Em João Pessoa: GANGS DIZEM QUEM ENTRA E QUEM SAI... A constante guerra entre ‘Okaida’ e ‘EUA’ está impedindo cidadãos de um bairro entrarem em outro. Como no caso do adolescente Alberto e outros três colegas seus que estão concluindo o ensino fundamental e, por não existir escola secundária em sua comunidade, estão sendo impedidos de estudar. A facção rival não toleraria sua presença no outro bairro.
BARRADOS PELO CRIME:
Jovens de comunidades de João Pessoa estão impedidos de frequentar escolas localizadas em bairros da cidade onde há a atuação das facções ‘Okaida’ e ‘Estados Unidos’. O fato de adolescentes simplesmente morarem nestas localidades está tirando deles o direito de mobilidade e também à educação. Alberto (nome fictício) e pelo menos outros três jovens de uma escola municipal localizada no Bairro dos Novaes estão terminando o Ensino Fundamental, mas a violência e a atuação de gangues nos locais onde moram estão impedindo que eles continuem os estudos.
Jovens de comunidades de João Pessoa estão impedidos de frequentar escolas localizadas em bairros da cidade onde há a atuação das facções ‘Okaida’ e ‘Estados Unidos’. O fato de adolescentes simplesmente morarem nestas localidades está tirando deles o direito de mobilidade e também à educação. Alberto (nome fictício) e pelo menos outros três jovens de uma escola municipal localizada no Bairro dos Novaes estão terminando o Ensino Fundamental, mas a violência e a atuação de gangues nos locais onde moram estão impedindo que eles continuem os estudos.
A atuação de integrantes de facções nos
arredores e dentro das escolas já é de conhecimento do Ministério
Público Estadual (MPPB), que apura os casos. Sem nenhum envolvimento com
grupos criminosos e apenas a vontade de continuar os estudos, Alberto
revela que já se antecipou e procurou escolas estaduais, localizadas no
Alto do Mateus, Jardim Planalto, Bairro das Indústrias e Cruz das Armas.
As escolas desses bairros também são alvo de apuração do MPPB, por meio
da Promotoria da Infância Infracional. No caso do estudante, o medo de
sofrer perseguições e até mesmo violência física, somente pelo fato de
morar em uma comunidade dominada por uma facção rival das que dominam
esses bairros, torna o acesso à educação cada vez mais distante.
“A gente que mora aqui na comunidade não
pode ir para Cruz das Armas, Jardim Planalto e até em outra comunidade
aqui do bairro porque são de facções diferentes. Até um morador daqui se
passar em uma rua desses outros bairros podem sofrer alguma coisa. A
pessoa não é envolvida com nada. Mas, só porque a pessoa mora em uma
comunidade diferente é perigoso”, relatou Alberto.
PROJETO DE RESGATE:
O Ministério Público da Paraíba (MPPB), por meio das Promotorias de Educação e Infância Infracional da Capital, apura a atuação de adolescentes envolvidos com facções criminosas, sobretudo para a venda de drogas no entorno das unidades educacionais e também dentro das escolas.
O Ministério Público da Paraíba (MPPB), por meio das Promotorias de Educação e Infância Infracional da Capital, apura a atuação de adolescentes envolvidos com facções criminosas, sobretudo para a venda de drogas no entorno das unidades educacionais e também dentro das escolas.
A promotora da Infância Infracional da
Capital, IveteArruda, relata que a maior parte dos jovens que chegam à
Promotoria, em decorrência de algum ato infracional, ou estava fora da
escola ou frequentando esporadicamente. “Inclusive, têm muitos que fazem
a matrícula, mas não vão à escola por medo. Os adolescentes envolvidos
com a criminalidade estão atuando, inclusive, nas escolas particulares”,
revelou a promotora.
Na tentativa de identificar as escolas
afetadas pelos grupos criminosos, a promotora informou que está
elaborando um projeto, em parceria com a Polícia Militar, para resgatar
os estudantes envolvidos e prevenir o ingresso de outros jovens na
criminalidade. “Por conta desses problemas, os professores e
funcionários das escolas também ficam em uma situação difícil e não têm
como defender os alunos que estão lá para estudar. Já tivemos casos até
de professores ameaçados”, lamentou Ivete Arruda.
