PM sabia de ataque,
mas não reprimiu...
Falta estrutura para enfrentar bandidos que
explodem bancos, admite o comandante da
PM, Euller Chaves. “Eles usam calibre 5.56,
7.62, .30 e .50. Nós usamos .40, de uso urbano
e não de combate”. PMs foram orientados a
não agir no 2º ataque a banco no Bessa Shopping,
na Capital, “para preservar a vida dos
reféns e dos policiais”
Sobre ‘faroeste’ na Capital.
Comandante confirma que PM sabia da ação dos bandidos, mas decidiu não agir para resguardar vidas.
Morar ou trabalhar vizinho
a uma agência ou terminal de
auto-atendimento bancário
é conviver com o medo diariamente.
Este ano, dos 61
ataques, 34 foram explosões.
A última foi no Bessa Shopping,
na madrugada de sábado.
O comandante da Polícia
Militar, coronel Euller Chaves,
confirmou que a polícia
sabia e acompanhou a ação
dos bandidos, mas não agiu
para preservar a vida dos reféns
e dos policiais. Ele garantiu
que os acusados serão
presos e rebateu as críticas
sobre a falta de policiamento
e de ação efetiva da PM diante
do ‘faroeste’, na Capital.
“O efeito surpresa é fundamental
na bandidagem. Não somos Deus, onipresente e
onisciente dos fatos. Polícia
não é Deus, faz parte do
Estado. Nós precisamos de
mais efetivo, sim, mas nós
temos sim segurança objetiva”,
disse em entrevista ao
Programa Correio Manhã, da
98 FM.
O shopping ainda mostra
as marcas da violência: o forro
caiu, a fiação danificada,
portas de outros estabelecimentos
quebrados, e o terminal
de autoatendimento
da Caixa interditado. Os caixas
do Banco do Brasil explodidos
em junho também
permanecem interditados.
Leonardo Vicente Patrício,
que trabalha no shopping
não se sente seguro.
“A gente fica muito assustado,
com medo que isso aconteça
quando a gente tiver
trabalhando. A violência está
cada vez pior. As pessoas estão
deixando de frequentar
o lugar, perdemos clientes. E
não é só a banco. Nas paradas
de ônibus é comum ter assaltos.
Fui assaltado na Ruy
Carneiro quando voltava da
praia com minha esposa e filhos. Todo mundo tem medo
de sair de casa. As autoridades
não fazem nada”, contou
o churrasqueiro.
O sushiman Amaury Domingos
pede mais segurança.
“Não tem segurança, o
bandido faz o que quer. Cheguei
de manhã para trabalhar
e estava tudo destruído,
os caixas só a lataria. Perigoso
está até para andar de ônibus.
A gente que sai tarde do
trabalho nos fins de semana
anda com medo. Tem medo
até de sair de casa”, disse.
Medo constante.
O balconista
Edilson Brito trabalha
em uma padaria que fica em
frente a uma agência bancária
no Bessa. O medo do que
possa acontecer é constante.
“Já houve explosões aí, só
que de madrugada. O receio
existe, mas, o policiamento
aumentou. A violência é generalizada,
em qualquer lugar,
a gente tem medo de sair
de casa”, revelou.
“Estar mais perto de agência
bancária assusta com
certeza. A população inteira
diz que a violência está grande
em qualquer lugar. Quase
todo dia tem assalto no Bessa.
O criminoso está solto e o
cidadão é que fica preso, se
isolando dentro da própria
casa”, ressaltou a comerciante
Reia Brito.
Em Manaíra, seu Carlos
Alberto Freitas tem uma loja
que fica entre quatro agências
bancárias. Mas, para ele,
isso não é um problema. “Por
aqui tem muito policiamento.
Mas, já arrombaram aqui
e tive que botar segurança e
cerca elétrica. Todo mundo
reforçou os portões. É o que
podemos fazer para nos defender.
Tenho outra loja na
Torre e os bandidos levaram
as câmeras também. Minha
casa no Jardim dos Ipês também
foi assaltada. Minha fi -
lha, foi vítima de assalto na
porta de casa. O perigo se alastrou de ponta a ponta”,
afirmou o comerciante.
Na orla.
O médico Ferdinando
César Batista está há
uma semana na capital paraibana.
É a primeira vez que
passa férias em João Pessoa.
Apesar de considerar a orla
tranquila, ele informou que
não viu policiamento durante
as caminhadas. “Venho
sempre de manhã e fim de
tarde. Não vi nenhum incidente,
mas, também não vejo
polícia”, declarou.
