Entrevista com: Efigênio Moura
Apresento-lhes Efigênio Moura, um escritor. Escritor de mão cheia, daqueles que escrevem para deliciar os leitores, cabra despojado, matuto do cariri, dono de linguajar único, detentor de uma ruma de fãs, entre eles o Tião Bonitão que vos fala, pois assim que li seu primeiro livro “Eita Gota” nunca mais deixei de ler nada do que ele escreve, até bilhete ou recado em papel de embrulho. Feita a apresentação, confira comigo e depois me conte:
1 – Você criou um estilo só seu para escrever romance e estórias. Como aconteceu isso?
A revitalização ou repaginação da escrita regionalista contribuiu com isso. Escrever oq eu se ouve, ouvir o que se escreve. Viver e conviver com os personagens reais que farão a estória junto a você facilita o entrosamento. O estilo é do sertanejo de Piancó que na vergonha do pedir, se encosta-se à parede mais próxima de você e da uma piscada de olho. Pronto. Já foi dito tudo.
2 – Seus personagens são todos reais?
Alguns. Costumo homenagear pessoas que atravessam meu caminho eternizando eles dentro das minhas estórias. Misturar com o irreal da um certificado de seriedade a peleja. Busco sempre juntar pessoas cantantes, como é o caso de Marco di Aurélio, Flávio José, Ilmar Cavalcante, Maciel Melo, Osmando Silva que outra maneira de manter viva o que acontece no meu Cariri.
3 – O Cariri é boa fonte de inspiração?
Muito boa e inesgotável. Não só o Cariri, como o Sertão ,a Zona da Mata, a zona... Focar numa região, naquela que você vive ou conhece facilita o encontro do ambiente certo para a estória que você precise contar.
4 – Escritor na Paraíba pode dizer que vive do que escreve?
Pode não e quem disser é mentira. Só vive da escrita depois que se aposentar e anotar numa ripa qualquer a senha do cartão do banco. Somos vários interessantes escritores e são poucas as chances que temos. O governo deve ter pessoas inteligentes para arrumar uma maneira de apoiar o escritor e seus escritos.
5 – Em quem vc se inspirou para escrever suas coisas?
No cotidiano. Em pessoas que você só observa e não vê. Em detalhes do Cariri, de Monteiro, de Coxixola, Cabaceiras. São Domingos. O dia a dia é muito rico, as ‘ horas mortas’, são mais vivas do que pensamos. Consegui enxerga-la e daí junto ‘cájuda’ espiritual, escrevi minhas coisinhas.
6 – Dos livros que escreveu, qual o mais marcante?
São dois. Cada um com uma temática diferente. O Eita Gota me surpreendeu pela velocidade com que aconteceu e tem muito de mim. O Eita me levou de volta pra Monteiro e me fez perceber que eu pertenço a ela. O Ciço de Luzia é mais romântico, acho que retrata um tempo que eu queria ter vivido. Sim, o Eita Gota é bem mais marcante, tanto que ressurge agora em sua terceira edição e acredite, há listas de leitores aguardando-o em Campina, Recife e Natal.
7 – Por que as grandes livrarias não expõem os livros da terrinha?
Acho que somos nós que podemos expor nas grandes livrarias. Porque eles somente visam o lucro. Não que seja proibido ou ilegal visar o lucro em transações financeiras, mas o caboclo cobrar 50%, metade do preço do livro para vendê-lo pra você é roubo. É no Mínimo inadequado. O escritor tem primeiro a grande coisa do livro que é a ideia, depois ele sozinho escreve, ele imagina capa, ele faz a logística e correr atrás pra pagar gráfica, produção, o escambam aí chega uma livraria cheia de ar condicionado e cobra metade do trabalho. Acho que por sermos individualmente rebeldes e não aceitarmos essa imposição é que nós e não eles que expomos nossos livros lá na loja deles.
8 – Ainda hoje vemos conterrâneos penando para conseguir um patrocínio para publicar seus livros. Falta uma política cultural do governo para ajudar os nossos escritores?
Em Joao Pessoa a prefeitura criou um programa pra isso, nãos sei nomeá-lo. No estado há tempos que tem o FIC. Mas é tudo muito burocrático. O matuto lá de Monteiro, lá de zabelê, vai sair de casa, liso que só a gota pra passar mais de dois dias em Joao Pessoa pra correr atrás dessas coisas e por muita das vezes não consegue. A ideia de descentralizar os domínios da verba para cultura parece que não deu certo porque o artista final, o escritor é um deles, não consegue o beneficio que se espera. A regional de Cultura de Monteiro por exemplo, eu sou de lá e não moro lá, tem Zelito da Prata, tem Pedro Nunes da Prata também e que jamais fomos convidados pra uma conversa sobre projetos, presente ou futuro. Para discutir a cultura. O que salva é a UEPB, que através do Latus se compromete a escrever a cultura local. É o meu caso, o de Fidélia, o de Bráulio Tavares...
9 – Assim de repente, quem foi o maior escritor paraibano?
Zé Cavalcanti. Só li um livro dele quando ainda era um matuto enxerido que amava Luiz Gonzaga e o Trio Nordestino ( hoje sou alucinado por eles). Li Piadas e potocas e me apaixonei pela forma simples de traduzir o que o sertanejo pensa e faz. Tinha uns 12 anos e decidi com toda minha importância de moleque que se um dia tivesse de contar algo, que fosse parecido com seu Zé.
10 – Qual será sua próxima obra?
Vou contar o sonho de dois amigos que querem separar a Serra do Jabitacá (onde nasce o Rio Paraíba) de Monteiro. A Construção do sonho, as campanhas eleitorais e os dois dias de eleição (o anterior e o de mermo- mermo). Sabe esses moídos de eleição em cidade pequena? Estarão todos lá, nas Urnas do Cafundó ( Titulo provisório). Há também Caderneta de Fiado, que conta a estória de Zéfa. Mulher mal amada que um dia resolve cobrar o amor que sempre lhe prometeram e nunca deram. Ta sendo difícil porque é na primeira pessoa, no matutês e um personagem feminino. ’ Magina aí eu cum dô nos ováro ???’
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