terça-feira, julho 26, 2016

Falta estrutura para enfrentar bandidos, diz comandante da PM.


PM sabia de ataque, mas não reprimiu... 

Falta estrutura para enfrentar bandidos que explodem bancos, admite o comandante da PM, Euller Chaves. “Eles usam calibre 5.56, 7.62, .30 e .50. Nós usamos .40, de uso urbano e não de combate”. PMs foram orientados a não agir no 2º ataque a banco no Bessa Shopping, na Capital, “para preservar a vida dos reféns e dos policiais”

Sobre ‘faroeste’ na Capital. 

Comandante confirma que PM sabia da ação dos bandidos, mas decidiu não agir para resguardar vidas.

Morar ou trabalhar vizinho a uma agência ou terminal de auto-atendimento bancário é conviver com o medo diariamente. Este ano, dos 61 ataques, 34 foram explosões. A última foi no Bessa Shopping, na madrugada de sábado. O comandante da Polícia Militar, coronel Euller Chaves, confirmou que a polícia sabia e acompanhou a ação dos bandidos, mas não agiu para preservar a vida dos reféns e dos policiais. Ele garantiu que os acusados serão presos e rebateu as críticas sobre a falta de policiamento e de ação efetiva da PM diante do ‘faroeste’, na Capital. “O efeito surpresa é fundamental na bandidagem. Não somos Deus, onipresente e onisciente dos fatos. Polícia não é Deus, faz parte do Estado. Nós precisamos de mais efetivo, sim, mas nós temos sim segurança objetiva”, disse em entrevista ao Programa Correio Manhã, da 98 FM. 

O shopping ainda mostra as marcas da violência: o forro caiu, a fiação danificada, portas de outros estabelecimentos quebrados, e o terminal de autoatendimento da Caixa interditado. Os caixas do Banco do Brasil explodidos em junho também permanecem interditados. Leonardo Vicente Patrício, que trabalha no shopping não se sente seguro. 

“A gente fica muito assustado, com medo que isso aconteça quando a gente tiver trabalhando. A violência está cada vez pior. As pessoas estão deixando de frequentar o lugar, perdemos clientes. E não é só a banco. Nas paradas de ônibus é comum ter assaltos. Fui assaltado na Ruy Carneiro quando voltava da praia com minha esposa e filhos. Todo mundo tem medo de sair de casa. As autoridades não fazem nada”, contou o churrasqueiro. O sushiman Amaury Domingos pede mais segurança. “Não tem segurança, o bandido faz o que quer. Cheguei de manhã para trabalhar e estava tudo destruído, os caixas só a lataria. Perigoso está até para andar de ônibus. A gente que sai tarde do trabalho nos fins de semana anda com medo. Tem medo até de sair de casa”, disse. 

Medo constante. 
O balconista Edilson Brito trabalha em uma padaria que fica em frente a uma agência bancária no Bessa. O medo do que possa acontecer é constante. “Já houve explosões aí, só que de madrugada. O receio existe, mas, o policiamento aumentou. A violência é generalizada, em qualquer lugar, a gente tem medo de sair de casa”, revelou. “Estar mais perto de agência bancária assusta com certeza. A população inteira diz que a violência está grande em qualquer lugar. Quase todo dia tem assalto no Bessa. O criminoso está solto e o cidadão é que fica preso, se isolando dentro da própria casa”, ressaltou a comerciante Reia Brito. Em Manaíra, seu Carlos Alberto Freitas tem uma loja que fica entre quatro agências bancárias. Mas, para ele, isso não é um problema. “Por aqui tem muito policiamento. Mas, já arrombaram aqui e tive que botar segurança e cerca elétrica. Todo mundo reforçou os portões. É o que podemos fazer para nos defender. Tenho outra loja na Torre e os bandidos levaram as câmeras também. Minha casa no Jardim dos Ipês também foi assaltada. Minha fi - lha, foi vítima de assalto na porta de casa. O perigo se alastrou de ponta a ponta”, afirmou o comerciante. 

