domingo, setembro 20, 2015

SAMU PEDE SOCORRO: Faltam infraestrutura, médicos e até segurança.


Só 105 municípios têm base. Faltam infraestrutura, médicos e até segurança para as equipes; serviço não chega em todas as áreas e, onde vai, demora mais que o ideal... Mas ele vem chegando tarde demais, ou nem chega. Na Paraíba, menos da metade dos municípios têm bases e o programa funciona com dificuldades, mesmo onde tem. Às vezes, o radio comunicador não funciona, outras a ligação cai em outro Estado e ainda tem áreas onde as ambulâncias percorrem longas distâncias, quando não estão nas oficinas. E os problemas não se resumem à infraestrutura: faltam médicos em alguns locais; em outros, as equipes só saem escoltadas pela polícia. Sem contar que são poucos os hospitais aptos a atender as ocorrências. Ah, e tem ainda os trotes... A lista de problemas não cessa. Uma coisa é certa: é preciso resgatar o Samu.

SERVINDO DE TRANSPORTE... 
Para a maioria dos municípios, o Samu é o quebra-galho de hospitais com serviços incipientes. Onde não há especialidades, a ambulância serve para transferir pacientes de uma cidade a outra. Em Princesa Isabel, por exemplo, há um hospital regional, mas, segundo o coordenador do Samu no município, não há nenhuma especialidade na unidade, que presta o segundo atendimento apenas com um clínico geral, que encaminha para os grandes centros, distantes. “Toda ocorrência de trauma tem que ir para Patos ou Campina Grande, distante duas horas e quatro horas”, disse Leonardo Campos. Se a ocorrência for em Manaíra, segundo Leonardo, é necessário uma hora para ir e voltar. Dos 223 municípios da Paraíba, a maioria ainda não tem base própria. O município mais distante, Imaculada, fica a cerca de 73 km. O Samu chega em 50 minutos, com as boas condições da estrada. Se uma pessoa sofrer um infarto nesse local, o Samu não conseguirá chegar a tempo.

CORRIDA E LUTA PELA VIDA... 
A equipe do Correio da Paraíba acompanhou uma equipe do Samu em atendimento. Segundo a assessoria, todos os chamados telefônicos dá macro região 1 são atendidos por uma equipe com sete técnicos, que colhem as primeiras informações e repassam para um dos quatro médicos reguladores de plantão, que prestam as primeiras orientações e acionam a ambulância se necessário. O senhor de 59 anos foi encontrado caído pela filha, que ligou para o Samu. Ao chegar ao Trauminha, a médica do Samu entregou o paciente aos cuidados da equipe médica, do hospital. A maca ficou presa por um tempo, mas como havia suspeita de Traumatismo Craniano Encefálico na queda, e não havia neurologistas no local, a equipe do Samu foi acionada novamente para buscar o homem e levá-lo até o Hospital de Trauma, para realização de exames e consulta.

“POPULAÇÃO PRECISA AJUDAR” 
Segundo a coordenadora de Urgência e Emergência da Central de Regulação em Monteiro, Adalgisa Gadelha, todos os municípios cumprem a contrapartida, que é manter as bases descentralizadas. Mas, segundo ela, é necessário uma mãozinha da população nesse processo. “A população precisa ajudar, porque muita gente liga para o 192, mas não entende a função do Samu. A maior parte das ocorrências são sociais. Por exmeplo, pessoas que não têm como chegar ao hospital ou até mesmo um caso clínico que poderia ser resolvido em uma unidade de saúde. Isso sem contar na média de dois mil trotes que recebemos em seis meses”, concluiu Adalgisa. Monteiro reflete uma parte da realidade do serviço no Estado, mas em outras regiões também há problemas. Na macrorregião de João Pessoa, a demora no atendimento também existe. Há pouco mais de um mês, um funcionário público federal morreu vítima de um infarto enquanto esperou mais de 40 minutos pelo Samu. Na época, o coordenador administrativo do Samu na Capital, Humberto Nascimento, falou ao Correio da Paraíba que o atendimento médico ocorre entre cinco e dez minutos após o chamado. No caso específico em que o funcionário público chegou a falecer, não havia ambulância disponível no momento. No entanto, uma motolância foi enviada, mas parou durante o percurso para atender um acidente de trânsito.