Já responsável pela 2ª Promotoria da
Educação da capital, Ana Raquel de Brito, reafirmou que recebeu
denúncias da atuação de gangues nos arredores da escola e informou que
vai apurar a denúncia feita pela reportagem. “Quando somos informados
sobre episódios violentos ou insegurança dentro das escolas, realizamos
audiências e inspeções in loco para verificar e discutir o assunto e a
rede de proteção às crianças e adolescentes”, disse.
SITUAÇÃO ESTÁ VIRANDO COMUM
“Esse nosso aluno representa uma legião de crianças e jovens que estão passando por esse tipo de situação nas escolas públicas da cidade. Infelizmente, alguns terminam se envolvendo com essas facções e deixam a escola ou só freqüentam para vender drogas”. A afirmação é do diretor adjunto da escola onde Alberto estuda, Conrado Ferreira.
“Esse nosso aluno representa uma legião de crianças e jovens que estão passando por esse tipo de situação nas escolas públicas da cidade. Infelizmente, alguns terminam se envolvendo com essas facções e deixam a escola ou só freqüentam para vender drogas”. A afirmação é do diretor adjunto da escola onde Alberto estuda, Conrado Ferreira.
Em mais de 30 anos de profissão, ele vê
com tristeza o impacto que a violência urbana tem causado na educação.
“Há uns dez anos, você não tinha uma situação tão séria como a que temos
agora. Esse aluno quer estudar. Mas, o que sobra para ele?”, comentou o
diretor.
O caminho trilhado por muitos jovens que,
diferente de Alberto, não vêem outra alternativa a não ser entrar na
criminalidade. A realidade está nas estatísticas, como o último Atlas da
Violência, divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea). Conforme os dados, 54% das vítimas de homicídio na Paraíba, em
2015, tinham entre 15 e 29 anos.
A violência que assombra os estudantes
que temem não poder frequentar as escolas amedronta também professores,
fere o direito de ir e vir e o direito à educação. A situação é de caos
social, conforme defende o doutor em psicologia social e professor da
FPB, Nilton Formiga.
“Temos o cidadão buscando, querendo e
desejando frequentar a escola, mas, condições psicossociais da violência
(gangs, condutas desviantes, uso de drogas, etc.) têm o poder de inibir
esse direito”, explicou o professor Nilton Formiga.
Ele considera ainda a conduta do Estado
contraditória, no sentido de instigar e propagar nas crianças e
adolescentes o valor da educação, mas não garantir o acesso a esse
direito por falhas na segurança pública.
“Honestamente, o Estado quer ou não quer
que essa meninada estude, seja culta?! Ou se entregue ou não as
‘gangs’?! Ou se vai à escola para ser culto ou para comprar drogas; ou
vai à escola para saber trabalhar as frustrações pessoais e limites ou
vai aprender a ‘soltar tapas e murros’. Isto é muito frustrante para
família e professores”, lamentou o professor.
Direito previsto em estatuto
A educação é direito previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente e, perante a legislação, a oferta do Ensino Médio é de responsabilidade do governo estadual. Para os municípios, é determinada a garantia de escolas e vagas na educação infantil e Ensino Fundamental. No caso da rede municipal, o aluno deve ter acesso a unidade de ensino mais próxima de sua casa, conforme prevê a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
A educação é direito previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente e, perante a legislação, a oferta do Ensino Médio é de responsabilidade do governo estadual. Para os municípios, é determinada a garantia de escolas e vagas na educação infantil e Ensino Fundamental. No caso da rede municipal, o aluno deve ter acesso a unidade de ensino mais próxima de sua casa, conforme prevê a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
Ainda com relação ao Ensino Médio, uma
das estratégias do Plano Nacional de Educação (PNE) é garantir a oferta
de vagas nos turnos diurnos e noturnos. “Como o PNE fala em acesso e
permanência e busca ativa, poderia se construir uma interpretação nessa
linha. Mas, é verdade que não é taxativo. Há uma lei que contém a
previsão, que cobre também a faixa do ensino médio: o ECA, já que o
adolescente, em seus termos, é a pessoa de 12 a 18 anos”, lembrou o
advogado e assessor da Câmara dos Deputados, Paulo Sena.
