sábado, agosto 13, 2016

Oligarquias: Famílias sumiram politicamente na Paraíba.


Mais de 30 famílias que já foram influentes na política da Paraíba, hoje não apitam mais em nada, ou em quase nada. Algumas delas mal conseguem eleger um prefeito ou um vereador no interior. Outras foram banidas completamente. Há algumas que se desfizeram da política partidária recentemente. A família Lucena, embora mantenha resquícios políticos, com a ex-deputada Iraê Lucena na Executiva Nacional do PSDB e na direção nacional do PSDB Mulher, começou a degringolar depois da morte do pai dela, o ex- senador Humberto Coutinho de Lucena. O pai de Humberto, Severino Lucena, foi deputado estadual. O avô dele (bisavô de Iraê), Solon de Lucena (que hoje dá nome à Lagoa, na Capital), foi duas vezes governador da Paraíba (de 1º de julho a 22 de outubro de 1916 e entre 22 de outubro de 1920 e 22 de outubro de 1924). Um Lucena que figurou na política, com passagem efêmera, foi o ex-vice-prefeito de João Pessoa, Haroldo Lucena, irmão de Humberto e tio de Iraê. Ainda falando em Lucena, outro ramo da família se desfez politicamente há pouco tempo. Isto porque o ex-governador, ex-prefeito de João Pessoa e ex-senador Cícero Lucena aposentou as chuteiras recentemente. A participação desse ramo dos Lucena na política se resume à ex-vice-governadora Lauremília Lucena, que hoje comanda o diretório municipal do PSDB da Capital.

Tarcísio Burity arriscou sem êxito... 
A família Mirada Burity passou a ter influência na política da Paraíba quando o professora Tarcísio de Miranda Burity, então secretário de Educação do Estado, no Governo de Ivan Bichara Sobreira (1975-1978), foi escolhido (durante o regime militar) para ser governador da Paraíba. Burity assumiu em março de 1979 e governou até 1982, quando se desincompatibilizou do cargo para disputar uma vaga na Câmara Federal. Era o início de mais um clã familiar na política. Foi o deputado federal campeão de votos na Paraíba em 1982, quando obteve 173 mil sufrágios, um recorde de votação que só foi batido em 2014 pelo fi lho do senador Cássio Cunha Lima, o hoje deputado federal Pedro Cunha Lima, que obteve 179.886 votos. Em 1986, Burity voltou a ser governador, eleito democraticamente no rastro do Plano Cruzado do Governo do presidente José Sarney. Um sobrinho, Ivan Burity, se elegeu deputado federal. Outro sobrinho, Roberto, ganhou vaga na Assembleia. Um terceiro sobrinho, Ricardo Burity, foi vereador em João Pessoa. Um irmão, Antônio Burity, foi prefeito de Ingá várias vezes. Hoje, no entanto, nenhum Burity ocupa mais cargos relevante. A família, no máximo, consegue emplacar um de seus membros em cargos de segundo escalão, seja no Estado ou na Prefeitura de João Pessoa, vez por outra.

Mariz não deixou herdeiros 
O exemplo da família Burity se repetiu na família Mariz. Depois que o ex-deputado- federal, ex-senador e ex-governador Antônio Mariz morreu, acabou a participação da família na política. A viúva, Mabel, e as fi lhas não quiseram dar continuidade à carreira política de Antônio Mariz, inciada pelo pai dele, José Mariz, que foi secretário de Interior no Governo de Argemiro de Figueiredo (interventor do Estado nomeado por Getúlio Vargas durante a ditadura do estado Novo), na década de 1930. Por algumas vezes, José Mariz assumiu interinamente a Interventoria, substituído Argemiro. Um dos prazos mais longos ocorreu entre 27 de dezembro de 1934 e 21 de janeiro de 1935.

Historiador reconhece o declínio 
Autor do livro “História da Paraíba”, que está na 13ª edição, o professor e historiador José Octávio de Arruda Melo, reconhece o declínio e até o desaparecimento de tradicionais famílias do cenário político e econômico do Estado da Paraíba. No entanto, segundo ele, novas oligarquias estão se formando de 30 anos para cá, a exemplo da Paulino e da Toscano, no município de Guarabira, com influência em toda a região do Brejo paraibano Guarabira. “Houve o declínio das grandes famílias e começaram a emergir novas famílias. Na verdade,não ocorre mudança de fundo, mas de forma. Mudam apenas os sobrenomes”, disse José Octávio. Segundo ele, o que existe hoje, advindo das antigas famílias, “não passa de farrapos das oligarquias”.

Pessoa, a família mais poderosa... Epitácio e João. Tio e Sobrinho estenderam influência da Paraíba para o Brasil; hoje, o clã inexiste politicamente
Família mais poderosa e influente do que a Pessoa, talvez não tenha existido na política da Paraíba. A família teve de vereadores e deputados estaduais e federais, senadores, governadores e presidente da República. A maior estrela da família Pessoa, o ex-presidente da República, Epitácio Pessoa, chegou a montar uma das mais poderosas oligarquias da história. Epitácio foi presidente entre 28 de julho de 1919 e 15 de novembro de 1922. Foi senador pela Paraíba entre 3 de maio de 1924 e 24 de outubro de 1930. Exerceu o segundo mandato de senador entre 3 de maio de 1913 e 28 de julho de 1919. Ainda foi ministro do Supremo e procurador-Geral da República. Epitácio foi o mais influente, mas o sobrinho, João Pessoa, foi o mais famoso. João era presidente do Estado, quando foi assassinado em julho de 1930. O crime teve ampla repercussão nacional porque meses antes, ele tinha disputado a vice-presidência da República, na chapa encabeçada por Getúlio Vargas. Os dois foram derrotados. Além de Epitácio e João Pessoa, parentes deles como o coronel Antonio Pessoa (irmão de Epitácio e tio de João) foi presidente da Paraíba, de 24 de julho de 1915 a 1º de julho de 1916. Ele era vice de Castro Pinto e assumiu após renúncia do presidente. Outro irmão de João Pessoa, o marechal José Pessoa, não seguiu carreira política. Optou pela carreira militar no Exército. Em 1954, José Pessoa foi convidado pelo presidente Café Filho para a presidência da Comissão de Localização da Nova Capital Federal, encarregada de examinar as condições gerais de instalação da cidade que, no Governo de Juscelino Kubitscheck foi construída e se chamou Brasília.

Criado no Palácio do Catete
Filho de João Pessoa, Epitácio Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, conhecido como Epitacinho, foi criado pelo presidente Getúlio Vargas, no Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, então Capital da República. Epitacinho foi senador pela Paraíba. Era suplente e assumiu na vaga em definitivo, com a morte do titular. Irmão de João Pessoa, Joaquim Pessoa foi presidente da Capital paraibana. Após as mortes de João e Epitácio, a família continuou militando politicamente, sempre com representantes na Assembleia Legislativa da Paraíba, na Prefeitura de Umbuzeiro e na Câmara Municipal de João Pessoa. De acordo com o historiador José Octávio de Arruda Melo, Epitácio montou uma oligarquia duradoura na Paraíba, mas João Pessoa foi o oposto. No entanto, seus irmãos tentaram montar uma oligarquia, mas não obtiveram êxito, conforme José Octávio. Os irmãos que militaram na política da Paraíba não tinham a mesma habilidade de João e, muito menos, de Epitácio. Hoje, eles são homenageados como nomes de ruas na cidade que tem o nome do irmão mais influente. Jornal Correio da Paraíba (domingo, 14 de agosto 2016)