PRIORIDADE NA ROLETA RUSSA... 
Para a coordenadora de Urgência e Emergência da SES, Rafaella Keyla de Medeiros, o atendimento está priorizando o risco iminente de morte. “O que está matando hoje na Paraíba são infarto e AVC. É uma demanda altíssima de óbitos. A população precisa ajudar. Às vezes deixamos de atender uma urgência com risco porque tem gente que chama o Samu por uma dor de cabeça ou par a med ir pressão. Diz uma coisa e quando a equipe chega é outra realidade”, declarou. “Estamos trabalhando linhas de cuidados prioritários (cardiologia, neurologia e ortotraumas), para que um hospital em cada macrorregião atenda todas as especialidades. Temos 33 hospitais estaduais que recebem socorridos, além dos municipais, mas ainda estamos determinando quais têm porte para atender essas especialidades”, afirmou Rafaella. Outros gargalos atrapalham o programa de funcionar de forma plena. “Os hospitais superlotados, acabam retendo as macas e a viatura não pode fazer socorro. Em João Pessoa, isso diminuiu bastante com a reforma do Trauma, mas é uma dificuldade em todo o Brasil. Em relação às transferências, Rafaella alegou que as UPAs tem ambulâncias próprias. “A maioria dos hospitais estaduais tem ambulância, são os dos municípios que não têm”, disse.

DISTRIBUIÇÃO ESTRATÉGICA... 
Para dar agilidade, as ambulâncias são espalhadas em pontos estratégicos na Capital. “Em João Pessoa, temos veículos nos bairros de Cruz das Armas, Valentina e no Hospital Santa Isabel”, ressaltou a coordenadora de Urgência e Emergência. Rafaella falou sobre a responsabilidade dos municípios. “A União entra com 50% dos recursos, o Estado 25% e as Prefeituras, 25%. É preciso interesse dos gestores, fi ca difícil gerenciar essa situação. Estamos fazendo relatório de todas as bases para saber quem está irregular, até o fi m do mês estará pronto”, concluiu. 

HOSPITAIS SIM, VAGAS NÃO... 
Em João Pessoa, a situação inversa ocorre. Há hospitais de referência, mas por receberem grande fluxo de outros municípios, faltam vagas. “Essa é a grande dificuldade, porque João Pessoa tem que absorver a demanda dos municípios que não tem locais de referência, o que sobrecarrega a rede. O problema não são os hospitais daqui, são os do interior, se fosse só para cá sobrariam vagas. Se não há vaga, o hospital tem que arrumar com a vaga zero ou emergencial, pois ele não pode ficar na ambulância e se ficar em casa, morre” disse o coordenador geral, Márcio Gomes. Outro problema relatado pelo médico cirurgião são as macas retidas. “Tem melhorado muito, mas há alguns meses, já tivemos até 10 macas retidas, parando o serviço”, disse. Sobre a demora no atendimento, o coordenador afi rmou que isso ocorre quando há excesso de chamados ou em horário de pico.

