A puérpera que estava
internada com suspeita da
H1N1 há 16 dias na Unidade
de Terapia Intensiva (UTI)
da Maternidade Instituto Elpídio
de Almeida (Isea), em
Campina Grande, faleceu na
manhã da última quinta-feira Janicleide de Souza Cordeiro
tinha 17 anos e residia
na zona rural de Maturéia,
no Sertão do Estado. Ela deu
entrada na unidade já em estado
grave, grávida de seu
primeiro filho.
A família enlutada
se queixa do descaso
dos profissionais de saúde
que atenderam a jovem, que
chegou a ser mandada para
casa três vezes e ouviu de
uma enfermeira que seus
sintomas eram emocionais.
Janicleide recorreu à Maternidade
Peregrino Filho
pela quarta vez, em Patos,
no dia 5 de março, apresentando
febre alta, dores e falta
de ar. Ela foi transferida para
Campina Grande porque na
unidade não havia área de
isolamento na UTI.
“Ela chegou aqui no Isea
com um quadro de insuficiência
respiratória similar
ao quadro causado pelos sintomas
da Gripe A, causada
pelo vírus H1N1. O parto do
bebê teve que ser antecipado
porque o volume do útero pesava
sobre o pulmão. Apesar
do parto ser prematuro, com
8 meses, a criança estava bem
de saúde e recebeu alta três
dias depois”, disse o diretor
da maternidade em Campina
Grande, Antônio Henriques.
Ainda de acordo com o
diretor Antônio Henriques,
Janicleide permaneceu em
estado gravíssimo durante
a maior parte de sua estadia
na UTI do Isea. Outra grávida
deu entrada na maternidade
no último domingo com
suspeita de estar infectada pelo vírus H1N1, mas segundo
o diretor, ela foi medicada
em menos de 48 horas com
o medicamento tamiflur e
apresentou melhora significativa.
MAL ATENDIDA.
De acordo
com a mãe da adolescente,
Maria Dolores de Souza Cordeiro,
a filha passou oito dias
com sintomas de gripe e procurava
atendimento na maternidade
Peregrino Filho,
mas era mal atendida e enviada
de volta para casa. O pai e o
irmão de Janicleide também
tiveram gripe no mesmo período que a jovem. Ninguém
da família apresenta problemas
crônicos de saúde.
Dona Maria e seu esposo
Damião Cordeiro acreditam
que se a jovem tivesse sido
bem atendida em Patos, e
imediatamente encaminhada
para Campina Grande, ela
teria tido uma chance de sobreviver.
“Minha filha era forte,
aguentou todos esses dias
lutando pela vida. Agora me
restou dois filhos e um neto
para criar, um rapaz de 15
anos, minha menina de 10 e o
filho de Janicleide”, lembrou.
A reportagem tentou ouvir o
diretor da Peregrino Filho,
mas não conseguiu contato.
O velório da adolescente
aconteceu na tarde de ontem
no Sítio Tauá, zona rural
de Maturéia. A equipe de reportagem
do Jornal Correio
da Paraíba procurou a assessoria
da Secretaria de Saúde
do município de Patos, mas
até o fechamento desta edição
ninguém comentou nada
sobre o caso.
Impasse.
Apesar da Secretaria
Municipal de Campina
Grande já ter confirmado um
óbito por H1N1, atestado por
exame realizado no Instituto
Evandro Chagas, no Pará,
a Secretaria Estadual de
Saúde (SES) afirma que não
tem dados suficientes para
dizer que o óbito ocorreu
em decorrência do vírus. “A
gente tem resultado de dois
casos que deram positivos
para H1N1, uma paciente se
recuperou, a outra faleceu,
mas não podemos dizer que
a causa morte seja o vírus.
Temos que investigar, e isso
é competência dos municípios”,
disse a chefe do Núcleo
de Doenças Transmissíveis
da SES, Anna Stella Pachá.
Sobre isto, a diretora de
Vigilância em Saúde de Campina
Grande, Eliete Nunes,
pontuou que não restam dúvidas
de que a morte da jovem
Mirla Farias Pereira,
de 25 anos, no dia 6 de abril,
foi em decorrência do vírus H1N1. Ela afi rmou que já enviou
fichas e prontuários para
a SES.
O desabafo de uma mãe
“No dia 4 de abril minha filha foi pela terceira vez na
maternidade de Patos, com falta de ar, dor de garganta,
dor nas juntas e febre alta. Mandaram ela tomar um
soro sentada numa cadeira. Quando ela já estava roxa,
chorando, dizendo que não aguentava fi car sentada, a
enfermeira chegou pra gente e disse que essa febre e essa
falta de ar era emocional; que o caso dela não era grave
e que não ia ocupar uma cama com isso e que se ela não
quisesse tomar o soro sentada, podia ir pra casa. Ela nem
conheceu o fi lho, Guilherme, que tanto queria. A última
coisa que ela me disse, chorando, foi que não deixassem
matar o fi lho dela. Não foram os médicos da maternidade
de Patos que suspeitaram que minha fi lha estava com
H1N1. Foi a médica cubana que atendeu no sítio que a
gente mora. Se dependesse dos médicos daqui ela tinha
morrido muito antes, talvez nem meu neto tivesse nos meus
braços agora. Ela nunca teve nenhum problema de saúde,
nem respiratório. Fez todo o pré-natal e todos os exames
comprovam que ela tinha saúde perfeita”
Maria Dolores de Souza Cordeiro, agricultora, mãe de Janicleide.