25% das brasileiras sofrem violência obstétrica afirma pesquisa. No Nordeste são 27%.
Esse tipo de violência ocorre no serviço público
e na saúde particular. Médicos ainda fazem
o corte do períneo para facilitar a saída do bebê
e ironizam: “É o ponto do marido”.
“O pré-natal foi saudável,
ganhei o peso esperado, era
de baixo risco. A obstetra
assinou e carimbou o plano
de parto, concordando
com todos os itens, e não
foi cumprido. Eu queria ter
meu fi lho de forma natural,
sem nenhuma intervenção.
Tive um sangramento e por
orientação da ginecologista
fui para a maternidade
quando as contrações eram
a cada dois minutos. Meu
marido e a doula foram comigo”,
contou.
Pamela classifi ca o próprio
parto como show de horrores.
“O primeiro sinal de violência
obstétrica foi que todo
o hospital estava me olhando
quando fui internada e o médico
examinou a dilatação.
Eu vomitei de dor e a obstetra
me medicou para não vomitar.
Com oito centímetros
de dilatação eu estava feliz e
ansiosa pela chegada do meu
bebê. Para a médica estava
demorando muito e sem me
avisar, rompeu minha bolsa
e disse que ia me dar uma
“ajudinha”. Forçou a dilatação
do meu colo do útero
com seus dedos, causando
uma dor mais forte que a
contração. Eu sequer sabia o
que estava acontecendo”.
O sofrimento de Pamela
não parou por aí. Com 10 cm
de dilatação ela foi levada ao
bloco cirúrgico. “Fui colocada
em uma maca tão estreita
que eu mal podia me mexer.
Meu marido chegou e me pediram
para deitar em posição
de litotomia (de barriga
para cima). Eu pedi quase
chorando que não, e alguém
me empurrou para baixo. Eu
deveria segurar uma barra
de ferro e fazer força quando
as contrações viessem. A
pediatra e uma enfermeira
fi zeram força na minha barriga
(manobra de Kristeller).
Então recebi ocitocina na
veia, contra a minha vontade.
Foi uma dor terrível. Sei
que eu não fui a primeira e
infelizmente não serei a última
mulher a passar por
isso, mas falar sobre esse assunto
pode prevenir que outras
mulheres passem. Eu só
queria parir meu fi lho onde
eu quisesse como a médica
prometeu”, desabafou.
Um ano depois, Pamela
escreveu uma carta à médica,
mas, nunca entregou.
O relato foi lido na Câmara
de Vereadores. Ela não quis
acionar a Justiça, mas denunciou
no site do MPF no
fi m do ano passado, nunca
obteve retorno. “Não foi a cicatriz
física que me doeu, foi
saber que fui violentada.
É
muito difícil. E ainda recebi
o ‘ponto do marido’. Foram
tantos pontos que dois meses
depois, ainda caía. Tive um
sangramento no meu útero.
Meu corpo rejeitou os pontos.
Só cinco meses depois
consegui ter relação com
meu marido e senti tanta dor
que chorei e desisti. Espero
que um dia, ao lembrar-me
do nascimento do meu fi lho,
eu não me recorde com mágoa
e tristeza, mas só veja a
grandeza de trazer um ser ao
mundo novo”, concluiu.
--
O meu maior pesadelo foi quando ela
disse que precisava fazer um cortezinho.
Antes de eu responder, ela fez. Eu não estava
anestesiada. Senti aquela tesoura gelada
no meu períneo me rasgando. Pedi para a
pediatra ler meu plano de parto porque não
queria várias intervenções
desnecessárias no meu
fi llho. Ela disse: ‘aqui é do
meu jeito, aplico colírio,
aspiro e faço tudo’. Levou
meu
bebê...
Pamela Siqueira, blogueira
Riscos à mãe e ao bebê...
Empurrar a barriga não é normal. Obstetra diz que ‘manobra de Kristeller’ pode romper fígado da mulher e causar lesões na criança...
Fisiologicamente, não é
necessário forçar o nascimento
do bebê. Nos casos
em que for necessário alguma
intervenção ou até
mesmo a mudança para indicação
de cesariana, o médico
deve seguir uma série
de protocolos. Intervenções
desnecessárias acarretam
riscos para a mãe e a
criança, segundo o obstetra
Eduardo Sérgio. “Empurrar
a barriga pode romper o fígado
da mulher e causar lesões
no bebê”, alertou.
Uma episiotomia mal cicatrizada
pode requerer cirurgia
plástica reparativa. E
o medo do sofrimento pode
levar as mulheres a recorrerem
à cesárea.
Métodos naturais. O diretor
técnico da maternidade
Cândida Vargas, Juarez
Alves Augusto, justificou
que não há como controlar
todos os profissionais. “São
80 obstetras. Não posso dizer
que todos se comportam
da mesma maneira. Não temos
nenhum caso absurdo.
Todas tem direito à acompanhante,
do pré-parto ao
puerpério. Além disso, temos
métodos naturais de facilitação,
como o cavalinho,
a bola, a barra e as doulas,
tudo visando minimizar o
desconforto”, elencou o médico.