O DRAMA DOS PACIENTES QUEM ESPERAM POR TRANSPLANTE NA PARAÍBA...
Aos 16 anos, José Roberto da Silva
dividia seu tempo entre o trabalho na agricultura familiar e a escola.
Há três anos na espera por um transplante de fígado, o jovem, hoje com
19 anos, passa o dia dentro de casa, no município de São José dos Ramos.
Ele está impossibilitado de realizar atividades que até pouco tempo lhe
pareciam simples, como caminhar, dormir e se alimentar. Sem condições
financeiras para entrar na fila de espera de transplante em outros
Estados, ele aguardava a reabertura da fila na Paraíba, que até semana
passada estava paralisada, obrigando paraibanos a buscar o procedimento
em São Paulo, Pernambuco e Ceará.
O jovem conta que, desde que descobriu a
necessidade do transplante, perdeu a esperança de realizá-lo, já que,
sem condições de trabalhar, não teria como financiar a viagem para outro
Estado. “O médico tentou me operar, mas eu tive muito sangramento. Ele
disse que a única opção era o transplante e que eu tinha que fazer em
Recife, porque em João Pessoa não fazia. Minha família não tem condições
de pagar por isso, só pude esperar”, disse.
Em 2004 a Paraíba começou a realizar o
transplante de fígado, mas desde então o número de procedimentos é
instável. Registros da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos
(Abto) apontam que em 2014 o Estado realizou apenas um transplante de
fígado, mesmo volume de 2012. Em 2013 não houve procedimento e em 2015
os pacientes passaram a ser enviados a outras Estados. O maior número de
cirurgias foi realizado em 2010, quando foram feitos 11 transplantes.
Para José Roberto, que por enquanto é o
único paraibano na lista de espera, o transplante é sinônimo de retomada
da vida. “Eu não trabalho mais, vivo de doação. Eu só consigo comprar
meus remédios, ir fazer as consultas em João Pessoa, me manter, porque
tem gente que me ajuda, porque desde que começou meus problemas eu não
consigo mais trabalhar, nem dormir eu durmo direito de tanto
desconforto”, relatou.
O fígado é o segundo órgão mais
transplantado (1.326 em 2015) no país, perdendo apenas para rim (4.158).
Não há estatística do volume da espera pelo transplante por Estado ou
região, mas especialistas garantem que pelo número de habitantes que
possui a Paraíba, o procedimento jamais poderia deixar de ser ofertado.
“A necessidade é de 20 transplantes por milhão da população. Pelo número
de habitantes da Paraíba (3,9 milhões), não tem razão para não
realizarem o transplante, já que ele mostra que há demanda”, disse o
médico Lúcio Pacheco, consultor da Abto.
PB ainda não garante transplante de fígado
O anúncio da Secretaria de Estado da
Saúde (SES) da oferta de transplante de fígado na Paraíba ainda é
polêmico. Diante da instabilidade da cirurgia no Estado, a presidente da
Associação Paraibana dos Portadores de Hepatopatias, Transplantados
Hepáticos e Familiares (Apheto), Daniele Paiva, recebe a notícia com
certa desconfiança. “Esperamos que voltem mesmo a realizar a cirurgia,
mas os números da Abto (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos)
falam por si. Tem muito tempo que eles não disponibilizam o
procedimento da forma necessária”, apontou.
A presidente da Abto disse também que não
há qualquer explicação do Estado sobre a paralisação das cirurgias ou o
baixo volume de procedimentos. “O que está acontecendo há muito tempo é
muito grave e eles não nos deram nenhum posicionamento. Fizemos
audiências cobrando a volta da cirurgia, mas não deu em nada. Lutamos
para o HU (Hospital Universitário) realizar a cirurgia, mas não tinham
infraestrutura adequada, então o transplante era feito em um hospital
particular, com recursos do SUS. O que nos sinalizaram é que deixou de
ser economicamente interessante para o hospital particular”.
Somente em São Paulo, local mais distante a realizar o procedimento, há
quatro paraibanos cadastrados na lista de espera do transplante de
fígado, segundo informações da Secretaria de Estado da Saúde.
Entretanto, a assessoria de imprensa da pasta estima que esse número
seja bem maior, tendo em vista que, por medo de não ter acesso ao
transplante, muitos paraibanos omitem o local de origem, por achar que
não terão prioridade caso respondam a verdade. Até hoje foram 12
paraibanos transplantados em São Paulo. As secretarias de Saúde de
Pernambuco e Ceará não possuíam os dados consolidados sobre os
atendimentos.
A presidente da Apheto destaca que os que
não conseguem realizar o procedimento no seu local de origem enfrentam
uma série de problemas que não deveriam acometer quem está em condições
delicadas de saúde. “Se você não tem como se mudar e se manter no
Estado, você precisa se inscrever numa lista de espera próxima, como a
de Pernambuco, que costuma ser grande. Mas ainda assim, se você é
chamado, tem que ter boa condição de saúde”, disse Daniele Paiva. JP