sexta-feira, abril 22, 2016

Gripe e descaso mataram jovem de 17 anos na Paraíba.

Com suspeita de H1N1. Mãe de jovem grávida diz que médicos subestimaram doença; enfermeira teria dito que sintomas eram emocionais...

A puérpera que estava internada com suspeita da H1N1 há 16 dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Maternidade Instituto Elpídio de Almeida (Isea), em Campina Grande, faleceu na manhã da última quinta-feira Janicleide de Souza Cordeiro tinha 17 anos e residia na zona rural de Maturéia, no Sertão do Estado. Ela deu entrada na unidade já em estado grave, grávida de seu primeiro filho. 

A família enlutada se queixa do descaso dos profissionais de saúde que atenderam a jovem, que chegou a ser mandada para casa três vezes e ouviu de uma enfermeira que seus sintomas eram emocionais. Janicleide recorreu à Maternidade Peregrino Filho pela quarta vez, em Patos, no dia 5 de março, apresentando febre alta, dores e falta de ar. Ela foi transferida para Campina Grande porque na unidade não havia área de isolamento na UTI. “Ela chegou aqui no Isea com um quadro de insuficiência respiratória similar ao quadro causado pelos sintomas da Gripe A, causada pelo vírus H1N1. O parto do bebê teve que ser antecipado porque o volume do útero pesava sobre o pulmão. Apesar do parto ser prematuro, com 8 meses, a criança estava bem de saúde e recebeu alta três dias depois”, disse o diretor da maternidade em Campina Grande, Antônio Henriques. Ainda de acordo com o diretor Antônio Henriques, Janicleide permaneceu em estado gravíssimo durante a maior parte de sua estadia na UTI do Isea. Outra grávida deu entrada na maternidade no último domingo com suspeita de estar infectada pelo vírus H1N1, mas segundo o diretor, ela foi medicada em menos de 48 horas com o medicamento tamiflur e apresentou melhora significativa. 

MAL ATENDIDA. 
De acordo com a mãe da adolescente, Maria Dolores de Souza Cordeiro, a filha passou oito dias com sintomas de gripe e procurava atendimento na maternidade Peregrino Filho, mas era mal atendida e enviada de volta para casa. O pai e o irmão de Janicleide também tiveram gripe no mesmo período que a jovem. Ninguém da família apresenta problemas crônicos de saúde. Dona Maria e seu esposo Damião Cordeiro acreditam que se a jovem tivesse sido bem atendida em Patos, e imediatamente encaminhada para Campina Grande, ela teria tido uma chance de sobreviver. “Minha filha era forte, aguentou todos esses dias lutando pela vida. Agora me restou dois filhos e um neto para criar, um rapaz de 15 anos, minha menina de 10 e o filho de Janicleide”, lembrou. A reportagem tentou ouvir o diretor da Peregrino Filho, mas não conseguiu contato. O velório da adolescente aconteceu na tarde de ontem no Sítio Tauá, zona rural de Maturéia. A equipe de reportagem do Jornal Correio da Paraíba procurou a assessoria da Secretaria de Saúde do município de Patos, mas até o fechamento desta edição ninguém comentou nada sobre o caso. 

Impasse. 
Apesar da Secretaria Municipal de Campina Grande já ter confirmado um óbito por H1N1, atestado por exame realizado no Instituto Evandro Chagas, no Pará, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) afirma que não tem dados suficientes para dizer que o óbito ocorreu em decorrência do vírus. “A gente tem resultado de dois casos que deram positivos para H1N1, uma paciente se recuperou, a outra faleceu, mas não podemos dizer que a causa morte seja o vírus. Temos que investigar, e isso é competência dos municípios”, disse a chefe do Núcleo de Doenças Transmissíveis da SES, Anna Stella Pachá. Sobre isto, a diretora de Vigilância em Saúde de Campina Grande, Eliete Nunes, pontuou que não restam dúvidas de que a morte da jovem Mirla Farias Pereira, de 25 anos, no dia 6 de abril, foi em decorrência do vírus H1N1. Ela afi rmou que já enviou fichas e prontuários para a SES.
O desabafo de uma mãe 
“No dia 4 de abril minha filha foi pela terceira vez na maternidade de Patos, com falta de ar, dor de garganta, dor nas juntas e febre alta. Mandaram ela tomar um soro sentada numa cadeira. Quando ela já estava roxa, chorando, dizendo que não aguentava fi car sentada, a enfermeira chegou pra gente e disse que essa febre e essa falta de ar era emocional; que o caso dela não era grave e que não ia ocupar uma cama com isso e que se ela não quisesse tomar o soro sentada, podia ir pra casa. Ela nem conheceu o fi lho, Guilherme, que tanto queria. A última coisa que ela me disse, chorando, foi que não deixassem matar o fi lho dela. Não foram os médicos da maternidade de Patos que suspeitaram que minha fi lha estava com H1N1. Foi a médica cubana que atendeu no sítio que a gente mora. Se dependesse dos médicos daqui ela tinha morrido muito antes, talvez nem meu neto tivesse nos meus braços agora. Ela nunca teve nenhum problema de saúde, nem respiratório. Fez todo o pré-natal e todos os exames comprovam que ela tinha saúde perfeita” Maria Dolores de Souza Cordeiro, agricultora, mãe de Janicleide.