os outros dois filhos – um que mora em João Pessoa e a Aline Martins outra, nos Estados Unidos. Ao lembrar-se das lutas, do sofrimento até conseguir que o culpado cumprisse sua pena, o choro tomou conta e, nesse momento, diz que só sentiam a dor do dia que a estudante foi sepultada. “É como se eu tivesse enterrado de novo minha filha... Foi o que eu e meus filhos sentimos”, ressaltou. 

No computador e em algumas partes do apartamento onde mora, Hipernestre Carneiro mantém guardada as fotos da filha, dos momentos alegres que compartilhou com a família. “O que agora me resta é saudades”, afirmou. Ela lembrou que durante esse tempo foram feitas várias camisas, banners pedindo o fi m da impunidade e justiça. A mãe da jovem revelou que a partir de agora vai ter que aprender a viver com a ausência da filha. 

DEPOIMENTO: 
“A dor que a família dele está passando, de ver um filho atrás das grades, é aquela labuta, o caminho, o deserto que eu venho enfrentando nesses seis anos. A peregrinação, a cruz pesada que eu tenho carregado nesses seis anos, a família dele começou ontem. Ele vai sentir na pele o que é ter que afastar um filho de um pai, um pai de um filho. Eu sei que o tempo dele tem determinação, tem um certo prazo. O meu não tem prazo... É para o resto da vida. Eu peço desculpa aos familiares dele, aos pais, porém, o que eu tenho para dizer que eu busca há tempos: eu tenho direito à justiça”. 
Hipernestre Carneiro, mãe de Aryane Thais 

“O luto não acaba nunca” 
A psicóloga do Hapvida, Marcela Clementino, explicou que é uma situação de crise para as duas famílias. “É necessário revivenciar essa crise, ressignificando o que aconteceu. Muitas vezes pode ter sentimento de culpa e muito sentimento de tristeza. É saber lidar com o luto e vivenciar tanto do lado da namorada quanto a nova imagem desse rapaz que cometeu esse crime e que também é um luto da família dele. O luto em si não acaba nunca. Quando a gente perde um ente querido, a gente luta para o resto da vida. O que muda é a forma que a gente lida com a perda”. 

Jornal Correio da Paraíba, quarta-feira, 15 de junho 2016.