No interior. Com efetivos policiais reduzidos, população teme que cidades sejam completamente sitiadas... A fragilidade do policiamento
no interior da Paraíba, vista
nos ataques a bancos, tem deixado
claro para especialistas
que, se um bando quiser tomar
uma cidade inteira, saquear
casas e atacar pessoas, fará
sem nenhuma dificuldade.
Com efetivos policiais reduzidos,
essas cidades são alvos fáceis
para criminosos. Em um
dos últimos ataques, em São
José de Piranhas, no Sertão,
os poucos policiais de plantão
foram rendidos no prédio da
Companhia. Os que estavam
de folga foram rendidos em suas casas, enquanto 30 homens
com fuzis e metralhadoras
ocupavam a cidade. A
cada ataque, aumenta o temor
dos moradores em serem eles
e não os bancos, os próximos
alvos dos criminosos.
Para José Maria Nóbrega,
doutor em Ciências Públicas
e coordenador do Núcleo de
Violência da Universidade Federal
de Campina Grande, o
ideal mínimo era que uma cidade
tivesse um policial para
cada mil moradores, por plantão.
Porém, de acordo com o
Tribunal de Contas do Estado,
em agosto deste ano a Polícia
Militar da Paraíba tinha 8.736
membros, divididos em quatro
turmas, que se revezam
em uma escala de 24 horas trabalhadas
por 72 horas de folga,
restando, portanto pouco
mais de 2.100 por plantão, para
tomar conta de 3,9 milhões
de paraibanos, ainda sem excluir
policiais que estejam de
férias, licença médica ou afastados
por motivos diversos.
O efetivo não é dividido de
forma igual entre todos os
municípios, a maior parte fica
nas grandes cidades. O resultado
prático é um policiamento
que, nas cidades menores,
serve apenas para disciplinar
os próprios moradores em
situações como som alto, desordens,
brigas e outros pequenos
delitos.
MEDO DE VIRAR ALVO
Vão onde está o dinheiro. Em Boqueirão, todas as instituições financeiras já foram atacadas... No município de Boqueirão,
no Cariri paraibano, o
medo está estampado no
rosto dos moradores. Praticamente
todas as agências,
postos e correspondentes
bancários da cidade foram
alvos dos bandidos. A
presença da 3ª Companhia
Independente de Polícia
Militar na cidade não impede
os assaltos e arrastões.
“A bandidagem manda em
tudo. Pra falar a verdade,
a polícia finge que trabalha,
finge que dá conta,
mas quando o bicho pega,
ninguém é doido de fica
na mira de fuzil não. Todo
mundo aqui tem medo da
violência”, disse o lojista
José Alberto Ferreira, de
42 anos, há pelo menos 20
trabalhando no comércio.
A dona de um dos poucos
estabelecimentos do município
que ainda funciona
como correspondente bancário,
disse que esse clima
de insegurança prejudica a
economia e o cotidiano dos
moradores. “O Bradesco
funcionava embaixo da minha
casa, na última vez que
o explodiram, dia 27 do mês
passado. Eu ouvi tudo, desde
a hora que os assaltantes
chegaram atirando pra cima,
até o momento em que
detonaram três dinamites.
Foram os vintes minutos
mais demorados da minha
vida. Parecia um pesadelo.
Pensei que fosse morrer com um tiro de fuzil. A gente
sempre vê naqueles confrontos
nas favelas do Rio
de Janeiro que esses tiros
atravessam paredes, aqui
não está muito diferente
disso”, afirmou Mariana
Santos (nome fictício).
Segundo o secretário geral
do Sindicato dos Bancários
de Campina Grande e
Região, Esdras Luciano, as
poucas agências ainda existentes
em Boqueirão, funcionam
sem dinheiro.
Reféns e escudos humanos
Nas regiões do Brejo,
Agreste e Sertão o medo se
repete, com policiais acuados
e moradores à mercê da violência.
Em Alagoa Grande,
no Brejo, o padeiro Romildo
da Silva, 39 anos, pai de dois
fi lhos, foi feito refém por pelo
menos 20 minutos, no último
dia 18 de agosto, quando 20
homens tentaram arrombar o
cofre dos Correios, no centro
da cidade. Após a tentativa
frustrada, eles seguiram para
a agência do Bradesco, onde
explodiram dois caixas eletrônicos.
“Sou padeiro e às 3h já venho
para o trabalho, que é
muito próximo à agência.
Nesse dia estava de bicicleta
quando apontaram a arma
pra minha cabeça, mandaram
eu tirar a camisa e me
deixaram lá por uns 20 minutos,
com mais quatro homens
que também iam passando
pela rua e viraram reféns. A
gente fi cou de costa, com as
mãos na cabeça, até eles explodirem
o que queriam e pegar
o dinheiro. Eu achei que
ia morrer. Sempre que venho
para o trabalho e passa um
carro perto de mim fico assustado,
achando que é bandido”,
disse Romildo.
A agência do Banco do Brasil
de Alagoa Grande, que foi
atacada duas vezes em 2016,
está funcionando parcialmente,
segundo moradores,
realizando só pequenas operações.
No prédio, os tapumes
na janela revelam a destruição
da última investida. No
comércio, praticamente vazio,
vendedores lamentam
que ninguém faça nada a respeito
da insegurança.
Patrulhamento não dá conta
Para José Maria Nóbrega, o
efetivo policial que existe na
Paraíba, serve apenas para a
manutenção de uma ordem
social. “É para intervir numa
briga de vizinho, um som alto
de bar, policiamento de festas,
averiguar uma ou outra
pessoa suspeita. Agir em pequenas
situações. Não para
enfrentar bandidos bem armados
e estruturados”.
O que o especialista disse,
foi confirmado por um policial
que trabalha em uma cidade
do Brejo e não quis se
identificar. “Esses assaltantes
andam em grupo numeroso,
com carros potentes, com forte
poder de fogo, chegam atirando
pra cima, nos prédios,
acuam a polícia e fazem o que
querem na cidade, roubam onde
der. Depois vão embora jogando
grampos nas estradas.
Sou policial há mais de cinco
anos e sei que nenhum destacamento
com dois policiais vai
entrar em confronto com bandido
desse tipo. É uma sentença
de morte”, disse o PM.
O efetivo reduzido, segundo
Nóbrega, é a principal causa
da “escalada” da violência. Ele
citou que a escassez não acontece
só na Paraíba. Jornal Correio