Na orla. 
O médico Ferdinando César Batista está há uma semana na capital paraibana. É a primeira vez que passa férias em João Pessoa. Apesar de considerar a orla tranquila, ele informou que não viu policiamento durante as caminhadas. “Venho sempre de manhã e fim de tarde. Não vi nenhum incidente, mas, também não vejo polícia”, declarou. A historiadora Otávia Moraes já pensa em se mudar do bairro. “Polícia na orla só quando tem festa. Mas, nunca aconteceu nada comigo aqui. Fui assaltada quando saí de um banco e estava entrando em casa. Moro perto do Bessa Shopping e toda semana a gente sabe de explosões a bancos. Vivo falando de me mudar. Tudo assusta, tanto o bandido altamente armado quanto o trombadinha podem fazer mal. Precisa de muita coisa para frear a violência: educação, emprego, mudar essa mentalidade de que as coisas são assim mesmo”, narrou. Jornal Correio
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A posição da Polícia Militar 

“Cada caso é um caso. Na atividade militar a dinâmica é muito grande. Precisamos nos colocar no lugar dos outros. A polícia tem um papel público, sobretudo de preservação de vidas alheias. O Ciop orientou ao comando daquela guarnição que aguardasse o desfecho de algo que não caberia enfrentamento, mesmo que eles tivessem calibre correspondente aos marginais, que não têm responsabilidade pública com os outros. Eles usam calibre 5.56, 7.62, .30 e .50. Nós usamos .40, de uso urbano e não de combate. A PM e a Civil continuam firmes, mas, temos responsabilidade pública. E ela está em primeiro lugar em detrimento a dinheiro privado e valores materiais. Segurança pública é algo sério, cuidar da vida de terceiros e da própria vida. Prefiro fatos dentro da ordem do que amanhã estar enterrando policiais ou famílias mortas. Tivemos um desfecho relativamente tranquilo dentro da realidade que é do país. A ocorrência em si, na íntegra durou em torno de 20 minutos. Mas, a partir do instante que chega um fato dessa ordem às 4h30, é diferente. É preciso que a gente vivencie na prática isso para poder opinar, estabelecer juízos de valor e fazer críticas. A priori, o Ciop agiu corretamente, preservou a vida dos seus companheiros que estavam na rua e estabeleceu o desfecho da ocorrência. Houve acompanhamento dos marginais, eles liberaram os veículos logo depois e isso foi mostrado publicamente. E nós vamos, a seu tempo, no tempo correto, com equilíbrio, com prudência e com respeito às vidas humanas, prender esses meliantes. Até quando eu não sei eles vão permanecer presos, porque infelizmente também, a legislação criminal brasileira não nos ajuda a validar os nosso atos. Acionar o helicóptero Acauã nesse horário é complicado, tudo isso foi muito diferente. As pessoas têm naturalmente as suas limitações, não podemos fazer julgamento prévio. Não é um fato isolado que algumas pessoas possam desfazer as ações desses profissionais que estão indo para as ruas, dando fi m às suas vidas, dando seu tempo, renunciando em razão dos cidadãos e agora em um fato isolado, estabelecendo juízos de valor muitas vezes cretino e leviano. Poderíamos termos hoje fatos muito mais lamentáveis, sanguinários. Quem é responsável pelo Estado tem que fazer Lei de Responsabilidade Fiscal. Todos nós queremos mais e precisamos de mais policiais, médicos, promotores juízes, sistema penitenciário adequado. Todas as atividades humanas que fazem parte do estado brasileiro precisam de mais gente. Mas, nós temos as limitações financeiras, legais, que limitam estabelecer atitudes desse tipo. Mesmo a França, Turquia, Alemanha, que estão com efetivos maravilhosos não têm evitado ataques terroristas, com taxas mínimas de violência. Teoricamente, têm polícias maravilhosas. Morrem 84 pisoteados por caminhões, morrem 15 assassinados por malucos. E os Estados Unidos também. Que polícia do mundo evita fatos planejados na calada da madrugada? O Programa Paraíba pela Paz tem reduzido os índices de crimes letais e intencionais e alguns tipos vinculados aos crimes contra o patrimônio. Este tipo de explosão bancária é fruto desde 2010, 2011. É que as pessoas não se lembram, mas eu lembro. O banco foi explodido, mas, não teve a mesma repercussão, porque temos redes sociais, a informação, que vira na cabeça das pessoas, um clamor, um pânico, um terror. É preciso calma e prudência no passar as informações. Haveria possibilidade de mais reforços e foi acionado, mas, levou um tempo. E as pessoas quando viram o cenário do crime, tiveram essa prudência de observar, porque tinha refém, evitar confronto e acompanhar. Essa foi a colocação trazida pelo capitão Antônio, comandante daquela companhia específi ca. Esse episódio dentro de um aspecto protocolar, é o procedimento padrão. A guarnição teve essa iniciativa orientada pelo Ciop”. 

Coronel Euller Chaves, 
comandante da PMPB, em entrevista ao Correio da manhã, da 98 FM