COMUNICAÇÃO AINDA PRECÁRIA 
Radio comunicadores não funcionam. Em algumas áreas nem por telefone serviço é acessado... 
Em cidades do Cariri do Estado, o funcionamento de um serviço tão essencial enfrenta dificuldades que começam pela comunicação. Em Monteiro, enfermeiros reclamam que os radiocomunicadores (HTs) não funcionam em determinadas localidades de zona rural. Como em algumas situações é preciso se comunicar com o médico, que fica na base, o celular acaba sendo a única saída para conclusão do atendimento rápido. Só que nem sempre há sinal de telefone, e quando há, surge um novo problema. “Fomos em um sítio chamado Limitão de Cima, e os rádios não conseguiam comunicação com a central. Cheguei em uma casa que tinha uma antena de telefone, e pedi para fazer uma ligação. Que era, no caso, a ligação para o 192. Liguei e caiu no Samu Agreste, que fica em Garanhuns, Pernambuco. Já pensou na dificuldade que é? Às vezes, o atendimento é tão distante, que a ligação cai em outro Estado”, conta o condutor Fagundes da Silva. As dificuldades ainda são maiores para as cidades de Sumé e Livramento. Em Sumé, distante 130 quilômetros de Campina Grande, os radiocomunicadores não funcionam há três meses e seis equipes dividem um único telefone celular. A coordenadora do Samu da cidade disse que um problema na repetidora deixou todas as cidades que compõem a região sem comunicação. “O nosso HT não funciona. E não está funcionando há mais de três meses. A gente tem um celularzinho que é da equipe, e a Central se comunicam conosco a partir dele. É ruim porque a gente depende de uma linha telefônica que às vezes está ocupada, e se o sinal cai, não tem contato. Era pra ser um recurso extra, mas acabou virando o único recurso. Informamos à Central e foi informado que é um problema na repetidora, então estamos nós e todos os municípios da região sem comunicação. Se a Central tiver, é somente entre a modulação deles”, explicou Veridiana. Se em Sumé, os rádios estão sem funcionar há três meses, em Livramento os equipamentos nunca funcionaram.

EQUIPES SÓ SAEM ESCOLTADAS PELA POLÍCIA 
Em casos de surto psicótico, ferimento de arma branca ou arma de fogo, o Serviço só chega à casa do paciente se estiver escoltado pela Polícia Militar. Em Monteiro, socorristas às vezes sofrem ameaças de morte por causa da demora. “Houve ocorrência de a gente ir prestar atendimento em uma tentativa de homicídio no Congo, e eles ligaram pra cá dizendo que, se alguém fosse prestar socorro, fosse acompanhado, porque eles iriam terminar o serviço. E nossa ambulância foi escoltada com duas viaturas da Polícia”, conta a enfermeira Cláudia Alves. O Samu havia acabado de ser inaugurado, quando a equipe recebeu um chamado às 11h. O caso era de um ferido por ar ma de fogo na Vila Santa Teresa, região de tráfico de drogas. “Liberamos a USA com médico, enfermeiro e condutor. Ligamos pra PM e disseram que a gente podia ir porque a Polícia já estava no local. A PM não estava. Decidimos aguardar porque quem atirou poderia estar lá. A população sacudiu a ambulância de um jeito que a gente teve que descer na hora”, lembrou. Agora, a espera pelas viaturas da Polícia Militar em Monteiro, que ficam na saída para Sertânia (PE), tem nova estratégia. As ambulâncias só saem da base do Samu, depois que a PM atende.

NÃO HÁ MÉDICOS, NEM USA 
Nos municípios menores, o problema se agrava porque falta ambulância para transportar gente. Em Sumé, a única ambulância do Samu está quebrada há mais de uma semana, depois de uma pane no circuito elétrico do veículo. Cidades do entorno como Congo e Amparo ficaram descobertas por dois dias. Só no último domingo que a cidade conseguiu uma ambulância reserva de Monteiro. Assim como em Sumé, em Livramento também não há médico, nem ambulância avançada. As bases funcionam com um enfermeiro, um técnico e um condutor socorrista. As ambulâncias são para casos básicos, ou seja, não há ventilador mecânico nem desfibrilador manual. Quando algum paciente da região é diagnosticado com infarto ou AVC, a única ambulância avançada de Monteiro é acionada. Em Serra Branca, o Samu funciona na área do Hospital Geral. No Local, funcionários informaram que nenhum socorrista estava trabalhando naquele dia, porque a ambulância está quebrada desde terça-feira. Nem enfermeiro, nem técnico, nem condutor estavam trabalhando. O Correio ligou na sexta-feira por volta de meio dia, e o Hospital informou que ninguém estava trabalhando novamente.

AJUDA DA POPULAÇÃO 
Além dos problemas de infraestrutura e funcionamento, para que o atendimento seja correto, é preciso que usuários do serviço se conscientizem da importância do repasse de informações corretas. Funciona como um trabalho em conjunto entre socorristas e família de pacientes . Detalhes do problema devem ser repassados, porque assim os atendentes vão definir se é necessária a presença de um médico, ou de equipamentos mais avançados.