sábado, outubro 28, 2017

Bandidagem ataca interior da Paraíba / Cidades estão vulneráveis.


No interior. Com efetivos policiais reduzidos, população teme que cidades sejam completamente sitiadas... A fragilidade do policiamento no interior da Paraíba, vista nos ataques a bancos, tem deixado claro para especialistas que, se um bando quiser tomar uma cidade inteira, saquear casas e atacar pessoas, fará sem nenhuma dificuldade. Com efetivos policiais reduzidos, essas cidades são alvos fáceis para criminosos. Em um dos últimos ataques, em São José de Piranhas, no Sertão, os poucos policiais de plantão foram rendidos no prédio da Companhia. Os que estavam de folga foram rendidos em suas casas, enquanto 30 homens com fuzis e metralhadoras ocupavam a cidade. A cada ataque, aumenta o temor dos moradores em serem eles e não os bancos, os próximos alvos dos criminosos. Para José Maria Nóbrega, doutor em Ciências Públicas e coordenador do Núcleo de Violência da Universidade Federal de Campina Grande, o ideal mínimo era que uma cidade tivesse um policial para cada mil moradores, por plantão. Porém, de acordo com o Tribunal de Contas do Estado, em agosto deste ano a Polícia Militar da Paraíba tinha 8.736 membros, divididos em quatro turmas, que se revezam em uma escala de 24 horas trabalhadas por 72 horas de folga, restando, portanto pouco mais de 2.100 por plantão, para tomar conta de 3,9 milhões de paraibanos, ainda sem excluir policiais que estejam de férias, licença médica ou afastados por motivos diversos. O efetivo não é dividido de forma igual entre todos os municípios, a maior parte fica nas grandes cidades. O resultado prático é um policiamento que, nas cidades menores, serve apenas para disciplinar os próprios moradores em situações como som alto, desordens, brigas e outros pequenos delitos.

MEDO DE VIRAR ALVO 
Vão onde está o dinheiro. Em Boqueirão, todas as instituições financeiras já foram atacadas... No município de Boqueirão, no Cariri paraibano, o medo está estampado no rosto dos moradores. Praticamente todas as agências, postos e correspondentes bancários da cidade foram alvos dos bandidos. A presença da 3ª Companhia Independente de Polícia Militar na cidade não impede os assaltos e arrastões. “A bandidagem manda em tudo. Pra falar a verdade, a polícia finge que trabalha, finge que dá conta, mas quando o bicho pega, ninguém é doido de fica na mira de fuzil não. Todo mundo aqui tem medo da violência”, disse o lojista José Alberto Ferreira, de 42 anos, há pelo menos 20 trabalhando no comércio. A dona de um dos poucos estabelecimentos do município que ainda funciona como correspondente bancário, disse que esse clima de insegurança prejudica a economia e o cotidiano dos moradores. “O Bradesco funcionava embaixo da minha casa, na última vez que o explodiram, dia 27 do mês passado. Eu ouvi tudo, desde a hora que os assaltantes chegaram atirando pra cima, até o momento em que detonaram três dinamites. Foram os vintes minutos mais demorados da minha vida. Parecia um pesadelo. Pensei que fosse morrer com um tiro de fuzil. A gente sempre vê naqueles confrontos nas favelas do Rio de Janeiro que esses tiros atravessam paredes, aqui não está muito diferente disso”, afirmou Mariana Santos (nome fictício). Segundo o secretário geral do Sindicato dos Bancários de Campina Grande e Região, Esdras Luciano, as poucas agências ainda existentes em Boqueirão, funcionam sem dinheiro.

Reféns e escudos humanos 
Nas regiões do Brejo, Agreste e Sertão o medo se repete, com policiais acuados e moradores à mercê da violência. Em Alagoa Grande, no Brejo, o padeiro Romildo da Silva, 39 anos, pai de dois fi lhos, foi feito refém por pelo menos 20 minutos, no último dia 18 de agosto, quando 20 homens tentaram arrombar o cofre dos Correios, no centro da cidade. Após a tentativa frustrada, eles seguiram para a agência do Bradesco, onde explodiram dois caixas eletrônicos. “Sou padeiro e às 3h já venho para o trabalho, que é muito próximo à agência. Nesse dia estava de bicicleta quando apontaram a arma pra minha cabeça, mandaram eu tirar a camisa e me deixaram lá por uns 20 minutos, com mais quatro homens que também iam passando pela rua e viraram reféns. A gente fi cou de costa, com as mãos na cabeça, até eles explodirem o que queriam e pegar o dinheiro. Eu achei que ia morrer. Sempre que venho para o trabalho e passa um carro perto de mim fico assustado, achando que é bandido”, disse Romildo. A agência do Banco do Brasil de Alagoa Grande, que foi atacada duas vezes em 2016, está funcionando parcialmente, segundo moradores, realizando só pequenas operações. No prédio, os tapumes na janela revelam a destruição da última investida. No comércio, praticamente vazio, vendedores lamentam que ninguém faça nada a respeito da insegurança.

Patrulhamento não dá conta 
Para José Maria Nóbrega, o efetivo policial que existe na Paraíba, serve apenas para a manutenção de uma ordem social. “É para intervir numa briga de vizinho, um som alto de bar, policiamento de festas, averiguar uma ou outra pessoa suspeita. Agir em pequenas situações. Não para enfrentar bandidos bem armados e estruturados”. O que o especialista disse, foi confirmado por um policial que trabalha em uma cidade do Brejo e não quis se identificar. “Esses assaltantes andam em grupo numeroso, com carros potentes, com forte poder de fogo, chegam atirando pra cima, nos prédios, acuam a polícia e fazem o que querem na cidade, roubam onde der. Depois vão embora jogando grampos nas estradas. Sou policial há mais de cinco anos e sei que nenhum destacamento com dois policiais vai entrar em confronto com bandido desse tipo. É uma sentença de morte”, disse o PM. O efetivo reduzido, segundo Nóbrega, é a principal causa da “escalada” da violência. Ele citou que a escassez não acontece só na Paraíba. Jornal Correio