A historiadora Otávia Moraes
já pensa em se mudar
do bairro. “Polícia na orla só
quando tem festa. Mas, nunca
aconteceu nada comigo
aqui. Fui assaltada quando
saí de um banco e estava entrando
em casa. Moro perto
do Bessa Shopping e toda semana
a gente sabe de explosões
a bancos. Vivo falando
de me mudar. Tudo assusta,
tanto o bandido altamente
armado quanto o trombadinha
podem fazer mal. Precisa
de muita coisa para frear a
violência: educação, emprego,
mudar essa mentalidade
de que as coisas são assim
mesmo”, narrou. Jornal Correio
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A posição da Polícia Militar
“Cada caso é um caso. Na atividade militar a dinâmica é muito grande. Precisamos nos colocar
no lugar dos outros. A polícia tem um papel público, sobretudo de preservação de vidas alheias.
O Ciop orientou ao comando daquela guarnição que aguardasse o desfecho de algo que não
caberia enfrentamento, mesmo que eles tivessem calibre correspondente aos marginais, que
não têm responsabilidade pública com os outros. Eles usam calibre 5.56, 7.62, .30 e .50. Nós
usamos .40, de uso urbano e não de combate. A PM e a Civil continuam firmes, mas, temos
responsabilidade pública. E ela está em primeiro lugar em detrimento a dinheiro privado e
valores materiais. Segurança pública é algo sério, cuidar da vida de terceiros e da própria vida.
Prefiro fatos dentro da ordem do que amanhã estar enterrando policiais ou famílias mortas.
Tivemos um desfecho relativamente tranquilo dentro da realidade que é do país.
A ocorrência em si, na íntegra durou em torno de 20 minutos. Mas, a partir do instante que
chega um fato dessa ordem às 4h30, é diferente. É preciso que a gente vivencie na prática
isso para poder opinar, estabelecer juízos de valor e fazer críticas. A priori, o Ciop agiu
corretamente, preservou a vida dos seus companheiros que estavam na rua e estabeleceu o
desfecho da ocorrência. Houve acompanhamento dos marginais, eles liberaram os veículos
logo depois e isso foi mostrado publicamente. E nós vamos, a seu tempo, no tempo correto,
com equilíbrio, com prudência e com respeito às vidas humanas, prender esses meliantes.
Até quando eu não sei eles vão permanecer presos, porque infelizmente também, a
legislação criminal brasileira não nos ajuda a validar os nosso atos.
Acionar o helicóptero Acauã nesse horário é complicado, tudo isso foi muito diferente. As
pessoas têm naturalmente as suas limitações, não podemos fazer julgamento prévio. Não
é um fato isolado que algumas pessoas possam desfazer as ações desses profissionais que
estão indo para as ruas, dando fi m às suas vidas, dando seu tempo, renunciando em razão
dos cidadãos e agora em um fato isolado, estabelecendo juízos de valor muitas vezes cretino
e leviano. Poderíamos termos hoje fatos muito mais lamentáveis, sanguinários.
Quem é responsável pelo Estado tem que fazer Lei de Responsabilidade Fiscal. Todos
nós queremos mais e precisamos de mais policiais, médicos, promotores juízes, sistema
penitenciário adequado. Todas as atividades humanas que fazem parte do estado brasileiro
precisam de mais gente. Mas, nós temos as limitações financeiras, legais, que limitam
estabelecer atitudes desse tipo. Mesmo a França, Turquia, Alemanha, que estão com
efetivos maravilhosos não têm evitado ataques terroristas, com taxas mínimas de violência.
Teoricamente, têm polícias maravilhosas. Morrem 84 pisoteados por caminhões, morrem 15
assassinados por malucos. E os Estados Unidos também. Que polícia do mundo evita fatos
planejados na calada da madrugada?
O Programa Paraíba pela Paz tem reduzido os índices de crimes letais e intencionais e alguns
tipos vinculados aos crimes contra o patrimônio. Este tipo de explosão bancária é fruto
desde 2010, 2011. É que as pessoas não se lembram, mas eu lembro. O banco foi explodido,
mas, não teve a mesma repercussão, porque temos redes sociais, a informação, que vira
na cabeça das pessoas, um clamor, um pânico, um terror. É preciso calma e prudência no
passar as informações. Haveria possibilidade de mais reforços e foi acionado, mas, levou um
tempo. E as pessoas quando viram o cenário do crime, tiveram essa prudência de observar,
porque tinha refém, evitar confronto e acompanhar. Essa foi a colocação trazida pelo capitão
Antônio, comandante daquela companhia específi ca. Esse episódio dentro de um aspecto
protocolar, é o procedimento padrão. A guarnição teve essa iniciativa orientada pelo Ciop”.
Coronel Euller Chaves,
comandante da PMPB, em entrevista ao Correio da manhã, da 98 FM