sexta-feira, maio 18, 2018

Por falta de leitos, pacientes ocupam unidades do Samu.

13h da segunda-feira, 7 de abril. Estendido no asfalto da Avenida Hilton Souto Maior, um motociclista espera há quase uma hora o atendimento de uma das 15 Unidades de Atendimento Móvel do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de João Pessoa. Ele luta contra o relógio para que a demora no socorro não deixe sequelas no seu corpo, rezando para que a ambulância chegue o mais rápido possível.

Do outro extremo da cidade, a equipe do Samu até poderia atender ao chamado, já que um de seus veículos está parado, sem realizar qualquer ocorrência. O problema é que materiais necessários para isso, como colar cervical, maca e prancha, estão retidos no Hospital de Emergência e Trauma Senador Humberto Lucena, impossibilitando que os socorristas façam o deslocamento.

A equação não é difícil de ser entendida: na falta de leitos no Trauma, os pacientes não desocupam as macas e pranchas trazidas pelas equipes de socorro, que ficam em média duas horas e meia no pátio do hospital, no aguardo dos materiais presos na instituição.

Segunda-feira, 14 de maio, 11h. O Correio da Paraíba acompanha a Unidade de Suporte Básico I (USB-I) do município de Guarabira, Brejo paraibano. Ela está parada, na entrada do Trauma de João Pessoa e já aguarda há mais de 45 minutos o retorno da sua maca, deixada no hospital após atender um motociclista acidentado. Enquanto não receber o material, a ambulância não pode retornar à cidade de origem, não conseguindo realizar qualquer atendimento até lá.

Um dos socorristas do veículo, que não quis se identificar, disse que este cenário é típico no dia a dia das equipes, seja ela do Litoral ou Brejo. “Ano passado já ficamos aqui no Trauma seis horas esperando o retorno da maca e da prancha. Em média, todo dia esperamos entre duas e três horas esse retorno. Até lá, ficamos presos, sem poder atender ninguém”, disse o enfermeiro, que saiu de Guarabira às 4h30 da manhã, mas às 11h20 ainda não tinha ideia de quando retornaria.

Enquanto a USB-I de Guarabira aguarda o retorno do seu material, uma Unidade de Suporte Básico (USB) do Samu João Pessoa chega ao Trauma com uma vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC), um homem de 45 anos que sofreu o derrame enquanto trabalhava. A vítima chegou ao hospital na maca do Samu, que uma hora depois ainda não tinha notícias do seu equipamento.

No relógio, o ponteiro já se aproximada da hora do almoço, mas uma das enfermeiras da USB de João Pessoa, que também espera o retorno de uma maca, não tem previsão de quando sairá do pátio do Trauma. “A gente já está acostumada com essa demora. O problema é que é muita gente, o hospital tem muita entrada de acidentado e não comporta isso tudo. Por isso ficam com as macas, porque não têm onde deixar os pacientes”.

Enquanto o material não é devolvido, as equipes se amontoam na frente e entorno da urgência do Trauma, impossibilitados de prestar novos atendimentos, explica o socorrista da USB-I de Guarabira. “A gente só pode ir embora quando o material é entregue. Corre o risco de outras equipes levarem nosso material, então a gente fica de prontidão, aguardando, já que não pode fazer atendimento”.

Constatações do CRM

Em agosto do ano passado, Após fiscalização (nº67/2017), o Conselho Regional Medicina (CRM-PB) constatou insuficiência de leitos no Trauma: na Sala Vermelha haviam seis pacientes, mas apenas três leitos. Dois estavam em macas do Samu; na Área Laranja, com capacidade para 30 pacientes, estavam 50.

O CRM-PB constatou ainda 95 retenções de macas do Corpo de Bombeiros pelo Hospital de Trauma, algumas presas no hospital por até 18 horas. Jornal Correio