O gerente do Ensino Médio da Secretaria
Estadual de Educação (SEE), Robson Rubenilson, informou que quando um
estudante identifica dificuldade quanto sua matrícula deve comunicar a
SEE, que procede a identificação de vaga para matrícula na escola mais
próxima de sua residência. Quanto a questão da violência, ele alertou
que os estudantes devem comunicar os casos ao Ministério Público e
também a Secretaria, por meio da Ouvidoria.
Convênio entre o Tribunal de Justiça da
Paraíba, Corregedoria Geral de Justiça e Secretaria de Estado de
Segurança Pública e Defesa Social (Seds) tem permitido, desde junho, o
uso do Malote Digital para as comunicações oficiais entre a Central de
Flagrantes de João Pessoa (situada na Central de Polícia Civil) e o
Judiciário paraibano. Desde então, 228 Autos de Prisão em Flagrante
(APF) já foram remetidos por meio da ferramenta eletrônica
disponibilizada pelo TJPB.
Devido as suas vantagens, por reduzir tempo e custos financeiros com o
transporte de documentos relativos às prisões, o sistema de Malote
Digital será estendido às delegacias das comarcas pertencentes à 1ª
Superintendência Regional da Polícia Civil. Até o final deste mês,
haverá treinamento de pessoal que usará a ferramenta, com a implantação
do sistema até o dia 30 de setembro, informou a delegada Roberta Neiva,
titular da 2ª Delegacia Seccional de João Pessoa.
O uso do Malote Digital pela Central de Flagrantes teve início, de forma
piloto, no dia 26 de junho. Os autos de prisão em flagrante passaram a
ser enviados eletronicamente para o Núcleo de Custódia ou ao Plantão
Judiciário, para a realização das audiências de custódia pela Justiça,
que determina, ou não, a legalidade e necessidade da prisão.
De acordo com a delegada Roberta Neiva, a experiência com o malote tem sido vantajosa. “É espetacular. Uma ferramenta de fácil manuseio, que traz segurança para todas as informações, além de economia de papel, servidor, viatura e tempo de deslocamento. É a tecnologia em favor do serviço público”, afirmou.
Roberta Neiva explicou que, antes, os autos eram enviados em papel, o
que ocasionava necessidade de escanear os documentos, quando eles
aportavam no Judiciário. Além disso, era necessário o deslocamento do
servidor em uma viatura para transporte dos mesmos.
PB realiza 4,2 mil audiências de custódia em 2 anos
O Projeto ‘Audiência de Custódia’
completou dois anos de sua implantação na Paraíba. Estabelecida pela
Resolução nº 213/2015 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a audiência
consiste na apresentação de toda pessoa presa em flagrante à autoridade
judicial no prazo de 24 horas, sem prejuízo do prosseguimento do
processo.
Nesses dois anos, foram realizadas 4.214 audiências na Paraíba, sendo
2.145 prisões mantidas e concedida a liberdade em 2.069 casos. “Esses
números desmistificam questão levantada por algumas pessoas de que a
custódia só faz soltar presos. Não é verdade, visto que o objetivo é
fazer justiça de acordo com o que determina a lei. Acima do juiz existe a
lei”, afirma Higyna Josita Simões de Almeida, primeira juíza a realizar
audiência de custódia no Estado e que continua à frente dos trabalhos
na Comarca de João Pessoa.
A magistrada explicou que, durante a audiência, o juiz analisa a prisão
sob o aspecto da legalidade, da necessidade e da adequação de sua
continuidade ou da eventual concessão de liberdade, com ou sem a
imposição de outras medidas cautelares. Jornal Correio da Paraíba / domingo, 20 de agosto 2017.